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EUA blindam Simone Biles nos Jogos Olímpicos

Equipe norte-americana de ginástica sai da Vila Olímpica após suplente contrair covid-19, protegendo a sua estrela, que busca se superar após a deslumbrante atuação no Rio 2016

Juegos Olimpicos Tokio
Biles chega ao aeroporto de Narita, em Tóquio, em 15 de julho.Kiichiro Sato (AP)
Alejandro Ciriza
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Após dois dias de pronto-socorro e suor frio, os Estados Unidos respiram com relativo alívio: Simone Biles, a cereja do seu bolo e um dos grandes atrativos destes Jogos Olímpicos de Tóquio, está a salvo, ou pelo menos já afastada do potencial foco de infecção por covid-19 representado por sua colega Lara Eaker. Esta, uma das duas atletas reservas da equipe norte-americana de ginástica, deu positivo em um dos exames aos quais são submetidos diariamente os 11.000 atletas que participarão do evento. Ela foi imediatamente isolada, mas mesmo assim isso acendeu a luz vermelha e espalhou o pânico entre as fileiras norte-americanas. A manobra de fuga foi fulminante. Adeus à Vila Olímpica.

Perder Biles seria perder o grande símbolo, razão pela qual os dirigentes (USA Gymnastics) e técnicos das cinco ginastas ―a segunda reserva, Leanne Wong, também foi afastada por ter tido “contato direto”― tomaram a decisão às pressas e sem remorsos. Na verdade, antes mesmo de pousarem em Tóquio eles já viam a Vila como um espaço perigoso, apesar das medidas de segurança rigorosas e do mínimo contato entre os atletas. Os contágios vêm crescendo a conta-gotas, e no começo da tarde de terça-feira (hora local) o alarme soou durante um exame de rotina no campo de treinamento de Narita, a 50 quilômetros da capital, onde Biles e as suas colegas aperfeiçoam os exercícios e preparam outro possível evento histórico da formiga atômica.

Será Biles, aos 24 anos, capaz de superar a si mesma e ir além dos quatro ouros obtidos no Rio há cinco anos?

“Minha mãe sempre me motivou a a ser a melhor Simone que eu puder, e agora entendo o que isso significa. Se decidi estar em Tóquio é porque quero desafiar a mim mesma e inspirar outras pessoas”, diz a norte-americana em uma série documental (Biles & herself) na qual fala de como se preparou para seus últimos Jogos e mergulha nos episódios mais marcantes da sua carreira, dos mais acidentados―uma infância muito complicada e os abusos do preparador Larry Nassar― à sua meteórica ascensão ao Olimpo esportivo.

“Apesar do que muitos imaginam, minha carreira foi repleta de altos e baixos. De certa forma, tenho a sensação de que consistiu em demonstrar aos outros que sou capaz”, relata, enquanto sua equipe a blinda contra o infame vírus e os responsáveis garantem que não há mais riscos, já que titulares e reservas se exercitavam e se alojavam separadamente. “É uma decisão que tomamos todos juntos”, afirmou seu treinador, Cecile Landi. “Sabemos que não é o ideal para a experiência olímpica, mas nada é ideal durante uma pandemia. Acreditam que podemos controlar melhor nossas ginastas e nossa segurança em um hotel.”

Antes dos exames revelarem o positivo de Eaker, a própria Biles tirava selfies sorridente na zona de acesso à Vila Olímpica, diante de um logotipo de madeira com os cinco anéis olímpicos. “Quando alguém compete em busca da perfeição estimula os outros a entender que é possível”, diz a norte-americana, que após sua esplendorosa atuação no Rio―além dos quatro ouros, emplacou também um bronze na barra de equilíbrio― tirou 15 meses de licença para processar o sucesso, e com a pandemia desapareceu de cena durante um ano e meio.

Depois, em maio, retornou em Indianápolis em forma de relâmpago, com um Yurchenko (duplo mortal carpado) que até então nunca tinha sido executado por uma mulher em competições internacionais. “Não pretendo ser a nova Usain Bolt, nem a nova Michael Phelps ou a nova Michael Jordan. Simplesmente sou a primeira Biles, e essa é minha maior satisfação”, dizia em 2016. E agora, em Tóquio, volta a focar o caminho rumo ao infinito. Porque, apesar de já figurar na lista de atletas lendários dos Jogos, a norte-americana competirá com um triplo estímulo pela frente.

Os recordes do Miller, Heida e Latynina

Em primeiro lugar, tentará igualar o recorde de sua compatriota Shannon Miller, que é a ginasta mais medalhada do seu país nos Jogos Olímpicos. Miller, de 44 anos, ganhou sete medalhas: cinco nos Jogos de Barcelona 1992 (três de bronze e duas pratas) e outras duas, de ouro, quatro anos mais tarde, em Atlanta. Porém, está atrás de Biles no cômputo global, já que esta última coleciona 25 metais nos Mundiais (19 deles de ouro), além dos cinco conseguidos no Rio 2016, ao passo que Miller conquistou 16 entre 1991 e 1996.

Por outro lado, Biles tem a oportunidade de alcançar nas próximas datas um recorde ainda mais distante. O tcheco Anton Heida, que adotou a nacionalidade norte-americana, é o único ginasta do país a ter cinco ouros olímpicos ―todos nos Jogos de Saint Louis 1904.

Caso chegue a essa cifra em Tóquio ―repetindo a façanha do Mundial de Stuttgart dois anos atrás―, a norte-americana acumularia nove ouros olímpicos no total, equiparando-se à mulher mais laureada da história, Larisa Latynina. A ucraniana, que competiu sob a bandeira da União Soviética nos Jogos do Melbourne 1956, Roma 1960 e Tóquio 1964, aposentou-se em 1966 (aos 31 anos) com 18 medalhas. Agora, Biles – nascida em 1997 em Columbus (Ohio)―continua à caça de mais pódios após descobrir a ginástica aos seis anos e levantar voo em 2013, em Antuérpia, cenário dos seus dois primeiros ouros.

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