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Homem é ferido a tiros durante manifestação antirracista no Novo México

Protesto contra a estátua do colonizador espanhol Juan de Oñate deriva em um confronto com uma suposta milícia, na primeira aparição de grupos desse tipo na atual onda de tensão racial nos EUA

Polícia detém membros da suposta milícia após os disparos na manifestação de Albuquerque, no domingo.
Polícia detém membros da suposta milícia após os disparos na manifestação de Albuquerque, no domingo.Adolphe Pierre-Louis (AP)
Pablo Ximénez de Sandoval

Tiros foram ouvidos pela primeira vez na onda de protestos que percorre os Estados Unidos há um mês. Uma pequena manifestação diante da estátua de um explorador espanhol do século XVII em Albuquerque, no Novo México (sul dos EUA), derivou neste domingo em um confronto no qual um membro de uma suposta milícia armada disparou a esmo. Uma pessoa ficou ferida. O incidente, ainda confuso, foi registrado por celulares e percorreu as redes sociais. A polícia local investiga as circunstâncias, e a governadora do Novo México prometeu a máxima contundência contra seus “instigadores”.

A manifestação de Albuquerque se transformou nas últimas horas na versão mais extrema dos possíveis rumos que a situação nos EUA pode tomar. Os maciços protestos deflagrados pela morte do afro-americano George Floyd por um policial em Minnesota haviam deixado relativamente poucas cenas de violência até agora: alguns saques a estabelecimentos comerciais nos primeiros dias, algumas atuações violentas da polícia contra manifestantes e queimas de carros. A maior tragédia desde o início dos protestos, até então, foi a morte de mais um homem negro, Rayshard Brooks, por policiais brancos em Atlanta. Já o caso de Albuquerque é diferente, um enfrentamento entre civis ― no qual um homem decidiu encarar manifestantes antirracistas armado. E não agiu sozinho.

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Atlanta (United States), 14/06/2020.- Frame grab from a handout surveillance video released by the Georgia Bureau of Investigation (GBI) showing Rayshard Brooks (C) running from Atlanta Police officers (L) on 12 June seconds before he was shot and killed in Atlanta, Georgia, USA, 14 June 2020. The Georgia Bureau of Investigation (GBI) is probing the shooting death of Rayshard Brooks, 27, after a reported struggle with officers ensued during which a Taser was used late 12 June 2020. Within 24 hours of the shooting, the officer who shot Brooks, Garret Rolfe, has been fired, his partner Devin Brosnan, has been placed on leave and Atlanta Police Chief Erika Shields resigned. (Incendio, Estados Unidos) EFE/EPA/GEORGIA BUREAU OF INVESTIGATION / HANDOUT EDITORIAL USE ONLY, NO SALES
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As informações sobre o que ocorreu ainda são confusas. Algumas dezenas de pessoas se manifestavam no domingo à tarde para pedir a retirada da estátua local do espanhol Juan de Oñate. A antipatia de alguns grupos contra a estátua não é nova. Segundo o relato do Albuquerque Journal, quando a manifestação tinha alcançado a estátua uma pessoa começou a danificar a base com uma picareta. Então apareceu um grupo que se autodenomina Guarda Civil do Novo México, uma espécie de milícia armada, que enfrentou fisicamente os manifestantes.

Nos vídeos divulgados nas redes sociais se vê um homem de camiseta azul que confronta os manifestantes e num dado momento joga violentamente uma mulher no chão. Outras pessoas o perseguem e se dão conta de que está armado. Quando tentam desarmá-lo, ouvem-se quatro tiros, e as pessoas saem correndo aterrorizadas.

A vítima se chama Scott Williams. Foi atingido várias vezes no torso e se encontra em situação crítica, porém estável, segundo informou a polícia na segunda-feira à noite. As autoridades detiveram um homem chamado Steven Ray Baca, de 31 anos, como suposto autor dos disparos. A polícia concederá entrevista coletiva nesta terça-feira para dar mais detalhes sobre o caso.

A governadora do Novo México, a democrata Michelle Luján Grisham, declarou-se “sem palavras para descrever o horror e repulsa pela violência” e criticou a autointitulada milícia por acossar os manifestantes. “Serei muito clara: não há lugar no Novo México para uma suposta milícia violenta que busca aterrorizar seus cidadãos”, disse ela em nota. “Os instigadores serão erradicados, investigados e responderão por seus atos com todo o peso da lei”.

Os protestos pela brutalidade policial e o racismo institucional se estenderam às estátuas que simbolizam tempos de escravidão, como as dos líderes confederados, e se misturou nos últimos dias com o rechaço à herança espanhola. Em inúmeros lugares dos EUA as manifestações se voltam contra estátuas de Cristóvão Colombo, apontado pelos manifestantes como um símbolo de racismo e cujos monumentos públicos há anos são alvo de polêmicas. Em Albuquerque, a exploração espanhola da América do Norte é simbolizada por Juan de Oñate (nascido no México em 1550), que fundou a cidade de Santa Fé e liderou a exploração do rio Colorado no século XVII. Embora seja o fundador do Novo México, os episódios de crueldade de Oñate contra os nativos estão documentados e pesaram para que ele caísse em desgraça. Na segunda-feira, a estátua do conquistador espanhol foi retirada por razões de segurança.

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