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Luís, o enfermeiro português que salvou Boris Johnson, apesar do ‘Brexit’

Desde o referendo sobre a saída do Reino Unido da UE caiu em 90% a entrada de profissionais da saúde estrangeiros no país

Boris Johnson fala na televisão após a alta do hospital.
Boris Johnson fala na televisão após a alta do hospital.PIPPA FOWLES (AFP)

Neste domingo, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, abatido e com olheiras, reconheceu que estava indo para Downing Street e não para outro local graças, entre outros, a uma enfermeira da Nova Zelândia e um enfermeiro português, “Luis, de perto do Porto”, que cuidaram dele a cada segundo da noite durante sua hospitalização por causa do coronavírus.

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Luis, o Português, está no Reino Unido desde 2014. É um dos muitos enfermeiros portugueses que emigraram para solo britânico neste século em busca de maior reconhecimento profissional e melhor salário; recebe cerca de quatro vezes o que ganhava em Portugal.

Luís Pitarma, seu nome completo, nasceu há 29 anos em Aveiro, chamada de Veneza portuguesa por causa dos canais de seus estuários. Aos 18 anos, mudou-se para Lisboa para estudar enfermagem e, mais tarde, recebeu uma bolsa Erasmus em Lahti (Finlândia), segundo seu perfil no LinkedIn.

Mas sua vida profissional começou na Inglaterra, onde vive desde 2014. De acordo com o jornal Observer, trabalhou primeiro no Hospital Luton, cerca de 50 quilômetros ao norte de Londres, onde já se destacava. Ficou em segundo lugar em um prêmio dado aos enfermeiros mais promissores. De Luton mudou para outro hospital de serviço público, o Saint Thomas, no centro da capital britânica.

Desde maio de 2016, um mês antes de os britânicos aprovarem o Brexit em um referendo, Luís Pitarma trabalha na unidade de terapia intensiva desse centro hospitalar de Londres. Faz parte do Programa de Oxigenação por Membrana Extracorpórea (ECMO), um sistema para fornecer oxigênio ao coração e pulmões em pacientes com dificuldades respiratórias. Boris Johnson chegou com esses problemas na quinta-feira.

Não foi um acaso ser atendido por um português porque profissionais dessa nacionalidade são abundantes nos hospitais públicos britânicos. No ano do Brexit, o Conselho Britânico de Enfermagem e Obstetrícia tinha 1.064 profissionais de saúde portugueses registrados. Desde o referendo, os novos registros caíram 85% por ano. A tendência geral também é de queda em profissionais de outros países, entre os quais há redução de até 90%.

Nas redes sociais choveram mensagens de felicitações para Pitarma, incluindo a do presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, que telefonou para ele e posteriormente publicou uma declaração oficial para agradecer a “todos os profissionais de saúde portugueses que em Portugal e em todo o mundo, prestam ajuda decisiva para combater a pandemia”.

Mas Luís Pitarma e sua colega de trabalho nova zelandesa ficaram com a fama de ter salvado Boris Johnson: “Espero que [os demais profissionais] não se importem de eu mencionar dois enfermeiros em particular que estiveram a meu lado por 48 horas quando as coisas poderiam ter tomado uma direção diferente. São Jeny, da Nova Zelândia, (...) e Luís, de Portugal, de perto do Porto. O motivo de o meu corpo começar a receber oxigênio suficiente foi porque eles ficaram de olho em mim a cada segundo durante a noite e porque estavam preocupados em fazer tudo o que eu precisava.” Com o Brexit em vigor, quem teria cuidado de Boris Johnson?

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