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Especialistas defendem OMS de críticas sobre desempenho no combate ao coronavírus

Sanitaristas argumentam que a covid-19 era uma novidade há poucos meses e insistem em que o conhecimento científico é um processo de tentativa e erro

Membros da OMS e líderes mundiais participam de assembleia virtual do órgão, na segunda.
Membros da OMS e líderes mundiais participam de assembleia virtual do órgão, na segunda.- (EL PAÍS)
Oriol Güell

“Investigações preliminares realizadas pelas autoridades chinesas não encontraram uma clara evidência de transmissão do vírus de pessoa para pessoa.” Esta mensagem, publicada em 14 de janeiro pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em sua conta do Twitter, acabou virando munição contra sua gestão da epidemia.

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AME1058. BRASILIA (BRASIL), 20/05/2020.- El presidente de Brasil, Jair Bolsonaro (2d), sale del Palacio do Alvorada este miércoles, en Brasilia (Brasil). Brasil, el tercer país con más casos de COVID-19 en el mundo, superó este martes por primera vez la barrera de las 1.000 muertes diarias de coronavirus y registró 1.179, hasta un total de 17.971 desde el inicio de la pandemia, un récord en medio de una laguna institucional en el Ministerio de Salud. Este martes el discurso de Bolsonaro en defensa de la cloroquina, que carece todavía en el mundo científico de estudios suficientes para avalar su efectividad, sufrió otro revés por parte de la comunidad médica brasileña. EFE/ Joédson Alves
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A worker delivers protective lab coats to the headquarters of Moderna Therapeutics, which is developing a vaccine against the coronavirus disease (COVID-19), in Cambridge, Massachusetts, U.S., May 18, 2020.   REUTERS/Brian Snyder     TPX IMAGES OF THE DAY
A primeira vacina experimental contra a covid-19 testada em humanos mostra resultados promissores

A informação afinal era falsa, como o mundo ficou sabendo de uma forma dolorosa, enquanto os equilíbrios da geopolítica levaram a OMS a hesitar na hora de declarar emergência sanitária internacional. Tampouco escapou aos críticos o delicado tratamento que o diretor-geral do organismo, Tedros Adhanom Ghebreyesus, sempre dispensou ao gigante asiático, com boas palavras que se mantinham apesar das sucessivas mudanças que as novidades sobre o vírus obrigavam a adotar em questões tão importantes como o uso de máscaras e os infectados assintomáticos.

“São críticas interessadas”, lamenta Fernando García Benavides, catedrático de Saúde Pública na Universidade Pompeu Fabra, de Barcelona. “Claro que a OMS se equivocou em algumas coisas, como muitos de nós. Mas utilizar isso para desqualificar um organismo necessário e que apesar de tudo tem feito um trabalho importante me parece um erro”, acrescenta.

O tuíte da OMS foi publicado quando fazia apenas uma semana que um vírus desconhecido era o responsável pelo amontoado de pneumonias surgidas em Wuhan. “Estávamos diante de algo totalmente novo. E não se deve esquecer que o conhecimento científico é um processo de tentativa e erro”, acrescenta García Benavides.

A OMS recuou sobre as máscaras em 6 de abril, quando, depois de várias semanas defendendo que não eram recomendadas para pessoas saudáveis, começou a contemplar seu uso. Também foi modificando posições sobre as restrições aos movimentos individuais. Mas, de novo, os especialistas concordam: “Mudou o mundo, como não vão mudar algumas posições dos organismos internacionais?”, questiona Daniel López Acuña, ex-diretor de Ação Sanitária em Crises da OMS.

López Acuña nem sempre aplaudiu as decisões do organismo. No fim de janeiro, criticou o fato de a OMS ter precisado de três reuniões e sete dias para decretar a emergência internacional. “Não ter feito isso na semana passada criou um vazio de autoridade sanitária internacional, que é justamente o papel que ela deve exercer. Isto permitiu que outros atores, como Governos e companhias aéreas, adotassem suas decisões de forma unilateral, o que é o pior cenário”, recriminou na ocasião.

Isso não impede que, com algumas ressalvas, continue defendendo o papel de organismos multilaterais que são o principal alvo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. “Isto é uma guerra fria, neste caso econômica e contra a China, que também vai mudando de cenário segundo o contexto. E agora este campo de batalha é a OMS”, acrescenta López Acuña, professor na Escola Andaluza de Saúde.

“Mas também existem outras críticas, neste caso estruturais, que não são novas e merecem ser ouvidas. Refiro-me a potencializar o Regulamento Sanitário Internacional para dotar a OMS de melhores ferramentas em caso de pandemia, tornar vinculantes algumas de suas decisões e dar mais peso a outras”, acrescenta. Para os especialistas, o organismo sofreu um duro golpe quando muitos países grandes resolveram ignorar suas orientações sobre o fechamento de fronteiras, entre outros pontos-chave para o combate à pandemia.

Levadas ao extremo, algumas teorias conspiratórias acusam a China de ter desenvolvido o vírus em um laboratório e consideram que a OMS ajudou o gigante asiático a ocultar este fato com seu suposto adesismo inicial e com as posteriores mudanças em suas posições. No final de abril, o diretor do laboratório de coronavírus do Centro Nacional de Biotecnologia da Espanha, Luis Enjuanes, descartava essa hipótese: “É absurda. Não se sustenta que nenhum laboratório esteja preparando um agente patogênico sem ter de antemão a vacina, porque o primeiro alvo contra o qual [o vírus] pode se voltar é esse mesmo laboratório”, observou.

Avaliação interna

Em um documento de sete páginas aprovado na segunda-feira pela assembleia geral da OMS, os países participantes se comprometem a “iniciar, assim que se der o momento propício, e em consulta com os Estados membros, um processo imparcial, independente e exaustivo de avaliação” da gestão da pandemia pelo organismo.

“É um mecanismo muito comum nos organismos da ONU”, explica López Acuña. “Isto permite escapar de possíveis vieses de uma avaliação interna. É melhor que seja externa, com especialistas reconhecidos internacionalmente que agora serão escolhidos”, acrescenta. Esse especialista considera que a abertura da investigação “é uma resposta a Donald Trump, mas não só a ele”, e que também é um bom sinal, “já que mostra que os dirigentes da OMS não estão entrincheirados, e sim abertos a uma avaliação de sua gestão”.

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