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Protestos na Colômbia procuram aumentar pressão sobre o Governo

Iván Duque tenta enquadrar o descontentamento em uma disputa política e acusa setores da oposição de tentar “capitalizar o caos”

Francesco Manetto
O protesto nas ruas de Bogotá, nesta quarta-feira.
O protesto nas ruas de Bogotá, nesta quarta-feira.Raúl Arboleda (AFP)

Os protestos contra o Governo de Iván Duque, na Colômbia completam sete dias em meio a reivindicações econômicas, aproximações entre manifestantes e autoridades e casos de repressão como o que provocou a morte do jovem Dilan Cruz. Sindicatos e organizações estudantis saíram às ruas nesta quarta-feira em uma nova greve geral convocada poucas horas antes. As mobilizações, que começaram com adesão desigual em Bogotá e provocaram bloqueios em Cali, intensificam o clima de pressão contra o presidente. Este acusou setores da oposição, que chamou de “pirômanos”, de “pretender ganhar com a violência o que não ganharam nas urnas”.

As palavras de Duque procuram enquadrar os protestos que começaram na última quinta-feira na disputa estritamente política. “Há pessoas que querem capitalizar politicamente o caos; querem capitalizar politicamente o chamado à desestabilização, e me parece que isso não é responsável [...] O chamado para aqueles que exercem a liderança política é a responsabilidade”, reiterou em uma entrevista à emissora Blu Radio. As manifestações, no entanto, tiveram um impulso que vai além do embate entre partidos, apesar das tentativas do líder oposicionista Gustavo Petro de surfar nessa onda. E os episódios de vandalismo que aconteceram nos últimos dias não refletem a atmosfera geral que move as reivindicações das organizações de trabalhadores e do movimento estudantil.

A improvisação da convocação da greve nacional se deve à morte, na noite de segunda-feira, de Dilan Cruz, o jovem de 18 anos que se tornou um símbolo das marchas depois de ter sido baleado por um agente da tropa de choque. O luto por essa morte comoveu a Colômbia e mudou a equação dos protestos. “Precisamente, em homenagem a Dilan, se fará greve nacional na quarta-feira”, havia anunciado Diógenes Orjuela, presidente da Central Unitária dos Trabalhadores.

O mandatário iniciou uma rodada de negociações com os principais atores sociais, mas o diálogo com os sindicatos ficou no limbo neste momento. Suas reivindicações não mudaram substancialmente e têm a ver com a política econômica do Executivo, o chamado paquetazo, começando pela retirada do projeto de lei de reforma tributária. A isso foi acrescentada a rejeição e a preocupação com os casos de repressão policial. Várias instâncias internacionais manifestaram preocupação nos últimos dias com o uso excessivo da força durante as manifestações. Tanto as Nações Unidas quanto a ONG Human Rights Watch exigiram uma investigação interna do Ministério Público que aponte as responsabilidades.

Com essas premissas, os líderes sindicais também incluíram na lista de 13 pontos que entregaram a Duque a dissolução do Esquadrão Móvel Antidistúrbios, uma unidade acostumada a agir sem cautela desde os anos do conflito armado com a agora extinta guerrilha das Farc ou em confrontos com o ELN.

A agenda do diálogo também inclui a rejeição da reforma previdenciária, a busca do compromisso do Governo de não implementar novas reformas trabalhistas e pede que as autoridades abordem com o movimento Defendamos a Paz a aplicação dos acordos alcançados em 2016 entre o Estado e as Farc. As mobilizações refletem de alguma maneira as novas prioridades do país, que apesar de não ter resolvido o problema da violência no campo, deixou para trás uma longa guerra.

O Governo concordou por enquanto em fazer alterações na reforma tributária. O presidente levou em conta os pedidos e na terça-feira, depois da divulgação da nova convocação de greve geral, fez uma aparição pública para anunciar a introdução de três dias sem IVA por ano para que famílias e empresas possam fazer compras, novas devoluções, descontos em saúde para aposentados e um programa de emprego para os jovens.

No entanto, Duque ainda não conseguiu conter a pressão das mobilizações e sua gestão da crise que a Colômbia atravessa custou-lhe um aumento do mal-estar social, por um lado, e, por outro, críticas dos setores mais radicais da direita e de seu partido, o Centro Democrático.

Apoio de Washington

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, falou nesta quarta-feira por telefone com Duque. Manifestou, como informou no Twitter, seu apoio ao diálogo nacional que este iniciou, por enquanto sem resultados concretos.

Em sua opinião, essas conversas representam uma “oportunidade para que a população da Colômbia colabore para avançar rumo à paz, à segurança e à prosperidade”. O gesto de Washington chegou no meio de uma nova jornada de greve nacional e depois de uma semana de protestos que começaram na quinta-feira passada e, até agora, não dão sinais de terminar.

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