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Cinco pontos para entender a vitória de Boris Johnson nas eleições do Reino Unido

Apoio aos conservadores por parte da classe trabalhadora do centro e norte da Inglaterra e a queda do voto trabalhista explicam o sucesso avassalador dos ‘tories’

Boris Johnson, durante sua declaração nesta sexta-feira em Downing Street.
Boris Johnson, durante sua declaração nesta sexta-feira em Downing Street.HENRY NICHOLLS (REUTERS)
Cristina Galindo

O partido conservador britânico conseguiu sua maior vitória em Westminster desde a era de Margaret Thatcher. O voto da classe trabalhadora do centro e norte da Inglaterra, tradicionais feudos trabalhistas que dessa vez votaram em Boris Johnson, é essencial para entender o grande respaldo ao futuro Governo. Com essa sólida maioria absoluta (pela queda do partido de Jeremy Corbyn), está claro pela primeira vez desde o plebiscito de 2016 que o Reino Unido sairá da UE.

Esses são os principais pontos:

Voto popular em relação a cadeiras

Porcentagem de voto total e número de cadeiras

Em 2019

Partido Conservador – 43,6% / 365

Partido Trabalhista – 32,2% / 203

SNP – 3,9% / 48

LD – 11,5% / 11

DUP – 0,8% / 8

Em 2017

Partido Conservador - 42,4% / 317

Partido Trabalhista – 40% / 262

SNP – 4% / 35

LD – 7,4% / 12

DUP - 0,9% / 10

Os tories conseguiram 43,6% dos votos, o maior nível desde 1979, mas na verdade é apenas um ponto porcentual a mais do que em 2017. Como é possível que essa diferença mínima tenha se traduzido em 48 deputados a mais? Basicamente pela sangria de eleitores do trabalhismo, que obteve 32,2% dos votos, quase oito pontos a menos. Depois, é o sistema eleitoral britânico (o chamado first-past-the-post) que consolida essa tendência de queda: em cada uma das 650 circunscrições ganha a cadeira o candidato que obteve mais votos, mesmo que seja pela diferença de um. O restante não consegue nada, o que produz rápidas transferências de cadeiras.

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Classe trabalhadora e classe média

Territórios que tradicionalmente votavam no partido de Jeremy Corbyn, majoritariamente partidários do Brexit, escolheram os conservadores. O partido de Johnson cresceu quatro pontos nas circunscrições do centro e norte da Inglaterra, antigas regiões mineradoras e industriais, mas caiu um ponto em Londres e no sudeste do país. Nessas regiões mais urbanas, por outro lado, os trabalhistas conseguiram deter a queda (seis pontos a menos), em relação ao desastre do norte (entre 12 e 13 pontos no noroeste e em Yorkshire).

O impacto do Brexit

A saída da UE foi um dos pontos que explicam a vitória conservadora. A BBC publicou na sexta-feira dados muito claros que indicam que os tories se transformaram no partido favorito dos eurocéticos. Por um lado, o partido de Johnson ganhou terreno (6% a mais) entre os eleitores que apoiaram o Brexit, e perdeu apoios (quase três pontos) entre os que apoiaram a permanência. Por sua vez, os trabalhistas perdem em todos os casos, mas especialmente entre os brexiters (mais de 10 pontos).

A incógnita territorial: Escócia e Irlanda do Norte

O Reino Unido se encaminha a um choque constitucional na Escócia, em que a avassaladora vitória do Partido Nacional Escocês (SNP, na sigla em inglês), que conquistou 48 das 59 cadeiras atribuídas a esse território, irá impulsionar o crescimento independentista. A líder escocesa, Nicola Sturgeon, já pediu a Downing Street um segundo plebiscito para decidir se o território deve continuar com a união com Londres estabelecida há 300 anos. O despertar nacionalista se explica porque a Escócia se opõe ao Brexit e a maioria de sua população sente que o sul está lhe obrigando contra a vontade a abandonar a UE.

Outra brecha territorial que ameaça se abrir está na Irlanda do Norte. Os partidos nacionalistas, que também se opõem ao Brexit, conseguiram pela primeira vez mais cadeiras em Westminster do que as forças unionistas pró-britânicas. Os unionistas do DUP, aliado do Governo de Londres durante o mandato anterior, perderam dois dos dez deputados que tinham, enquanto o Sinn Fein, antigo braço político do já inativo Exército Republicano Irlandês (IRA) e principal partido entre os católicos, manteve suas sete cadeiras, se bem que não as ocupa porque se nega a jurar lealdade à coroa britânica.

Os liberal-democratas murcham

Havia muitas expectativas colocadas em Jo Swinson, a líder do partido. Mas por fim nem ela conseguiu reter sua cadeira em Dunbartonshire, que passou às mãos do SNP, e na sexta-feira anunciou sua renúncia. A proposta anti-Brexit do partido não parece ter conseguido ir além de sua base atual, centrada nas grandes cidades e no norte da Escócia, e conseguiu 11 deputados, um a menos do que em 2017.

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