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Dois mortos colocam a Itália em alerta contra o coronavírus

Os primeiros contágios na região da Lombardia e Vêneto levantam dúvidas sobre algumas das bases até agora estabelecidas para a transmissão da doença

Daniel Verdú
Funcionários do hospital de Codogno (Itália).
Funcionários do hospital de Codogno (Itália).Maurizio maule (efe)

A morte de uma mulher neste sábado elevou o número de vítimas do coronavírus na Itália. Na sexta-feira, um homem de 78 anos morreu em um hospital em Pádua, na região de Veneto. A escalada das pessoas afetadas forçou o Governo a admitir a seriedade da situação. Segundo relatos da imprensa italiana, já são cerca de 50 os casos positivos de coronavírus no país, a maioria na Lombardia, incluindo parentes do homem falecido, e os demais na região de Veneto.

O aumento no número de pacientes levou a quarentena obrigatória de cerca de 250 pessoas e ao isolamento de 10 cidades vizinhas da Lombardia, que totalizam cerca de 47.500 habitantes. O ministro da Saúde, Roberto Speranza, anunciou que em breve serão adotadas novas medidas restritivas também em Veneto.

O governo regional da Lombardia forçou o fechamento de todos os estabelecimentos públicos (lojas, escolas, prédios administrativos) e recomendou que os moradores não deixassem suas casas nos próximos dias. O alarme médico foi dado também por não estar claro o foco do contágio nem o vínculo epidemiológico que permitiria isolar a doença. Esses casos somam os outros três já conhecidos, dois turistas chineses e um italiano repatriado de Wuhan, que estão hospitalizados em Roma.

“É necessário isolar imediatamente as áreas onde o vírus se espalhou, para contê-lo”, explicou o comissário da Defesa Civil da Lombardia, Pietro Foroni. “Não devemos semear o pânico, mas precisamos fazer as pessoas entenderem que as medidas tomadas são essenciais para o bem da comunidade", disse o presidente da Lombardia, Attilio Fontana. O ministro da Saúde, Roberto Speranza, e o chefe da Agência Nacional de Defesa Civil, Angelo Borrelli, foram à Lombardia na tarde desta sexta-feira para realizar uma reunião de crise com as autoridades locais.

No final da noite de sexta-feira, o governador da região de Veneto, Luca Zaia, confirmou à agência italiana Ansa o primeiro morto pela doença na Itália. Adirano Trevisan, um septuagenário com três filhos e ex-proprietário de uma pequena empresa, que havia sido internado no hospital em Schiavonia por outra doença há cerca de 10 dias. Ele é o segundo morto na Europa pelo coronavírus após a morte na semana passada, na França, de um turista chinês de 80 anos que esteve hospitalizado em Paris por várias semanas. O governador anunciou medidas emergenciais, incluindo o fechamento do hospital de Schiavonia: “Ninguém poderá entrar [no centro médico]. Pacientes hospitalizados não receberão alta antes de serem testados”.

O agente do FBI Doug Matthews na série 'McMillions'.
O agente do FBI Doug Matthews na série 'McMillions'.

O primeiro caso detectado foi o de um italiano de 38 anos de Castiglione d’Adda. O paciente foi hospitalizado na quarta-feira, mas, num primeiro momento, não se estabeleceu uma conexão óbvia com a China e os médicos descartaram que os sintomas pudessem estar relacionados à doença. Quando sua situação piorou e ele teve que ser transferido para a unidade de terapia intensiva, sua mulher deu o alerta que ativou o protocolo: o homem havia se encontrado várias vezes com um amigo que tinha voltado recentemente da China. Mas a pista era mais desconcertante.

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A bus carrying the passengers from the quarantined Diamond Princess cruise ship prepares to leave a port in Yokohama, near Tokyo, Thursday, Feb. 20, 2020. The cruise ship started letting passengers who tested negative for the virus leave the ship Wednesday. Test results are still pending for some people on board. (AP Photo/Eugene Hoshiko)
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Os encontros entre os dois ocorreram muitos dias depois do retorno do homem do país asiático. Mais do que os 14 dias em que se estabeleceu a duração do processo de incubação, período que pode ocultar os sintomas. Além disso, quando se examinou o potencial portador do vírus, os testes deram negativo. O homem ainda continua hospitalizado para novos exames, mas nunca teve nenhum sintoma e, se realmente contraiu o vírus, sua infecção já pode ter acabado, sugeriram as autoridades sanitárias. O pior dos cenários, e, portanto, a causa do alarme na região é que o elo epidemiológico tenha sido perdido.

A mulher do paciente, que está grávida de oito meses, foi uma das que tiveram resultado positivo no teste de coronavírus, assim como um homem que havia praticado esporte com o marido dela. Os demais infectados não tiveram, em princípio, contato direto com o homem de 38 anos. São três clientes de um bar em Codogno, o principal foco de contágio na Lombardia. Todos chegaram entre quinta e sexta-feira à noite no hospital dessa cidade com quadro preocupante de pneumonia, o que permitiu detectar os positivos. “Os pacientes são homens e mulheres, todos com cerca de 40 anos. O único elemento que conhecemos é que todos vivem na mesma área", disse a princípio o conselheiro regional da Saúde, Giulio Gallera. No entanto, outras oito pessoas na Lombardia se somaram à lista de infecções, incluindo cinco médicos e três pacientes do hospital de Codogno, onde foram tratadas as primeiras pessoas que contraíram o vírus.

O entorno do primeiro homem contagiado foi isolado. O paciente trabalha em uma filial italiana da Unilever, enquanto o amigo que fez a viagem à China é um gerente da MAE, uma fábrica italiana de fibras sintéticas. Entre as pessoas que precisam ficar em quarentena estão os colegas de trabalho desse homem de 38 anos, seus parentes e os médicos e enfermeiras que o atenderam no hospital. A sala de emergência que tratou inicialmente o homem de 38 anos foi fechada.

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