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Itália amplia isolamento a todo o país para frear o coronavírus. Madri suspende aulas para 1,5 milhão

Deslocamentos ficam proibidos dentro do território italiano, a não ser por motivos justificados de trabalho ou saúde

Agentes da polícia e soldados revistam passageiros em um posto de controle na estação central de Milão.
Agentes da polícia e soldados revistam passageiros em um posto de controle na estação central de Milão.Antonio Calanni (AP)

A Itália deu um passo sem precedentes na Europa nesta segunda-feira para conter o coronavírus de Wuhan, que pôs em xeque a economia mundial e os sistemas de saúde em dezenas de países. Seu primeiro-ministro, Giuseppe Conte, anunciou na noite desta segunda-feira que todo o país ficará em situação de isolamento, assim como já estavam a Lombardia e outras 14 províncias do norte. Os deslocamentos estão proibidos em todo o território e só será permitido viajar dentro da Itália por motivos justificados de trabalho, por questões de saúde ou por outras razões de urgência devidamente comprovadas. Ante a vertiginosa ascensão dos contágios —que nesta segunda-feira abrangiam 9.172 pessoas, das quais 463 morreram e 724 foram curadas—, “estamos ficando sem tempo”, disse Conte. Ele declarou que o lema a transmitir aos cidadãos é “eu fico em casa”. O primeiro-ministro também anunciou a prorrogação da suspensão da atividade didática nas escolas e universidades até pelo menos 3 de abril.

Na Espanha, o cenário da epidemia de coronavírus também mudou. Com mais de 1.200 casos ―o dobro do dia anterior— os hospitais de Madri estão sobrecarregados, e alguns saturados. Há pelo menos 74 pessoas em UTIs e já se contabilizam 30 mortes. Por isso, o Governo decidiu impor medidas de isolamento social nas áreas de “alta transmissão”: Madri, com 577 positivos confirmados, e Álava, que concentra 122 dos 149 no País Basco. A nova fase é “contenção reforçada”. As aulas de todos os níveis educativos foram canceladas, desde a pré-escola até universidade, afetando 1,5 milhão de alunos.

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Na Itália, a notícia do isolamento que abarca o país todo chegou no dia em que os 16 milhões de pessoas que vivem nas áreas de isolamento começavam a assimilar que, nas próximas duas semanas, suas vidas e seus costumes sociais mudariam por completo. Agora, também no restante do país a população terá que se acostumar aos controles que a polícia e o Exército já implementaram no norte para permitir deslocamentos somente de quem tiver um motivo justificado. As autoridades insistem que a colaboração dos cidadãos e a manutenção de comportamentos responsáveis ​​são essenciais para diminuir o ritmo dos contágios e evitar o colapso de um sistema de saúde já no limite.

Antes da entrada em vigor do decreto, muitos aproveitaram a oportunidade para deixar as zonas de isolamento às pressas, por medo de ficarem sem poder sair, e houve quem chegasse a pagar 1.200 euros (5.400 reais) a um táxi para ser levado a Roma, como disse ao jornal La Repubblica um taxista que no sábado à noite dirigiu por seis horas para conduzir uma jovem de volta para casa na capital italiana.

O alarme original se transformou pouco a pouco em resignação. “Acho que durante todo esse tempo subestimamos a gravidade da situação”, conta por telefone Michele Lafrancesco, de Monza-Brianza, a 30 quilômetros de Milão. Ele é da equipe de atendentes em uma residência de idosos e nesta segunda-feira, “felizmente”, diz, era seu dia de folga. “Tinha medo de não poder ir trabalhar porque tenho que sair da minha província, mas logo entendemos que, por motivos de trabalho, poderemos nos mover”, diz ele. “É preferível ouvir os especialistas e ficar em casa, sair apenas pelo essencial”, acrescenta.

Blindar a Lombardia, cuja capital, Milão, é o principal motor econômico do país, com cerca de um quinto do PIB nacional, era a decisão que ninguém queria tomar. Para limitar o impacto, tanto na estrutura empresarial da região como na vida cotidiana, as autoridades permitem a livre circulação de mercadorias e alguns tipos de deslocamentos, como os motivados por trabalho ou saúde, e para retornar ao local de residência. Será preciso ver agora como será no restante do país.

Assinar um documento

Seguindo as ordens do Ministério do Interior, quem precisa sair ou entrar nas áreas em isolamento deverá assinar um documento explicando o motivo de força pelo qual deve viajar. A polícia poderá checar a veracidade das informações, se considerar oportuno, pedindo mais documentos. Na estação central de Milão, desde o início da madrugada desta segunda-feira o Exército estabeleceu dois controles para verificar a documentação de todos os viajantes: um para aqueles que iam aos trens com destino ao sul e outro para os trens regionais. Entre os passageiros que chegavam à estação, a polícia ferroviária realizou verificações aleatórias. As longas filas entre máscaras e certificados marcaram as imagens do dia.

Nesta segunda-feira, o modelo de autodeclaração difundido pelo ministério circulava pela maioria dos chats do WhatsApp no ​​norte. "Não sabemos se sempre precisaremos levá-lo, mas, por precaução, é melhor fazer isso", diz Nicola, por telefone, de Urbino, outra área isolada na região de Marcas (Marche, em italiano). Na sua área, no primeiro dia das restrições só foi instalado um controle, na estrada na altura da divisa com a Úmbria. “É a artéria principal, na qual se concentra a maior parte do tráfego", explica ele.

No final da tarde, no entanto, não havia nada na divisa com a região da Toscana. “A cidade está estranhamente vazia”, ​​contou, por telefone. E informa que as farmácias criaram um sistema de entrega em domicílio de medicamentos para as pessoas mais vulneráveis, como os idosos que vivem sozinhos ou pessoas com deficiências físicas.




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