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Com menos infectados que o Brasil, Colômbia, Peru e Argentina restringem entrada de estrangeiros

Há 34 colombianos infectados com coronavírus, pouco mais de 50 argentinos, e 71 peruanos, contra 200 no Brasil, onde o Governo não anunciou nenhuma medida de restrição a quem vem do exterior

Viajantes no aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires, no dia 13 de março.
Viajantes no aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires, no dia 13 de março.Marcos Brindicci (AP)
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AME8495. SAO PAULO (BRASIL), 27/02/2020.- Pasajeros usan máscaras como precaución contra la propagación del nuevo coronavirus COVID-19 durante su llegada, este jueves, al Aeropuerto Internacional de Sao Paulo (Brasil). El coronavirus llegó a América Latina a través de Brasil, cuyo Gobierno confirmó este miércoles el primer caso en el país y que también supone el primero en la única región que hasta ahora permanecía ajena a esa enfermedad. EFE/ Sebastião Moreira
Sobe para 200 o número de casos de coronavírus no Brasil
Electoral workers assist voters at a polling station during the first round of mayoral elections, in Paris, as France grapples with an outbreak of coronavirus (COVID-19) spread, March 15, 2020. REUTERS/Benoit Tessier
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A crise mundial do coronavírus (Covid-19) fez países vizinhos ao Brasil – e com número de infectados muito menor — tomarem medidas radicais sobre o acesso de estrangeiros para se prevenir de contágios externos. O Governo da Colômbia, por exemplo, que contava neste final de semana com 34 casos confirmados, decidiu restringir a partir desta segunda-feira a entrada em seu território de todos os cidadãos estrangeiros que não sejam residentes no país, como parte das medidas para conter a propagação do coronavírus, anunciou o presidente Iván Duque neste domingo. “Todos os passageiros colombianos e residentes estrangeiros” no país, explicou o mandatário, deverão se submeter a isolamento preventivo obrigatório durante 14 dias, conforme determinação anterior das autoridades. À noite, os presidentes da Argentina e Peru fizeram anúncios semelhantes. Além de fecharem suas fronteiras, os Governos determinaram a suspensão das aulas em todas as escolas e de espetáculos com grande afluência de público.

Os anúncios de novas ações para conter o contágio pelo SARS-CoV-2, o coronavírus que causa a Covid-19, avançam a um ritmo vertiginoso. A medida anunciada pela Colômbia estende a todos os estrangeiros o anúncio da noite da sexta-feira, quando o Executivo ordenou restrições à entrada de quem tivesse visitado a Europa e a Ásia nas duas semanas anteriores. Em 9 dias transcorridos desde que o primeiro exame positivo foi confirmado no país, em 6 de março, o número total de casos já chega a 34, segundo o balanço do ministério da Saúde divulgado na manhã de domingo.

“Devido às últimas notícias, não só dos novos casos surgidos na Colômbia, e sim do que aconteceu em outros países onde os casos aumentaram de maneira substancial (…), o Governo Nacional decidiu ampliar essa medida a qualquer estrangeiro proveniente de qualquer país do mundo”, detalhou a ministra do Transporte, Ángela María Orozco, em entrevista coletiva. “É muito complexo identificar neste momento qual país está livre da cadeia [de contágio] e que não está”, acrescentou. Além de colombianos e estrangeiros residentes na Colômbia, as exceções incluem as missões diplomáticas.

O Governo também fechou desde sábado todos os acessos fronteiriços à Venezuela, “como medida de precaução perante a situação que está se dando também no país vizinho”, anunciou Duque em seu breve pronunciamento televisivo de sexta-feira, após uma jornada de reuniões com sua equipe. Durante as semanas de preparativos para manter a pandemia sob controle, uma das maiores preocupações das autoridades colombianas foi o impacto do fluxo migratório desordenado ao longo de uma porosa fronteira de mais de 2.200 quilômetros com um vizinho que sofreu o colapso de seu sistema de saúde. Com mais de 1,7 milhão de imigrantes em seu território, a Colômbia é de longe o principal país de acolhida do êxodo venezuelano e uma rota de trânsito para outros lugares do continente.

Duque até agora mantém aberto o outro grande acesso terrestre, a fronteira com o Equador, mas planejava redobrar os controles migratórios. O mandatário declarou na quinta-feira situação de emergência sanitária no país como parte da fase de contenção da pandemia, o que permitiu ao Governo adotar medidas como cancelar todos os eventos com grande público, suspender o desembarque de cruzeiros e fomentar o teletrabalho.

Em outra nova medida, Duque anunciou no final da tarde de domingo que a partir de segunda-feira os estudantes de instituições educacionais públicas “não terão mais aulas presenciais para proteger a saúde de todos”. Durante a próxima semana, informou, os professores e diretores prepararão “planos e metodologias não presenciais de estudo, para serem desenvolvidos pelos estudantes a partir de suas casas”. O período de férias será antecipado para entre 30 de março e 20 de abril, quando se decidirá se o resto do calendário acadêmico será presencial ou virtual, “levando-se em conta a evolução de coronavírus no país”. Várias instituições privadas, tanto colégios como universidades, já tinham decidido suspender as aulas presenciais a partir de segunda-feira.

