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Chefe do Pentágono se distancia de Trump e rejeita envio do Exército para conter protestos

“Medidas como essa devem ser usadas apenas como último recurso e nas situações mais urgentes e extremas”, afirma Mark Esper

Amanda Mars
O secretário de Defesa dos EUA, Mark Esper, em Washington.
O secretário de Defesa dos EUA, Mark Esper, em Washington.CARLOS BARRIA (Reuters)
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8 minutos e 46 segundos: um símbolo de protesto contra o racismo nos Estados Unidos

O secretário de Defesa dos EUA, Mark Esper, distanciou-se nesta quarta-feira do presidente Donald Trump ao rejeitar o envio do Exército sem aprovação dos Estados para conter a espiral de violência desencadeada pela onda de protestos contra o racismo. “Não apoio a invocação da Lei de Insurreição”, disse Esper à imprensa. “Medidas como essa devem ser utilizadas apenas como último recurso e nas situações mais urgentes e extremas. Não estamos em uma dessas situações agora.”

Trump alertou segunda-feira que recorrerá ao Exército para conter o vandalismo se os governadores dos Estados, competentes nessa área, não conseguirem fazer isso com suas próprias forças policiais e com a utilização da Guarda Nacional, um exército de reservistas sob jurisdição estadual. Mas o chefe do Pentágono, nomeado por Trump há menos de um ano, pronunciou-se contra essa opção: “Sempre considerei que a Guarda Nacional é mais adequada para lidar com questões domésticas”, ressaltou Esper.

O presidente agitou com força a bandeira da lei e da ordem neste conflito e, com sua ameaça de usar as Forças Armadas, tropeçou, como mostra a discrepância pública de Esper. O secretário da Defesa justificou nesta quarta-feira, em entrevista coletiva, por que não havia falado até agora sobre os protestos, que começaram após a morte, em 25 de maio, do negro George Floyd em Minneapolis, durante uma brutal detenção policial. “Estamos há uma semana nisto, mais ou menos. E quando você olha para a escalada, já dura 72 horas, talvez 96. Mas acho importante falar claramente e expor o que vemos, mais uma vez, como algo estabelecido: o racismo que existe nos EUA e como o vemos como algo estabelecido”, disse.

Para que um presidente dos EUA possa mobilizar tropas dentro do país, ele precisa invocar a Lei de Insurreição, assinada por Thomas Jefferson em 1807 a fim de evitar revoltas contra o Governo da nação. Uma disposição aprovada em 1957 daria a Trump uma via legal para poder mobilizar tropas se os governadores não o obedecessem, como lembrou terça-feira o jornal The Washington Post: “Quando um presidente considera que há obstruções ilegais [...] ou rebelião contra a autoridade dos Estados Unidos e se torna impraticável o cumprimento da lei, pode convocar o serviço federal da milícia de cada Estado ou das Forças Armadas se considera isso necessário para fazer cumprir essas leis ou para suprimir a rebelião”.

O presidente Dwight D. Eisenhower recorreu à Lei de Insurreição em 1954 para escoltar as nove crianças negras que fizeram história ao frequentar uma escola só de brancos em Little Rock (Arkansas), como resultado da sentença da Suprema Corte no caso Brown x Conselho de Educação de Topeka, que acabou com a segregação racial nas escolas. Em 1992, o então presidente George H. W. Bush também enviou tropas federais a Los Angeles para conter distúrbios após a absolvição dos policiais que espancaram Rodney King, mas fez aquilo a pedido do governador da Califórnia.

Esper (Uniontown, Pensilvânia, 56 anos) é um militar da reserva com experiência no Congresso e como lobista que entrou na Administração Trump em novembro de 2017 como secretário do Exército. Foi colega de classe do atual secretário de Estado, Mike Pompeo, na academia militar de West Point, e passou uma década no serviço ativo, além de 11 anos na Guarda Nacional. Aposentou-se em 2007, condecorado como veterano da Guerra do Golfo (1990-1991), entre outras missões, e se embrenhou depois na selva do poder de Washington. Assim, foi chefe de gabinete de um conhecido think tank conservador, The Heritage Foundation, assessorou a campanha presidencial do senador republicano Fred Thompson em 2008 e participou da Comissão de Revisão de Economia e Segurança EUA-China do Senado.

Suas declarações foram feitas depois de uma nova noite de protestos nos EUA, maiores em grandes cidades como Washington e Los Angeles, mas mais pacíficos. Na capital americana, o único território do país no qual o presidente pode recorrer ao Exército sem autorização de um Governo estadual, Trump convocou um batalhão da Polícia Militar, segundo o Departamento de Defesa. Trata-se de uma unidade de entre 200 e 500 soldados procedentes de Fort Bragg, na Carolina do Norte.

Milhares de manifestantes se concentraram nas grandes cidades americanas, ignorando o toque de recolher decretado e, ainda mais, o pulso firme exibido no dia anterior por Trump. Diante da Casa Branca, onde na segunda-feira as forças de segurança haviam dispersado com gás lacrimogêneo uma manifestação pacífica, o número de pessoas mobilizadas aumentou em relação aos dias anteriores. Los Angeles também teve sua maior manifestação desta crise e, em Nova York, apesar da maior presença policial, os saques continuaram, embora com menos virulência. Também saíram às ruas moradores de Houston, Orlando e Filadélfia.

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