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Reino Unido acusa Rússia de tentar furtar dados da vacina contra o coronavírus

Várias organizações, entre elas algumas que investigam um remédio contra o vírus, foram atacadas com um 'software' malicioso para obter informações

Rafa de Miguel
Dominic Raab, ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, chega a Downing Street, em 14 de julho de 2020.
Dominic Raab, ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, chega a Downing Street, em 14 de julho de 2020.HANNAH MCKAY (Reuters)

O Governo de Boris Johnson lançou um amplo ataque contra a Rússia de Vladimir Putin nesta quinta-feira, com uma dupla acusação. O Reino Unido, os Estados Unidos e o Canadá emitiram um comunicado conjunto acusando espiões russos de tentar usurpar a propriedade intelectual dos laboratórios e universidades que trabalham no desenvolvimento de uma vacina contra o coronavírus. Downing Street, por sua vez, expressou sua certeza “quase absoluta” de que houve ingerência russa durante a campanha das eleições gerais de 2019.

“É completamente inaceitável que os serviços de inteligência da Rússia tenham como alvo aqueles que tentam combater a pandemia de coronavírus. O Reino Unido continuará a responder a esses ataques cibernéticos e trabalhará com seus aliados para levar os responsáveis por esses atos à justiça”, disse o ministro das Relações Exteriores britânico, Dominic Raab. O Governo britânico acusa o grupo conhecido como APT29, “parte da espionagem russa, com 95% de certeza”, de ter lançado uma série de ataques cibernéticos, a partir de fevereiro, direcionados às instalações que realizam a pesquisa de uma possível vacina contra a covid-19. Acredita-se que tanto a Universidade Oxford como o Imperial College de Londres tenham sido alvo dos ataques.

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O APT29, também conhecido na comunidade de hackers como The Dukes ou Cozy Bear, atua há anos. Foi vinculado aos ataques ao Partido Democrata dos EUA durante a campanha eleitoral presidencial de 2016. Os serviços de inteligência ocidentais conectam o grupo ao Serviço Federal de Segurança Federal (FSB), sob a jurisdição direta do presidente Putin.

O Centro Nacional Britânico para a Cibersegurança (NCSC, na sigla em inglês) não quis revelar o número específico de ataques, nem se foram bem-sucedidos, mas indica que eram direcionados mais à obtenção de informações sobre o progresso das pesquisas do que ao boicote dos trabalhos.

O Reino Unido mantém uma posição de destaque na corrida internacional para produzir uma vacina contra o coronavírus. A aliança da Universidade Oxford com o laboratório anglo-sueco AstraZeneca expressou otimismo sobre as perspectivas de sua pesquisa, que está em fase bastante avançada.

“O APT29 está usando um malware [do inglês malicious software, ou programa informático maligno] conhecido como WellMess e WellMail para atingir várias organizações em nível mundial. Isso inclui algumas envolvidas no desenvolvimento de uma vacina contra a covid. Até esta data, o WellMess e o WellMaill não se haviam vinculado ao APT29”, diz a declaração da NCSC, que também distribuiu um relatório a diferentes instituições para que garantam a proteção de seus sistemas de informática.

Raab, por usa vez, revelou que o Governo iniciou investigações sobre a interferência de “pessoal russo” na campanha das eleições gerais de 2019. Ele os acusa de vazar documentos confidenciais sobre as negociações comerciais entre o Reino Unido e os Estados Unidos que acabaram publicadas na Internet e usadas como arma eleitoral pela oposição trabalhista. “Com base em uma extensa análise, o Governo concluiu que é praticamente certo que russos procuraram interferir nas eleições gerais de 2019 por meio da disseminação ampla on-line de documentos governamentais adquiridos ilegalmente e posteriormente vazados” disse o ministro das Relações Exteriores em um documento enviado à Câmara dos Comuns.

O texto apareceu na plataforma Reddit e, a princípio, passou despercebido. Sua promoção contínua nas redes fez com que chamasse a atenção do Partido Trabalhista e de seu então líder e candidato, Jeremy Corbyn. Sugestões de um possível desembarque de poderosas seguradoras de saúde norte- americanas no mercado britânico, às custas do Serviço Nacional de Saúde (NHS), tão reverenciado pelos cidadãos britânicos, puseram em aperto o Governo conservador e o então candidato Boris Johnson. A intensa relação entre o político e o presidente dos EUA, Donald Trump, foi usada pela oposição para lançar dúvidas sobre o futuro do serviço de saúde pública do Reino Unido.

As informações divulgadas por Raab fazem parte de um extenso relatório sobre a ingerência da Rússia no Reino Unido, no qual a Comissão de Inteligência e Segurança do Parlamento Britânico trabalhou por mais de dois anos e cuja publicação, programada para os próximos dias, foi bloqueada pelo Governo Johnson pouco antes das eleições, em dezembro passado. A oposição trabalhista, agora liderada por Keir Starmer, mostrou sua disposição de colaborar com Downing Street para “proteger a segurança nacional”.

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