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Um vídeo sexual precipita a queda do candidato de Macron à prefeitura de Paris

Benjamin Griveaux, membro do círculo próximo ao presidente francês, abandona a campanha para as municipais de março

Marc Bassets
Griveaux e Macron, no Eliseu, em 2017.
Griveaux e Macron, no Eliseu, em 2017.Etienne Laurent (AP)

Um novo revés complica o inverno político do presidente francês, Emmanuel Macron. Benjamin Griveaux, candidato de seu partido, A República em Marcha (LREM), nas eleições municipais de Paris e membro do círculo mais próximo de Macron desde que este se lançou à corrida presidencial, em 2016, anunciou nesta sexta-feira sua saída da disputa pela prefeitura da capital francesa. Um vídeo de sexo, não confirmado, no qual aparentemente o próprio Griveaux aparece, é o gatilho de uma crise que dinamita a já frágil estratégia do presidente para as eleições municipais.

“Não desejo expor ainda mais a minha família e a mim, quando todos os golpes estão permitidos. Isto vai longe demais", disse Griveaux à agência France Presse, à qual denunciou ter sido vítima de “ataques ignóbeis”. “Esta decisão me custa muito, mas minhas prioridades são claras. Primeiro, minha família”, acrescentou.

A condenação do vazamento foi unânime na classe política. “Faço um chamado ao respeito pela vida privada das pessoas e das famílias também”, reagiu a prefeita de Paris, a socialista Anne Hidalgo. “Não é digno do debate democrático que poderíamos ter”, lamentou, referindo-se ao vazamento de imagens privadas de seu rival na campanha. “Insubmissos, não participem de forma alguma do ajuste de contas de que Benjamin Griveaux é alvo”, insistiu o líder do partido França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, em uma mensagem na rede social Twitter. “A publicação de imagens íntimas para destruir o adversário é odiosa. Rechacemos o naufrágio voyeurista da vida pública no país. Não, não são permitidos todos os golpes”, acrescentou.

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Stanislas Guérini, delegado geral do LREM, elogiou Griveaux por “colocar o coletivo acima de sua pessoa” e anunciou a abertura de uma reflexão para continuar a campanha. Entre os nomes que emergem estão o da atual ministra da Igualdade, Marlène Schiappa, e o da ministra da Saúde, Agnès Buzyn.

Griveaux, de 42 anos, deputado pelo A República em Marcha e ex-porta-voz do Governo, era o candidato desse partido em Paris para as municipais, marcadas para 15 e 22 de março. Egresso da ala liberal do Partido Socialista e ex-colaborador de Dominique Strauss-Kahn –o candidato presidencial que caiu em desgraça quando foi denunciado por agressão sexual em um hotel em Nova York em 2011–, ele vinha cortejando o voto conservador parisiense na campanha.

Griveaux também se deparou com um obstáculo imprevisto: a candidatura alternativa em Paris de outro deputado do LREM, o matemático Cédric Villani. Macron se posicionou no final de janeiro em favor de seu amigo Griveaux e, depois de desobedecer ao líder, Villani acabou sendo expulso do partido.

Estava feito o estrago para os macronistas: a divisão dos votos entre o governista Griveaux e o dissidente Villani consolidou Hidalgo como favorita. E afastou o sonho dos macronistas de conquistar a joia mais preciosa nestas eleições: a capital da França que, além de tudo, é um bastião do LREM. Macron venceu em Paris com folga em em todas as eleições que ele ou seu partido disputaram desde 2017. A saída de Griveaux ainda levanta mais dúvidas sobre a estratégia do partido presidencial nestas eleições. Sua candidatura ocupou a terceira posição nas pesquisas mais recentes, com a expectativa de obter 16% dos votos, atrás da conservadora Rachida Dati, com 20%, e da socialista Hidalgo, com 23%.

Os rumores sobre o vídeo privado começaram a circular na quinta-feira à tarde, com o impulso nas redes sociais, entre outros, do deputado Joachim Son-Forget, expulso há alguns meses do LREM por suas repetidas saídas de tom e autoproclamado nesta semana, em um programa de televisão de grande audiência, candidato às presidenciais de 2022.

Le Monde explica que as imagens e outras mensagens divulgadas foram enviadas em maio de 2018, quando Grivaux era porta-voz do Governo, e que a destinatária foi uma mulher que não era sua esposa. “Eram diálogos entre adultos que estavam em acordo. Nada ilegal”, diz uma fonte próxima ao político.

Piotr Pavlenski, um artista russo refugiado na França e condenado em 2019 a um ano de prisão por incendiar uma sede do Banco da França, assumiu a difusão do vídeo. Em declarações ao jornal Libération, ele afirmou que seu objetivo era denunciar o que considera “hipocrisia” de políticos que defendem em público os “valores da família” e, em particular, “fazem o contrário”. Juan Branco, um ativista próximo aos coletes amarelos e advogado de Julian Assange, explicou a Le Point que Pavlenski o havia consultado antes de divulgar as mensagens. “Entendi que, para ele, era um ato político”, disse.

Macron superou uma das greves mais longas da história recente da França e a taxa de desemprego caiu para o nível mais baixo desde 2008. Mas a economia continua a crescer em ritmo lento –no quarto trimestre de 2019 se contraiu– e, embora a controversa reforma previdenciária esteja na Assembléia Nacional, controlada pelo LREM, o embate não acabou. Nas últimas semanas, o chefe de Estado enfrentou vários reveses, desde decisões adversas do Conselho de Estado até o descontentamento de uma parte do grupo parlamentar.

No caso Griveaux se mescla a sensação de ser invulnerável, de uma parte das elites francesas, com um debate sobre a privacidade das comunicações eletrônicas e a capacidade de destruir carreiras por vazamentos. Griveaux é o segundo colaborador estreito de Macron a cair em desgraça. O primeiro foi Alexandre Benalla, seu guarda-costas de confiança, afastado em 2018, depois da divulgação de um vídeo em que agredia manifestantes durante o 1º de maio. Benalla e Son-Forget estão há alguns dias exibindo em público sua afinidade política.

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