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China e EUA selam a primeira fase do acordo para pôr fim à guerra comercial

Washington ainda mantém tarifas sobre 360 bilhões de dólares em produtos importados de Pequim

O vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, e o presidente Donald Trum, esta quarta-feira na Casa Blanca.
O vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, e o presidente Donald Trum, esta quarta-feira na Casa Blanca.AFP
Pablo Guimón

Estados Unidos e China assinaram nesta quarta-feira um acordo que encerra o primeiro capítulo na nociva guerra comercial que as duas maiores potências mundiais travam há quase dois anos. O acordo abre o mercado chinês a mais companhias norte-americanas, especialmente do setor financeiro, supõe um aumento das exportações de produtos agrícolas norte-americanos e contém compromissos de respeito à propriedade intelectual, mas mantém em vigor as tarifas a produtos chineses num valor de 360 bilhões de dólares (1,5 trilhão de reais). Essas tarifas permanecem vigentes, afirmou Donald Trump durante a cerimônia da assinatura na Casa Branca, para que os Estados Unidos possam ter “uma ferramenta negociadora” com vistas à segunda e última fase do acordo, cuja negociação, segundo o presidente, começará imediatamente.

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O acordo, de 86 páginas na sua versão em inglês, põe fim a dois anos de tensas negociações, depois da ofensiva de um presidente que, como recordou nesta quarta-feira em seu pronunciamento ao lado do vice-primeiro-ministro chinês, Liu Hei, já havia prometido em sua campanha eleitoral que teria pulso firme com a China, cujas práticas comerciais considera terem prejudicado a indústria e o emprego nos Estados Unidos. O acordo, no início do ano em que o presidente tentará a reeleição, permitirá a Trump vender uma vitória numa batalha que marcou seu primeiro mandato, mas seus críticos poderão salientar o dano econômico provocado pela longa disputa e o fato de que as frentes mais difíceis continuam sem resolver.

“A China gastará mais de 200 bilhões de dólares [835,5 bilhões de reais] nos próximos dois anos em produtos norte-americanos”, disse Trump, que então discriminou os valores: 75 bilhões de dólares em bens industriais, 50 bilhões em energia, 50 bilhões em produtos agrícolas e entre 40e 50 bilhões em serviços, incluídos os financeiros. O presidente norte-americano destacou também os avanços na proteção da propriedade intelectual e as “fortes restrições" à desvalorização da moeda.

O acordo, entretanto, tem um alcance limitado e deixa para a segunda fase, que o presidente Trump disse que será a última, algumas das principais fontes das tensões entre ambas as potências. Fica fora do acordo qualquer compromisso da China de mudar sua estrutura econômica, em particular sua política de subsídios para apoiar suas indústrias estratégicas, o que atrapalhar a concorrência, e tampouco se obteve um compromisso de Pequim de maior transparência na gestão de dados e na segurança digital. Continuará havendo tarifas a produtos chineses num valor de 360 bilhões de dólares, mas os Estados Unidos se comprometem a não impor mais se a China cumprir seus compromissos.

Isso não impediu Trump de falar no “maior acordo já visto”. “Juntos estamos corrigindo os erros do passado e proporcionando um futuro de justiça e segurança econômica aos trabalhadores, agricultores e famílias norte-americanas”, disse o presidente. Depois, o vice-premiê chinês leu uma carta do presidente Xi Jinping e prometeu que Pequim “honrará estritamente o acordo”.

Compareceram à cerimônia, além das duas delegações, dezenas de empresários norte-americanos, aos quais um Trump eufórico foi saudando e elogiando um a um. Na sala, repleta de jornalistas (havia até 60 veículos chineses credenciados), estavam também alguns destacados legisladores republicanos. No outro extremo da avenida Pensilvânia, no Capitólio, os congressistas se preparavam para votar nos procedimentos iniciais do julgamento no Senado sobre o impeachment de Trump, que o presidente aproveitou para voltar a qualificar como “farsa”.

A obsessão de intervir nos fluxos comerciais em nome do benefício dos trabalhadores americanos tem sido uma pedra angular da primeira agenda americana de Trump. E é uma ruptura impressionante com o dogma de livre mercado levantado pelas administrações americanas de um e outro sinal no último quarto de século. O novo acordo comercial com o México e o Canadá, que substituirá o NAFTA e que Trump espera ser aprovado no Congresso nas próximas semanas, também contém medidas protecionistas.

Os compromissos adquiridos pela China nesta primeira fase do acordo significarão um aumento considerável em comparação com os 128.000 milhões de dólares em produtos dos EUA que o país comprou em 2017, ano que os negociadores usaram como referência. Isso poderia prejudicar as empresas europeias ou japonesas, que estavam cobrindo parte dessa demanda. Mas a predileção de Trump por impor restrições ao livre comércio terá que passar por um novo teste quando, provavelmente mais tarde neste ano, o foco passar para a União Europeia, o próximo objetivo do presidente. Resta saber se as mesmas táticas que sua equipe de negociação usou com a China funcionarão com Bruxelas.

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