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Por que Jessica Alba abandonou sua carreira no auge do sucesso

Aquela que foi uma das jovens atrizes mais populares do início do século se afastou da indústria. Cansada de ser “a garota de biquíni dos filmes”, Alba explica agora os motivos de sua retirada

Jessica Alba S Moda
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É cada vez maior o número de atrizes que denunciam abertamente o machismo sofrido por elas ao longo de suas carreiras. Selecionamos, aqui, o testemunho de oito delas, que contam casos que refletem essa situação. Zoe Saldana, 38 anos, declarou dias atrás à revista ‘Allure’: “Certa vez, no meio de uma filmagem, um produtor me disse: ‘Contratei você para transmitir uma boa imagem enquanto você porta um revólver na roupa de baixo’. Quando entrei para esse projeto, me disseram que na verdade me queriam para o papel e que gostariam muito de ouvir qualquer ideia que eu tivesse. Era isso o que vinha fazendo, até que o produtor me disse para largar de ser ‘uma puta difícil’. Pensei: ‘Poxa, então isso está mesmo acontecendo. Essas coisas existem de verdade”.
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Não havia ninguém mais cobiçada que ela nos primeiros anos deste século. Não importava qual revista masculina perguntasse, Jessica Alba exercia um reinado absolutista naqueles rankings de mulheres mais atraentes que acabaram desaparecendo das cabeceiras graças às denúncias de objetificação sistemática. Já em 2007, a própria Alba estava ansiosa para se livrar do rótulo de “garota sexy de biquíni dos filmes”, que havia obtido em poucos segundos ao cativar Bruce Willis e outros milhões de espectadores com o magnético “aquecimento” —literal e figurado— de Nancy, a stripper de Sin City: A Cidade do Pecado. Naquele ano, a californiana estava no auge da carreira, com cinco filmes lançados em um período de poucos meses, e parecia destinada a ser uma das grandes estrelas da sétima arte. No entanto, sua agenda diminuiu sem prévio aviso e as altas expectativas depositadas na atriz se reduziram a tal ponto que ela não conseguiu sentir novamente o sabor do sucesso em quase 15 anos. Um enigma made in Hollywood que sua própria protagonista decidiu decifrar agora.

“Eu não podia voltar ao que estava fazendo antes e ser autêntica. Não podia. Aquilo já não me importava da mesma forma.” Na ultracompetitiva e egocêntrica indústria do entretenimento, poucas atrizes já se atreveram a verbalizar os motivos que podem levar alguém a colocar uma brilhante carreira como ícone global na última posição de sua lista de prioridades. No caso de Alba, o que a levou a se afastar do primeiro escalão foi o medo que teve, quando ficou grávida pela primeira vez, de recair nas doenças de sua infância. “Minha mãe teve câncer muito jovem, com apenas 20 anos. Eu cresci com uma doença crônica. Passei por cinco cirurgias antes de fazer 11 anos. Tive alergias crônicas e fiquei hospitalizada muitas vezes quando era criança”, confessou em uma entrevista à revista digital Romper.

Em suas declarações, a californiana de 39 anos relaciona o frenesi da indústria cinematográfica com o enfraquecimento de sua saúde. “Tive uma espécie de revelação em que soube que queria viver, prosperar e passar todo o tempo que pudesse com aquela pessoinha que estava trazendo ao mundo, ficar com ela. Minha saúde é importante e quero que esta menina seja saudável. É muito, muito difícil ser feliz quando não se tem isso”, contou a atriz, que em fevereiro também revelou o câncer de tireoide de seu pai.

