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Plano de paz de Trump desencadeia violência entre israelenses e palestinos

Dois adolescentes e um policial palestino morrem vítimas de disparos do Exército de Israel na Cisjordânia, e ao menos 12 militares israelenses são atropelados. Protestos se espalham pelo país

Palestinos protestam contra militares israelense nesta sexta-feira, na cidade de Beit Jala, após militares fazerem uma blitz em busca do autor de um atropelamento que deixou 12 soldados feridos.
Palestinos protestam contra militares israelense nesta sexta-feira, na cidade de Beit Jala, após militares fazerem uma blitz em busca do autor de um atropelamento que deixou 12 soldados feridos.ABED AL HASHLAMOUN (EFE)
Juan Carlos Sanz

Uma semana depois da apresentação do plano de paz do presidente norte-americano Donald Trump, a tensão aumentou na Terra Santa. Dois jovens manifestantes e um policial palestino foram mortos a tiros na Cisjordânia pelo Exército de Israel, entre esta quarta e quinta-feira. Além disso, em dois ataques registrados em Jerusalém nesta quinta, um militar israelense foi ferido por disparos de um palestino (que ele em seguida matou) e 12 soldados sofreram ferimentos, um dele com gravidade, ao serem deliberadamente atropelados por um veículo. Um outro militar também ficou ferido por tiros disparados de dentro de um carro perto de Ramallah, na Cisjordânia.

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A escalada da violência, que lembra a chamada Intifada dos Lobos Solitários (2015-2016) e é agravada por ataques incomuns com armas de fogo, coincide com o recrudescimento do lançamento de foguetes da Faixa de Gaza, seguido por bombardeios de retaliação da aviação israelense nesse enclave costeiro palestino.

Os primeiros protestos populares de baixa intensidade contra o chamado acordo do século se tornaram violentos em áreas como Hebron, onde os assentamentos de colonos judeus dividem e cercam essa grande cidade da Cisjordânia. Um manifestante de 17 anos foi morto na quarta-feira por um tiro no coração em uma ação das tropas israelenses de ocupação, que disseram estar repelindo um ataque com coquetéis molotov no bairro de Bar al Zawaya.

O Exército de Israel reforçou sua presença na Cisjordânia nesta quinta-feira, antecipando uma onda de protestos de palestinos em larga escala. A demolição da casa da família de um palestino condenado pela morte de um rabino em 2018 desencadeou violentos confrontos à noite em Jenin (norte da Cisjordânia). Um outro palestino de 17 anos foi morto a tiros por soldados que se encarregavam da destruição da casa com explosivos, uma medida habitual de represália contra os autores de ataques letais e que os palestinos denunciam como uma punição coletiva. Um porta-voz militar disse que o jovem morto era um “franco-atirador” que havia atirado contra as tropas.

No mesmo incidente, um policial da Autoridade Palestina que estava na área ficou ferido e morreu logo após ser levado para um hospital. O Exército de Israel abriu uma investigação sobre esses fatos. Fontes militares citadas pelo jornal Haaretz disseram que o policial palestino estava de guarda na porta de uma delegacia próxima e não representava uma ameaça para os soldados.

Em outro ataque com armas de fogo, um soldado israelense foi ferido a bala por uma pessoa em um veículo em movimento perto de Ramallah, capital administrativa da Autoridade Palestina na Cisjordânia, localizada cerca de 20 quilômetros ao norte de Jerusalém.

Enquanto isso, em Jerusalém um membro da Polícia de Fronteiras, uma força de segurança militarizada israelense, foi ferido ao meio-dia desta quinta-feira por disparos de um palestino perto da Porta dos Leões, na área amuralhada na parte leste da Cidade Santa, ocupada por Israel desde 1967. O agente também abriu fogo contra o agressor, um árabe israelense residente no norte do país, que morreu na hora, segundo a polícia de Israel.

Algumas horas antes, na madrugada desta quinta-feira, um veículo atropelou deliberadamente vários israelenses –12 soldados e dois civis– perto do centro comercial e de entretenimento da Estação Velha, na parte oeste de Jerusalém e nas imediações da Cidade Velha. Os militares eram jovens recrutas que se preparavam para participar de um ato no Muro das Lamentações, o principal local de culto do judaísmo, situado ao pés da Esplanada das Mesquita. Um deles está em estado crítico em um hospital de Jerusalém. O motorista, que fugiu, foi preso mais tarde em uma operação de busca com uma ampla mobilização de forças de segurança.

Da Faixa de Gaza e sem assumir a responsabilidade pelo atropelamento, o movimento islamista Hamas descreveu o atentado como “uma operação de resistência à ocupação e uma resposta ao plano de destruição de Trump”. Na semana passada houve um grande aumento de lançamento de foguetes da Faixa de Gaza contra Israel, sem causar vítimas, bem como de bombardeios de represália contra posições de milícias islâmicas nesse território palestino, que também não causaram ferimentos.

O ministro do Interior de Israel, Aryeh Deri, reconheceu em declarações à rádio estatal que existe uma clara correlação entre a escalada da violência e o plano de paz da Casa Branca. Ao mesmo tempo, Nabil Abu Rudeina, porta-voz do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, atribuiu ao “acordo do século” a “perigosa escalada israelense” contra a população palestina.

A iniciativa de Trump, rejeitada categoricamente pelos palestinos por não lhes garantir seu próprio Estado, estabelece pré-condições extremamente favoráveis ​​para Israel, que anexaria a área das colônias judaicas na Cisjordânia e do estratégico Vale do Jordão.

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