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Trump demite dois altos funcionários que testemunharam contra ele no impeachment

Alexander Vindman, do Conselho de Segurança Nacional, desafiou a polêmica ordem de silêncio, e Gordon Sondland, embaixador dos EUA, afirmou que houve ‘quid pro quo’ na trama

O coronel Alexander Vindman e o embaixador dos EUA para a União Europeia, Gordon Sondland.
O coronel Alexander Vindman e o embaixador dos EUA para a União Europeia, Gordon Sondland.Reuters
Pablo Guimón

Testemunhar contra Donald Trump sai caro. É o que puderam comprovar na carne o tenente-coronel Alexander Vindman, testemunha central na investigação do impeachment do presidente na Câmara dos Representantes. Nesta sexta-feira, segundo seu advogado, ele foi escoltado até o lado de fora da Casa Branca e destituído de seu cargo no Conselho de Segurança Nacional. E também o embaixador dos EUA na União Europeia (UE), Gordon Sondland, que durante o julgamento político disse que houve quid pro quo (um toma lá dá cá) na trama ucraniana.

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“Não há dúvida nenhuma na cabeça de qualquer americano sobre por que este homem perde o emprego, por que este país agora tem um soldado a menos servindo na Casa Branca", disse o advogado de Vindman, David Pressman. "O tenente-coronel Vindman foi convidado a sair por dizer a verdade. Sua honra, seu compromisso com o que é correto, assustaram os poderosos". A declaração do advogado não esclarece se seu cliente foi demitido ou transferido de volta ao Pentágono.

No caso de Sondland, foi ele mesmo quem deu a notícia, logo após a divulgação da demissão de Vindman. "Fui informado hoje que o presidente pretende me demitir imediatamente como embaixador dos Estados Unidos na União Europeia", informou em um comunicado. "Sou grato ao presidente Trump por ter me dado a oportunidade de servir", acrescentou.

Durante todo o dia era esperada a concretização de uma retaliação que só faltou ser anunciada. Horas antes, o presidente Trump havia inequivocamente apontado Vindman pelo depoimento que deu aos congressistas. “Bem, não estou satisfeito com ele. Acham que deveria estar? Não estou”, disse o presidente a jornalistas nos jardins da Casa Branca, antes de partir para um evento na Carolina do Norte. Ao longo do dia, Trump retuitou várias mensagens pedindo que fosse demitido o mais rápido possível o especialista em Ucrânia na Casa Branca.

O testemunho de Vindman, que ele deu primeiro em particular e depois em público diante dos dois comitês da Câmara dos Representantes que investigaram a trama ucraniana, foi especialmente importante por ter sido um dos poucos que os democratas conseguiram obter com informações de primeira mão sobre os fatos que estavam sendo julgados. Ele ouviu ao vivo a conversa por telefone entre Trump e o presidente da Ucrânia em 25 de julho, na qual Trump pedia o “favor” de anunciar investigações de seus rivais políticos. Vindman reconheceu em novembro aos congressistas que a conversa lhe pareceu "inapropriada”.

O comparecimento do militar, veterano da guerra do Iraque, desencadeou a ira da Casa Branca, que o atacou de sua conta oficial no Twitter, e dos aliados políticos e midiáticos do presidente, que questionaram seu patriotismo e honestidade. Vindman foi um dos poucos funcionários da Casa Branca que desafiaram a ordem de Trump de não testemunhar na investigação, uma manobra de bloqueio que deu origem à segunda acusação de impeachment, a de obstrução ao Congresso.

Sondland se tornou uma testemunha-chave quando modificou sua declaração enviada por carta em outubro a três comitês de investigação da Câmara dos Representantes. Na retificação, ele disse que se lembrava de dizer a uma importante autoridade ucraniana que seu país não obteria a ajuda econômica militar acordada se a atividade de Hunter Biden, filho do ex-vice-presidente Joe Biden, não fosse investigada. Em seu depoimento no Congresso, no final de novembro, ele detalhou os fatos, embora tenha ressalvado que Trump nunca lhe disse isso explicitamente, mas que assim ele presumiu.

O diplomata também disse que trabalhou em estreita colaboração com o advogado pessoal de Trump, Rudy Giuliani. “Os pedidos de Giuliani eram um quid pro quo para organizar uma visita de Zelenski à Casa Branca. Giuliani pediu que a Ucrânia divulgasse uma declaração anunciando investigações do servidor do Comitê Nacional Democrata (DNC) e da Burisma. Giuliani estava expressando os desejos do presidente”, afirmou.

Segundo The Washington Post, a Casa Branca está estudando a transferência de outros altos funcionários que ignoraram a controversa ordem do presidente. Na quarta-feira, o Senado isentou o presidente das duas acusações apresentadas contra ele, de abuso de poder e de obstrução do Congresso, com o voto de todos os senadores republicanos, exceto um, o ex-candidato à presidência Mitt Romney.

Yevgeny Vindman, irmão gêmeo da testemunha e também tenente-coronel designado para a Casa Branca, foi forçado a deixar seu cargo ao mesmo tempo que o irmão, segundo duas fontes citadas pelo The New York Times.

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