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Ex-chefe do Pentágono Jim Mattis acusa Trump de “abuso de autoridade” e de querer dividir o país

O general de 69 anos afirma em uma carta devastadora: “É o primeiro presidente da minha vida que não tenta unir o povo americano, nem sequer o finge”

Amanda Mars
O ex-secretário de Defesa, Jim Mattis, em junho.
O ex-secretário de Defesa, Jim Mattis, em junho.Eric Vidal (REUTERS)
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O ex-secretário de Defesa Jim Mattis atacou Donald Trump na quarta-feira em uma declaração devastadora publicada pela revista The Atlantic, em que acusa o presidente dos Estados Unidos de “abuso de autoridade” por recorrer ao Exército para reprimir os protestos contra o racismo e por dispersar de forma violenta uma concentração pacífica na segunda-feira passada em frente à Casa Branca. O general Mattis, que renunciou ao cargo em dezembro de 2018 devido a divergências com Trump sobre a retirada de tropas da Síria, acusa o republicano de tentar fraturar o país e o descreve como um perigo para a Constituição. “Donald Trump é o primeiro presidente da minha vida que não tenta unir o povo americano, nem mesmo o finge. Em vez disso, tenta nos dividir”, afirma no texto.

Essa rejeição pública e frontal ocorreu poucas horas depois de seu sucessor, o atual secretário de Defesa Mark Esper, também ter se distanciado do presidente ao rejeitar por sua vez a mobilização do Exército para conter a violenta espiral desencadeada pela onda de protestos contra o racismo. Jim Mattis, de 69 anos, declarou-se “consternado e irritado” pela resposta da Casa Branca às mobilizações e alertou que “militarizar a resposta, como vimos em Washington, estabelece um falso conflito entre os militares e a sociedade civil”.

Mattis, que passou 41 anos no Corpo de Fuzileiros Navais, é um militar condecorado especializado no Oriente Médio, onde era conhecido pelos apelidos de Cão Furioso e Monge Guerreiro. Ele não havia criticado o presidente dos Estados Unidos dessa maneira tão direta e pública desde que deixou o cargo, mas na ocasião já havia apontado que o mandatário precisava de um secretário de Defesa “com pontos de vista mais alinhados aos seus”. Ele se opôs à retirada de tropas que Trump havia anunciado sem contar com os aliados. “Embora os Estados Unidos continuem sendo uma nação indispensável no mundo livre, não podemos proteger nossos interesses nem desempenhar esse papel de maneira efetiva sem manter alianças sólidas e mostrar respeito por esses aliados”, disse na carta de despedida.

Na quarta-feira ele se pronunciou da seguinte maneira: “Nunca sonhei que as tropas que prestaram o mesmo juramento que eu [de defender a Constituição] receberiam, em circunstância alguma, a ordem de violar os direitos constitucionais de seus concidadãos, e menos ainda para permitir uma oportunidade de foto estranha para o comandante em chefe eleito”, enfatizou Mattis.

Para que um presidente possa mobilizar tropas sem a aprovação dos governadores dos Estados, deve invocar a Lei da Insurreição, assinada por Thomas Jefferson em 1807 com a finalidade de evitar revoltas contra o Governo da nação. Washington é o único lugar em que Trump pôde manter sua palavra de recorrer ao Exército e na segunda-feira mobilizou um batalhão da polícia militar com um contingente entre 200 e 250 soldados.

O general Mattis também se referiu ao polêmico episódio da segunda-feira passada, quando a polícia e a Guarda Nacional ―o Exército de reservistas que depende dos Estados― dispersaram com gás lacrimogêneo uma demonstração pacífica em frente à residência presidencial, antes do toque de recolher imposto na cidade, para que Trump pudesse caminhar até a Igreja de Saint John ―atacada por vândalos na noite do domingo à noite― e posar com uma Bíblia na mão: “Sabemos que somos melhores do que o abuso da autoridade executiva que presenciamos na Praça Lafayette. Temos que rejeitar e responsabilizar aqueles que estão no poder e querem rir da nossa Constituição.”

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