A Argentina se fecha

O Governo de Alberto Fernández também radicalizou as medidas de prevenção na Argentina, onde estão um pouco mais de 50 infectados, e onde já foram registradas duas mortes pelo coronavírus. Numa entrevista coletiva na residência oficial de Olivos, onde se reuniu com ministros, governadores e sanitaristas, o presidente anunciou que nenhum estrangeiro poderá entrar no país, seja por ar ou por terra, durante os próximos 15 dias. “Fazemos isso porque o coronavírus não vem só da Europa e está começando a afetar os países limítrofes e a nós mesmos. Devemos tratar de que demore o mais possível para se transformar em um vírus nativo, para ganhar tempo e administrar a questão sanitária e da saúde”, disse. A limitação não alcança os cidadãos argentinos ou estrangeiros residentes que queiram retornar ao país.

A Argentina já tinha imposto uma quarentena de 14 dias a todas as pessoas que ingressassem de países considerados de risco, como Estados Unidos, China, Espanha, Itália e França. Sua adoção, entretanto, foi um problema. Neste domingo, a polícia expulsou 270 turistas que se negaram a acatar a quarentena. Deles, 90 estavam em um hotel de luxo do centro de Buenos Aires, e os demais retornaram à origem assim que pousaram no aeroporto internacional de Ezeiza.

Para diminuir o movimento de pessoas, o Governo anunciou também a suspensão das aulas em todos os colégios primários e secundários, tanto públicos como privados, até 31 de março. Decidiu também dar licença a todos os trabalhadores maiores de 60 anos e suspender “as aglomerações, sejam esportivas, recreativas, turísticas ou de qualquer outro tipo”.

Fernández fez esses anúncios acompanhado pelo governador da província de Buenos Aires, o kirchnerista Axel Kicillof, e pelo prefeito da capital, o opositor macrista Horacio Rodríguez Larreta. Foi uma foto de unidade política num momento de especial complexidade para a Argentina. O Governo ainda reluta em decretar uma quarentena obrigatória e o fechamento de comércios não essenciais, porque deve buscar um equilíbrio entre as necessidades epidemiológicas e a crítica situação econômica do país. “Não podemos paralisar a economia, porque pode ser ainda pior”, advertiu Fernández, antecipando que nesta segunda-feira anunciará medidas para paliar o impacto econômico da crise. A Argentina apresenta 56 casos confirmados de coronavírus, 11 dos quais detectados neste domingo.

Peru também fecha as fronteiras

O presidente peruano, Martín Vizcarra, decretou na noite deste domingo estado de emergência nacional, o que inclui o fechamento total da fronteira e o isolamento obrigatório por duas semanas. As autoridades sanitárias do país sul-americano notificaram o primeiro caso positivo em 6 de março. Nove dias depois foram relatados 71, sendo 58 em Lima. O Peru registra uma das maiores cifras de contágio entre os países sul-americanos e asiáticos, informou o médico e pesquisador Paul Pachas, do Instituto Nacional de Saúde (INS). O pneumologista Gonzalo Gianella explicou ao EL PAÍS que isto não necessariamente significa uma expansão mais rápida. A cifra poderia se dever “a que o único laboratório que processa as amostras tem trabalho acumulado”, segundo o médico.

O Governo peruano determinou que podem circular livremente apenas as pessoas ligadas a atendimentos e acesso a bens essenciais, e disse que as cadeias de produção e abastecimento de mantimentos e energia estão garantidos. Vizcarra esclareceu que, embora o transporte internacional aéreo, marítimo e terrestre de passageiros esteja suspenso, mantém-se o de mercadorias e cargas.

“O que preocupa é que nossa capacidade no Peru se limita a um laboratório. O Equador, por exemplo, tem mais de 15. Devemos exigir isso”, acrescenta o médico Gianella. Na sexta-feira, o primeiro-ministro Vicente Zeballos anunciou que nos próximos dias serão abertos laboratórios em nove cidades do Peru. Prevê-se que em Cusco, a região onde fica a maior atração turística do país, a cidadela inca de Machu Picchu, um centro de descarte do Covid-19 comece a operar na segunda-feira.

Chile suspende as aulas

O Governo do Chile anunciou que a partir desta segunda-feira serão suspensas as aulas de todos os estabelecimentos educacionais do país por duas semanas, empurrado pela decisão da associação de prefeitos de aplicar a medida. As universidades, por sua vez, se anteciparam ao Executivo de Sebastián Piñera ao suspenderem suas atividades e apostarem no teletrabalho.

Com 75 contagiados confirmados e nenhum morto, Piñera anunciou neste domingo uma bateria de medidas para tentar fazer frente à pandemia. Foram anunciadas restrições para asilos de idosos e benefícios carcerários para este grupo de maior risco: um projeto de lei para substituir a pena de privação de liberdade por prisão domiciliar total para todos os maiores de 75 anos e para quem tenha entre 65 e 74 e falte menos de um ano para o final da pena.

Piñera anunciou também restrições aos cruzeiros: a partir deste domingo e até 30 de setembro, está proibido fazer escala em todos os portos chilenos. Caleta Tortel, no sul do país, é um povoado que se encontra em quarentena depois que um passageiro infectado e toda a tripulação desembarcaram na localidade e interagiram com a população, incluindo crianças e jovens estudantes.

As informações são de Rocío Montes, de Santiago.

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