_
_
_
_
_

Uribismo pede que Colômbia expulse órgão de direitos humanos da ONU

Tensão eclodiu após relatório sobre a violência no país apresentado pela alta comissária Bachelet

Catalina Oquendo
O presidente da Colômbia, Iván Duque
O presidente da Colômbia, Iván DuquePRESIDENCIA DE COLOMBIA / EFRAÍN (Europa Press)

O relatório apresentado na semana passada pela alta comissária de Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, sobre a grave situação de violência na Colômbia fez eclodir a tensão entre o Governo de Iván Duque e o sistema da ONU. A ala mais radical da direita, agrupada em torno do ex-presidente Álvaro Uribe, pediu a expulsão dos funcionários do alto comissariado e redobrou os ataques às Nações Unidas.

Mais informações
Por que a Colômbia se incendiou?
El comandante de las FARC, Iván Márquez, lee un comunicado en La Habana.
Ex-líder dissidente das FARC anuncia retomada à luta armada na Colômbia
El coche en el que fue acribillada Karina García, candidata a la alcaldía de Suárez, en el Cauca.
Grupos armados ameaçam um terço dos municípios da Colômbia durante eleição

Assim que o relatório foi divulgado, o presidente o acusou de ser “uma intromissão na soberania da Colômbia”. Num um ato coordenado de resposta, seu ministro de Defesa e o encarregado da área de Estabilização e Legalidade criticaram o relatório ao tachá-lo de “impreciso” e “descuidado" e acusá-lo de “extrapolar o mandato assinado pelo Governo com o alto comissariado de Direitos Humanos”. Os membros do partido de Duque se uniram às críticas. “O presidente deveria rever a relação da Colômbia com a ONU e fechar esse escritório da alta comissária de Direitos Humanos, transformada em guarida politiqueira com viés ideológico passional. Aqui temos Ministério Público, Defensoria do Povo e Conselho de Direitos Humanos”, afirmou Ernesto Macías, ex-presidente do Senado. Sua solicitação se espalhou nas redes sociais, onde uribistas promovem a etiqueta #ONUforadaColômbia. O ex-presidente Álvaro Uribe afirmou que o relatório é “injusto” e que “sem se propor a isso, estimula a ação dos assassinos”.

O relatório traça um brutal panorama da situação de direitos humanos durante 2019, em que se evidencia o retorno de práticas como as chacinas ―36, maior cifra desde 2014—, bem como o assassinato de líderes sociais e a suposta participação de membros das forças militares em ações ilegais, como torturas. Mas, além disso, recomenda uma transformação do Esquadrão Móvel Antimotins (ESMAD), e que a supervisão dessa força de choque passe da Polícia para o Ministério do Interior. Este último foi um dos pontos que mais incomodaram Duque. “Isso cabe às autoridades colombianas no marco da institucionalidade colombiana”, disse o mandatário, que no domingo tentava reduzir a voltagem dessa tensão. “Mantemos uma relação respeitosa com a ONU, e além disso voltada para os projetos na Colômbia”, afirmou.

Mas a polêmica se estendeu a outras áreas. Durante o fim de semana, o relator da ONU Michel Forst denunciou que o Governo o proibiu de entrar no país para finalizar um relatório sobre defensores de direitos humanos, a ser apresentado nesta quarta-feira em Genebra. “Queriam apagar por completo meu relatório”, denunciou ele aos meios de comunicação. Diante das suas declarações, o assessor presidencial para a Estabilização e a Consolidação, Emilio Archila, disse que não houve “nem vetos nem atropelos”, e sobre o caso do alto comissariado de Direitos Humanos insistiu em que o documento assinado por Bachelet “apresentava omissões de informação” que “não ajudam a construir paz”.

Embora em Governos anteriores também tenha havido mal estar com os relatórios, a relação com o sistema das Nações Unidas se mantinha cordial. Sobre a polêmica, a Missão de Verificação da ONU na Colômbia divulgou um comunicado em que ratifica a cooperação que mantém com o país há seis décadas e seu ânimo colaborativo. “Nossos relatórios oferecem recomendações construtivas a partir de diferentes perspectivas, sempre com o propósito de contribuir para o desenvolvimento sustentável e a construção da paz no país”.

Esta não é a única frente aberta na disputa com as agências da ONU, apenas a mais sonora. Há poucos dias, o Governo cancelou um convênio de assessoria técnica com o Escritório das Nações Unidas para a Droga e o Delito (UNODC) voltado para a substituição de cultivos ilícitos, o que, de acordo com seu ex-diretor, demonstra “o desprezo” do Governo pela decisão de camponeses de participarem voluntariamente da erradicação das plantações de coca.


Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_