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Coreia do Norte anuncia suspensão das negociações nucleares com EUA

Diálogos que envolvem a suspensão de sanções ao país asiático ocorrem sem progressos há dois anos

Donald Trump e Kim Jong-un, em junho, na Zona Desmilitarizada.
Donald Trump e Kim Jong-un, em junho, na Zona Desmilitarizada.Susan Walsh (AP)
Macarena Vidal Liy

A Coreia do Norte deu um soco na mesa. Pelo menos, é isso que se deduz das declarações de seu embaixador na ONU, Kim Song, que em um comunicado entregue no sábado à Reuters afirma que seu país retirou a desnuclearização da agenda de negociações com os Estados Unidos e não necessita de conversas pormenorizadas com o Governo norte-americano.

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Há muito tempo a Coreia do Norte vem deixando clara sua frustração com a estagnação do diálogo após dois anos sem grandes progressos. Os EUA exigem o completo desmantelamento do programa nuclear norte-coreano, enquanto a Coreia do Norte pede aos norte-americanos que removam algumas das inúmeras sanções que pesam contra o país.

Três encontros entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o líder norte-coreano, Kim Jong-un, levaram a poucos avanços além das fotografias de seus apertos de mão —a última, na fronteira entre as duas Coreias— e de uma vaga declaração de intenções, no primeiro encontro em junho de 2018, em Cingapura. O regime de Kim já havia ameaçado eliminar a desnuclearização da mesa de negociações se não houvesse concessões dos EUA para destravar o impasse antes do final do ano.

Na declaração citada pela Reuters, o embaixador Kim afirma que o “diálogo sustentado e substancial” que os Estados Unidos pedem é um mero “estratagema para ganhar tempo”, enquanto se concentram em sua agenda política interna, tendo em vista as eleições presidenciais de 2020. "Não precisamos mantenha longas conversas agora com os Estados Unidos, e a desnuclearização foi retirada da mesa de negociações”, enfatiza.

À medida que crescia a impaciência do Governo norte-coreano, aumentava a temperatura na retórica entre os dois países. O vice-ministro de Relações Exteriores da Coreia do Norte, Ri Thae Song, disse que qualquer possível anúncio pelos EUA sobre o relançamento das negociações seria apenas “um truque bobo” a ser usado durante a campanha eleitoral. Voltaram os insultos trocados em 2017, em plena escalada das tensões entre os dois e em meio a uma campanha de teste de mísseis norte-coreana que culminou no lançamento de mísseis intercontinentais, capazes de atingir qualquer ponto nos Estados Unidos.

Nesta terça-feira, Trump recuperou o apelido irônico de "homem-foguete", com o qual descrevera Kim há dois anos, e frisou que os EUA se reservam o direito de usar a força militar contra a Coreia do Norte. O Governo norte-coreano respondeu que repetir essa linguagem significaria a "recaída nas caduquices de um velho gagá", novamente empregando o epíteto com o qual havia qualificado o inquilino da Casa Branca em 2017.

Embora a linguagem daquela época tenha reaparecido, a situação não é mais a mesma de 2017. E não favorece, precisamente, os Estados Unidos. O presidente dos EUA está imerso em um processo de impeachment e disputará a reeleição dentro de 11 meses. Ele não consegue chegar a um pacto sobre seu acordo de defesa com a Coreia do Sul. Em vez disso, o líder norte-coreano mostrou que tem armas nucleares e os mísseis de que precisa para atacar em solo norte-americano.

Kim ameaçou seguir “um novo caminho” no próximo ano, o que poderia significar um retorno aos testes de mísseis que se multiplicaram em 2017. Já neste ano, apesar da moratória tácita em vigor desde o início do degelo nas relações bilaterais, a Coreia do Norte realizou vários lançamentos, o último na semana passada. E em dois meses a agência de notícias norte-coreana KCNA publicou duas séries de fotografias do líder em um cavalo branco no Monte Paektu, onde a tradição coreana estabelece o início de sua cultura e com a qual a dinastia Kim associa sua linhagem. As visitas ao vulcão precederam, no passado, importantes anúncios políticos: em 2013, ocorreu antes do expurgo em que seu tio Jang Song-thaek foi executado; em dezembro de 2017, antes de anunciar a nova fase do degelo.

As negociações de desnuclearização não decolaram desde que fracassou em Estocolmo uma tentativa de restabelecer as conversas entre representantes dos EUA e da Coreia do Norte, em outubro.



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