_
_
_
_
_
O chefe do Comitê de Inteligência da Câmara de Representantes, Adam Schiff. REUTERS
O chefe do Comitê de Inteligência da Câmara de Representantes, Adam Schiff. REUTERSREUTERS

Primeiro relatório sobre impeachment de Trump aponta abuso de poder

Texto do Comitê de Inteligência, que também acusa o presidente de obstruir a investigação, servirá de base para a próxima fase do processo de destituição

Pablo Guimón

O presidente Trump abusou de seu poder ao pressionar a Ucrânia por ajuda em sua campanha à reeleição e, depois, ao tentar obstruir os esforços do Congresso para investigar suas ações. Essa é a conclusão, após dois meses de investigação, do relatório do Comitê de Inteligência da Câmara de Representantes (deputados). O documento de 300 páginas, apresentado na terça-feira, servirá de base para o debate no Comitê de Justiça da Câmara, já a partir desta quarta-feira, sobre se o 45º presidente dos Estados Unidos deve ser deposto.

Mais informações
El diplomático David Holmes, el viernes, a su llegada al Capitolio.
Dois novos depoimentos complicam Trump no processo de impeachment
Gordon Sondland, el pasado 28 de octubre tras declarar a puerta cerrada en el Congreso.
Testemunha-chave muda seu depoimento e diz que ajuda à Ucrânia foi condicionada a investigação contra Biden

“Este relatório é a crônica do plano de um presidente dos Estados Unidos para coagir um aliado, a Ucrânia, que está em guerra com um adversário, a Rússia, a fazer o trabalho sujo político do presidente”, disse Adam Schiff, presidente do Comitê de Inteligência, em um pronunciamento imediatamente posterior à publicação do relatório. O presidente Trump, acrescentou Schiff, “violou o juramento que prestou” sobre a Constituição ao tomar posse.

A menos de um ano de enfrentarem Trump nas urnas pela segunda vez, os democratas procuram demonstrar que o presidente usou a retenção de um pacote de ajuda militar e um convite à Casa Branca para pressionar o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, a anunciar a abertura de duas investigações que convinham politicamente ao republicano: uma sobre as atividades no país do ex-vice-presidente e hoje pré-candidato democrata Joe Biden e seu filho Hunter, e outra sobre uma desacreditada teoria segundo a qual foi o governo anterior da Ucrânia, e não a Rússia, que interferiu nas eleições presidenciais norte-americanas de 2016.

O relatório do Comitê de Inteligência, de maioria democrata, afirma que Trump “colocou seus próprios interesses pessoais acima do interesse nacional, procurou solapar a integridade do processo da eleição presidencial dos Estados Unidos e pôs a segurança nacional em perigo”. O documento, uma vez superado o trâmite de votação no Comitê de Inteligência, será enviado ao Comitê de Justiça para que ainda nesta quarta faça a primeira audiência de preparação da acusação formal do impeachment. Este, se aprovado na Câmara Baixa, abriria um histórico julgamento político no Senado –onde os republicanos são maioria–, em plena campanha eleitoral, num caso que agravou a fissura que divide um país polarizado.

“A investigação do impeachment de Donald Trump, o 45º presidente dos Estados Unidos, descobriu que durante meses o presidente Trump se esforçou em utilizar os poderes de seu cargo para solicitar uma ingerência política em seu nome nas eleições de 2020”, diz o documento em seu sumário. “O plano do presidente Trump subverteu a política externa dos EUA em relação à Ucrânia e solapou nossa segurança nacional em favor de duas investigações politicamente motivadas que ajudariam a sua campanha de reeleição presidencial.”

O relatório inclui novos detalhes, como registros de telefonemas, que revelam contatos mais numerosos do que se sabia até agora entre Rudy Giuliani, advogado pessoal de Trump, e destacados congressistas republicanos. Também de Lev Parnas, sócio de Giuliani atualmente detido sob a acusação de crimes federais, com pessoal vinculado aos republicanos do Comitê de Inteligência.

Os congressistas também denunciam uma “campanha de obstrução sem precedentes da investigação do impeachment”, conforme já havia sugerido o próprio Adam Schiff, presidente do Comitê de Inteligência, durante as audiências. Refere-se às ordens de não cooperação dadas pelo presidente a potenciais testemunhas, assim como seus movimentos para que agências do Executivo não fornecessem documentos solicitados pelos investigadores. “Qualquer futuro presidente se sentirá autorizado a resistir a uma investigação sobre seus crimes, infrações ou corrupção, e o resultado será uma nação com um maior risco das três coisas”, concluem os congressistas.

O presidente não cessou suas críticas ao impeachment, processo ao qual se referiu, durante a abertura da cúpula da Otan em Londres, como “antipatriótico”. Teceu duras críticas pessoais a Schiff, horas antes da divulgação de seu relatório, e afirmou que não pretende acompanhar a sessão do Comitê de Justiça nesta quarta-feira. “É uma bobagem. Estão perdendo tempo.”

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_