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Trump comuta a pena de prisão de seu amigo e ex-assessor Roger Stone

Consultor do presidente dos EUA, que deveria ser preso na próxima semana por mentir ao Congresso, teve contas em rede social apagadas na mesma ação que afetou assessores da família Bolsonaro

Antonia Laborde
O ex-assessor de Donald Trump, Roger Stone, em Washington.
O ex-assessor de Donald Trump, Roger Stone, em Washington.ANDREW CABALLERO-REYNOLDS (AFP)

Donald Trump comutou na sexta-feira a pena de prisão a seu veterano ex-assessor e amigo Roger Stone. O ideólogo do presidente norte-americano deveria ser preso na próxima terça e cumprir uma pena de três anos e quatro meses após ser declarado culpado de sete crimes, entre eles obstruir uma das investigações do Congresso dos Estados Unidos sobre a ingerência russa nas eleições presidenciais de 2016 e a manipulação de testemunhas. Stone informou à agência de notícias Associated Press que o mandatário republicano lhe telefonou na sexta para comunicar seu indulto, uma possibilidade que já havia insinuado quando o ex-assessor foi condenado em fevereiro.

É uma boa notícia para o ex-assessor de Trump que, nesta semana, teve 50 páginas em rede social removidas por uma operação do Facebook para reduzir a divulgação de fake news. A plataforma de disse que Stone e seus associados ― inclusive um apoiador proeminente do grupo de extrema direita Proud Boys da Flórida, estado-natal de Stone ―, usaram contas e seguidores falsos para divulgar livros e postagens, informou a Reuters.

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O Facebook agiu contra Stone no mesmo dia em que cancelou contas ligadas a assessores da família do presidente Jair Bolsonaro e de duas outras redes ligadas a operações políticas no Equador e na Ucrânia. Um total de 54 contas e 50 páginas de Facebook ligadas a Stone foram removidas por mau comportamento, incluindo a criação de contas falsas. Essa rede gastou mais de 300 mil dólares em propaganda nos últimos anos, segundo o Facebook.

Trama russa

A secretária de imprensa da Casa Branca, Kayleigh McEnany, chamou Stone de “vítima da trama da Rússia, da esquerda e seus aliados nos veículos de comunicação”. A Administração de Trump afirmou que o consultor de vários presidentes republicanos “sofreu muito” e que foi tratado de modo injusto. O mandatário publicou essa mensagem no Twitter após a notícia vir a público. Uma comutação da condenação não equivale a um perdão completo. A medida não apaga as condenações a Stone, mas o livra de ir à prisão. O amigo do mandatário de 67 anos havia pedido explicitamente que fosse perdoado através das redes sociais, alegando que sua vida correria perigo na cadeia pela pandemia de coronavírus.

Trump não havia escondido seu repúdio à condenação de Stone, de 40 meses de cadeia, e afirmou que pensava em usar o poder que lhe confere o cargo para um perdão presidencial. O mandatário norte-americano havia afirmado anteriormente que a sentença deveria ser anulada. “Não posso permitir esse erro judicial!”, escreveu meses atrás no Twitter. “Adoraria ver Roger absolvido porque pessoalmente acho que foi tratado de maneira muito injusta”, declarou em fevereiro. Stone foi fundamental na investigação da trama russa liderada pelo ex-promotor especial Robert Mueller por suas ligações com o WikiLeaks, a organização que esteve por trás do vazamento de milhares de e-mails democratas durante a campanha presidencial de 2016 vencida por Trump contra Hillary Clinton.

O promotor geral, William Barr, disse em meio à polêmica sobre Stone que os comentários de Trump contrários à declaração de culpa emitida por um júri estavam “tornando impossível” que ele realizasse seu trabalho. No começo, os promotores recomendaram que Stone cumprisse de sete a nove anos em uma prisão federal, mas Barr recusou por fim esse pedido, logo depois de uma publicação no Twitter de Trump queixando-se da dureza com a qual a Justiça estava tratando seu amigo. O promotor geral, por fim, recomendou uma punição menor, o que fez com que toda a equipe do Departamento de Justiça que estava trabalhando no caso renunciasse. Mas as autoridades que levaram o caso adiante negaram agir sob a pressão da Casa Branca.

Adam Schiff, o líder democrata do Comitê de Inteligência da Câmara dos Representantes, tuitou por sua vez que “perdoar Stone quando seus crimes foram cometidos para proteger Trump seria um ato de corrupção impressionante”. Na sexta-feira, Schiff, que conduziu no ano passado o impeachment contra Trump no Congresso por pressões à Ucrânia ― em que o presidente foi absolvido ―, foi particularmente taxativo. “Com Trump agora há nos Estados Unidos dois sistemas de Justiça: um aos amigos criminosos de Trump e outro para todo o restante”, disse o democrata, citado pela agência France Presse. Por sua vez, o chefe da bancada democrata no Senado, Chuck Schumer, criticou “um presidente sem lei que considera o Departamento de Justiça como seu brinquedo pessoal”.

Grant Smith, advogado do ex-assessor, disse que Stone se sente “incrivelmente honrado de que o presidente Trump tenha usado seu incrível e único poder sob a Constituição dos Estados Unidos para este ato de misericórdia”.

(Com informações da agência Reuters)

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