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Após repercussão negativa, Governo Bolsonaro agora diz que Copa América no Brasil “não é certa”

Ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, foi o único a se pronunciar. CBF cancelou entrevista coletiva e não se manifestou. Tema divide governadores e chega ao Supremo

Luiz Eduardo Ramos, ministro da Casa Civil, se pronunciou para dizer que a Copa América no Brasil ainda não está confirmada.
Luiz Eduardo Ramos, ministro da Casa Civil, se pronunciou para dizer que a Copa América no Brasil ainda não está confirmada.UESLEI MARCELINO (Reuters)
Diogo Magri
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“Copa América no Brasil é inaceitável para a saúde pública e pode impulsionar a terceira onda”
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Copa América será disputada no Brasil em meio à pressão da terceira onda da pandemia
A banner reading 'The Cup of Blood' is seen during a protest against Colombia hosting the Copa America football tournament outside El Campin Stadium in Bogota, on May 19, 2021, as the country faces its worst political and civil crisis in recent history. - The Copa America is scheduled to take place from June 13 to July 10. (Photo by DANIEL MUNOZ / AFP)
Órfã de suas duas sedes, Copa América cai no limbo

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Horas depois de a Conmebol confirmar, através de seu Twitter, que o Brasil substituirá a Colômbia e a Argentina como país-sede da Copa América 2021 e agradecer Jair Bolsonaro pelo acerto, o Governo federal se manifestou pela primeira vez oficialmente na noite desta segunda-feira. E para deixar o evento no ar. “Não tem nada certo”, disse o ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, em declaração dada no Palácio do Planalto ao lado de Marcelo Reis Magalhães, secretário nacional dos Esportes. O presidente Jair Bolsonaro e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), citadas no anúncio da entidade sul-americana, não se pronunciaram.

Foi mais um capítulo de uma dia de forte repercussão negativa para o Governo pelo Brasil aceitar receber um campeonato de proporções continentais, que envolve funcionários, imprensa e membros de delegação de dez seleções sul-americanas quando o país já vê uma nova escalada de contágios da covid-19, que já vitimou mais de 460.000 brasileiros e caminha para a terceira onda. Senadores membros da CPI da Pandemia protocolaram um pedido para o presidente da CBF, Rogério Caboclo, comparecer ao Senado para justificar a decisão, e deputados entraram com ações no Supremo Tribunal Federal (STF) para barrar a competição. O mesmo fez o oposicionista PT. Em meio ao debate sobre quais cidades estariam aptas a receberam as partidas, governadores de Pernambuco e Rio Grande do Norte anunciaram que proibirão a Copa América de acontecer em seus Estados. Já o governador de São Paulo, João Doria, não se opôs ao evento.

Ao longo do dia, a única atitude pública da CBF foi cancelar as entrevistas coletivas dos jogadores Lucas Paquetá e Fred, que estava marcada para o período da tarde, em Teresópolis, Rio de Janeiro, onde a seleção brasileira treina e se concentra para os seus próximos compromissos. Já o Governo federal se manifestou somente por meio do ministro Luiz Eduardo Ramos, já no período da noite, para voltar atrás em relação à confirmação anunciada pela Conmebol. “Não tem nada certo, quero manifestar de forma clara. Estamos no meio do processo, mas não vamos nos furtar a uma demanda, caso seja possível, atender”, explicou o ministro da Casa Civil. “Estamos verificando detalhes. Se Deus quiser, amanhã teremos uma posição final”.

Apesar de ainda não confirmá-la ―ainda―, Ramos destacou que a Copa América não terá público e que cada delegação será limitada a 65 pessoas. Segundo ele, a vacinação de todos os envolvidos será uma condição para a participação no torneio. Ele não explicou, no entanto, como a imunização será possível a tempo do início do torneio, uma vez que a Conmebol garantiu o início dos jogos em 13 de junho, um prazo apertado demais para que qualquer vacina tenha sua eficácia completa. “As sedes serão de responsabilidade da CBF, e de acordo com as escolhas, eles irão tratar com os Estados”, acrescentou o ministro.

Por fim, Ramos defendeu a realização da Copa América ao comparar o evento de mobilização continental, que envolve vindas simultâneas de delegações de várias nacionalidades, com as competições nacionais, que acontecem com deslocamentos dentro do território brasileiro, ou sul-americanas onde apenas uma delegação de clube viaja entre países. “Por que o Brasil vai sediar a Copa América durante uma pandemia? Senhores, primeiro que foi uma demanda realizada via CBF, pela Conmebol. Outra coisa, estamos em plena pandemia, só que o Campeonato Brasileiro, que envolve 20 times na série A, 20 na série B, está ocorrendo com jogos em todo Brasil”, argumentou. “Não sei porque as pessoas se pronunciaram contra o evento, se há os jogos do Brasileiro, ocorreram jogos do estadual, Libertadores e Sul-Americana”, finalizou.

O ministro prometeu bater o martelo sobre o evento nesta terça. Bolsonaro tem sido um entusiasta da realização de jogos de futebol, inclusive com público, mesmo no auge da pandemia. A realização do torneio seria, então, um trunfo para ele e sua base mais radicalizada. “O Governo brasileiro demonstrou agilidade e capacidade de decisão em um momento fundamental. O Brasil vive um momento de estabilidade, tem estrutura comprovada e experiência acumulada e recente para organizar uma competição dessa magnitude”, comemorou Alejandro Domínguez, presidente da Conmebol. O problema é que o Governo está sob pressão tanto pela alta dos contágios e detecção de novas cepas, como a indiana, como pela CPI. O anúncio do evento vem dias depois de a Anvisa, a agência de vigilância sanitária ao Governo, recomendar a proibição da entrada de estrangeiros do Reino Unido, Índia, África do Sul e Irlanda do Norte por ao menos por 14 dias.


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