Jessica Alba cumpriu sua promessa e, desde que lançou, em 2010, filmes como O Assassino em Mim, reduziu seus papéis em Hollywood a pequenas participações como coadjuvante ou atuações como protagonista em filmes de baixo orçamento. Nenhum chegou nem perto de ser classificado como sucesso de bilheteria ou de crítica, e quando a atriz tinha apenas 27 anos os executivos das colinas de Los Angeles já pareciam desconsiderar aquela que poucos anos antes era o objeto de desejo de toda Hollywood. Alba, consciente de sua desvalorização profissional, reafirma em sua escolha. “Francamente, estava no melhor da minha carreira, mas minha única motivação era a saúde. Eu não me perguntava: ‘Será que vão me contratar de novo alguma vez?”, destaca.

Alba com seu marido, Cash Warren.
Alba com seu marido, Cash Warren.SMXRF/Star Max

Alba, que saltou para a fama no ano 2000 interpretando uma militar modificada geneticamente na série de James Cameron Gangues da Noite, não hesita na hora de dar sua opinião, por mais polêmica que seja, em uma indústria que historicamente premia as mais silenciosas. Indagada sobre sua dificuldade para conseguir papéis como atriz principal, criticou abertamente os estereótipos étnicos que continuam vigorando no setor. “Diziam: ‘Você não é suficientemente latina para interpretar uma latina, nem suficientemente caucasiana para ser a protagonista, por isso vai ser a exótica”, declarou em uma entrevista à PopSugar. Também não titubeia em denunciar o assédio sexual sofrido na meca do cinema —“sofri de tudo; estou aqui desde os 12 anos, então você pode imaginar”—, nem o mau comportamento de Tim Story, diretor daquele que deveria ter sido o maior sucesso de bilheteria de sua carreira, Quarteto Fantástico, durante a filmagem: “Ele me fez pensar que nem meus sentimentos nem eu como atriz éramos suficientemente bons”.

Foi precisamente no set daquela adaptação dos quadrinhos da Marvel, em 2005, onde conheceu Cash Warren, produtor de televisão que trabalhava, naquela ocasião, como assistente do diretor do filme de super-heróis. Alba e Warren se casaram em 2008 e hoje são pais de duas meninas e um menino: Honor, Haven e Hayes, de 12, 9 e 3 anos, respectivamente. A recente tentativa de ressuscitar sua carreira como atriz na telinha com a série L.A.’s Finest: Unidas Contra o Crime não deu certo, e a ficção policial foi cancelada após duas temporadas, depois que a estreia de seu último lote de episódios teve de ser adiada para não coincidir com os protestos nos EUA contra o assassinato de George Floyd.

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Mas os contratempos em sua faceta como atriz não ofuscam o sucesso profissional que a californiana alcançou na última década. Seguindo os passos de outras estrelas de sua geração, como Gwyneth Paltrow, Alba conseguiu vencer no mundo dos negócios graças à The Honest Company, empresa fundada por ela em 2012 e dedicada à criação e venda de artigos para bebês, para mulheres e para casa, orgânicos e sem componentes tóxicos. O sucesso da Honest, avaliada em um bilhão de dólares (5,7 bilhões de reais), levou Alba a aparecer na capa da revista Forbes e a acumular uma das fortunas mais invejáveis de Hollywood. Mais uma vez, foi o nascimento de sua primeira filha e o histórico de ataques de asma, alergias e pneumonias da atriz na infância que a inspiraram a criar uma empresa que, segundo a Vogue Business, teve um crescimento de 350 milhões de dólares (2 bilhões de reais) em vendas durante os primeiros meses de 2020.

Um sucesso ligado diretamente à sua onipresença em todos os aspectos da empresa, do marketing —Alba bombardeia com conteúdo temático seus mais de 18 milhões de seguidores no Instagram— até o executivo, muito mais envolvida do que exigem os acordos habituais de patrocínio firmados por celebridades mundiais como ela. “Criar uma marca e uma empresa é terrivelmente impossível. E ser boa nisso é muito difícil. Tento melhorar a cada dia como empresária, mas é necessário muito mais do que usar sua influência e sua fama e fazer uma turnê promocional, escolher dois designs e colocar seu nome na embalagem”, afirma. Existe vida fora da telona.

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