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Vinicius Junior, a renovação da seleção brasileira que ainda não teve chances na Copa América

O atacante de 20 anos é o caçula entre os convocados e, apesar de estar acostumado a brilhar entre os mais velhos, tem uma posição de figurante no elenco de Tite

Vinicius Junior em ação pela seleção em 2020.
Vinicius Junior em ação pela seleção em 2020.Lucas Figueiredo/CBF
Diogo Magri
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“Se um carro tem cinco marchas, ele tem seis ou sete”. A frase de Tite, treinador da seleção brasileira, foi usada para descrever a velocidade de Vinicius Junior dentro de campo, mas também resume a rapidez com a qual o atacante se destacou no futebol mundial. Em quatro anos, ele estreou no Flamengo, se transferiu para o Real Madrid, foi campeão espanhol e, agora, é o mais novo entre os 24 atletas brasileiros que disputam a Copa América 2021. Características de um jovem que pula etapas com o objetivo de ser a estrela da próxima geração da seleção brasileira, mas que ainda não teve chances de concretizar seu potencial na atual edição do torneio. Nos três primeiros jogos do Brasil, Vinicius esteve em campo apenas por cinco minutos na estreia, quando a seleção já vencia a Venezuela por 2 a 0.

Aos 20 anos de idade —ele completa 21 em 12 de julho—, o atacante tem idade para jogar futebol nas Olimpíadas, onde só são permitidos atletas de até 24 anos. Ele poderia estar, portanto, com a seleção olímpica, que convocou recentemente os maiores talentos dessa faixa etária no país para a disputa dos Jogos de Tóquio, em julho. No entanto, Vinicius foi direto para a seleção principal escalada para jogar o maior torneio entre países sul-americanos. “Desde criança, ele sempre foi o protagonista no time dele, sempre jogando com os meninos maiores”, explica o auxiliar técnico da equipe sub-20 do Flamengo, Márcio Torres. “Ele é um jogador do nível de Neymar em termos de ousadia, de chamar a responsabilidade e não sentir pressão, que é uma marca de grandes jogadores. Acho que o Vinicius tem tudo para ser o próximo ídolo do futebol brasileiro”, atesta o ex-treinador do atacante.

Torres trabalhou com Vinicius Junior em três categorias diferentes na base do Flamengo: sub-16, sub-17 e sub-20. Sob sua tutela fora de campo —e o comando de Vini dentro do gramado—, a chamada “geração 2000″ (time de jovens rubro-negros nascidos em 2000) chegou a ficar dois anos sem perder uma partida em campeonatos de base. “Nos três anos, ele resolvia mais nossos problemas do que os criava”, pontua o ex-treinador, exaltando o profissionalismo do atacante. “Eu nunca vi ele chegar no CT sem um sorriso no rosto. E tampouco fazia cara feia para qualquer treino”, relata ele.

A precocidade de Vinicius o levou a estrear pelo Flamengo adulto em maio de 2017, quando tinha 16 anos de idade. Estabeleceu recordes: é o mais jovem brasileiro a marcar dois gols na Libertadores e também a completar 50 jogos pelo time rubro-negro, tudo antes de protagonizar a transferência mais cara da história do futebol envolvendo um jogador com menos de 19 anos. Por 45 milhões de euros, trocou o Rio de Janeiro pelo Real Madrid, em 2018. Foi campeão espanhol na segunda temporada e, em fevereiro de 2019, teve sua primeira convocação para a seleção brasileira, aos 18 anos, já para substituir o lesionado Neymar em dois amistosos. “É um jogador de amplitude, tem o um contra um, virtudes físicas extraordinárias. A aceleração, o um contra um que impressiona”, comentou Tite na época.

Em três temporadas no Real Madrid, Vinicius somou 15 gols em 118 jogos. São números baixos para os padrões de um atacante, mas justificados para um jogador que já admitiu achar mais fácil driblar do que marcar gols. “Ele joga num setor do campo que não está perto do gol, e tem como qualidades a potência, velocidade, força e resistência. Por isso tem mais facilidade com o drible”, defende Torres. “Mas desde sempre pegamos no pé por causa da finalização, porque atacante tem que gostar do gol”. O auxiliar técnico vê como naturais as críticas à falta de gols de Vinicius, que costumam ofuscar seus dribles, e crê que o treinamento é a única solução. Por outro lado, Torres aponta que a maior evolução que o brasileiro teve desde que deixou o país diz respeito à parte defensiva do jogo, e não ao ataque. “O papel dele é jogar do meio para frente, mas o futebol hoje está tão dinâmico que, se ele não conseguir fazer a recomposição defensiva, vai ter dificuldade. Acho que isto foi onde ele mais evoluiu: o posicionamento e a marcação quando o time dele não tem a bola”, explica.

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A dois meses da Copa América, Vinicius teve a atuação mais importante da sua carreira, que o credenciou de vez a estar na lista final de Tite. Jogando ao lado de estrelas como Benzema, Casemiro e Modric, o brasileiro foi o grande destaque da vitória do Real Madrid sobre o Liverpool, pelas quartas de final da Champions League, quando marcou duas vezes na vitória por 3 a 1. Naquele dia, as finalizações do atacante foram boas o suficiente para vencer o goleiro adversário, Alisson (que é titular do Brasil), e provar que Vinicius pode brilhar no patamar mais alto do futebol mesmo com 20 anos. “Grandes jogos como esse são os que balizam a carreira do jogador. Ele abriu os olhos do mundo inteiro nessa atuação, mas o desafio é se manter para continuar sendo decisivo”, comenta Márcio Torres. “Para nós, cuja maior missão é desenvolver os jogadores, nos dá muito orgulho.”

Grandes noites europeias, no entanto, ainda não foram suficientes para garantir minutos a Vinicius na seleção brasileira. Nas 10 vezes que foi convocado por Tite, entrou somente em dois jogos, somando 21 minutos em campo. Cinco destes minutos aconteceram na Copa América, na estreia brasileira. No momento de maior dificuldade até então, quando os brasileiros perdiam para a Colômbia no terceiro jogo, Tite optou por colocar os reservas Roberto Firmino, Everton e Gabigol nos lugares de Gabriel Jesus, Everton Ribeiro e Richarlison no segundo tempo, deixando claro que Vini está no fim da fila do ataque principal da seleção —além dos seis envolvidos nas substituições, Neymar é outro concorrente do ex-Flamengo que tem titularidade garantida.

Apesar dos elogios, seu ex-treinador concorda com a ordem estabelecida pelo técnico da seleção brasileira e prega cautela para pedir uma chance ao jogador entre os 11 titulares. Torres enxerga que o ex-flamenguista pode tirar mais proveito da experiência na Copa com “aprendizados no dia a dia” e aproveitando chances durante o segundo tempo das partidas. Por enquanto, as expectativas ficam mesmo voltadas para o futuro —Vinicius Junior estará com 26 anos na Copa de 2026, uma idade que é por muitos considerada o auge do jogador do futebol. Por outro lado, o atacante pode receber uma chance contra o Equador, neste domingo (27), quando tudo indica que Tite poupará seus principais jogadores com o Brasil já classificado em primeiro lugar. Pode ser tudo o que Vini precisa para entrar e surpreender os mais velhos, como tem feito em toda a sua carreira.

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