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Guerra total no futebol europeu: nasce a Superliga

Doze grandes clubes anunciam a criação de uma nova competição que põe em xeque a UEFA e a Champions League

Modric conduz a bola contra pressão de Wijnaldum durante a partida de quartas de final da Champions entre Liverpool e Real Madrid.
Modric conduz a bola contra pressão de Wijnaldum durante a partida de quartas de final da Champions entre Liverpool e Real Madrid.DAVID KLEIN (Reuters)
Ladislao J. Moñino
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An aerial view shows an empty training centre of Jiangsu FC, formerly known as Jiangsu Suning in Nanjing, in eastern China's Jiangsu province on March 2, 2021, after Jiangsu FC on February, 28 said they had "ceased operations". (Photo by STR / AFP) / China OUT
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O anúncio na noite de domingo de uma Superliga semifechada liderada por 12 grandes clubes europeus e à margem da UEFA desencadeou uma guerra que pode provocar uma mudança drástica nas competições e na indústria do futebol tal como são conhecidas. A batalha começou poucas horas antes de o Comitê Executivo do órgão que dirige o futebol europeu apresentar, na segunda-feira, o seu novo modelo de Champions League, com mais jogos e mais confrontos entre os grandes, mas insuficiente para os clubes que anunciaram a criação da Superliga.

O Real Madrid, liderado por Florentino Pérez e inimigo declarado do presidente da UEFA, Alexander Ceferin, o Manchester United, a Juventus, o Barcelona e o Liverpool lideraram a iniciativa. Atlético de Madrid, Arsenal, Tottenham, Manchester City, Chelsea, Inter e Milan (seis clubes ingleses, três espanhóis e três italianos) completam os 12 fundadores da Superliga, segundo o comunicado divulgado à meia-noite espanhola. Florentino Pérez será o presidente e os vice-presidentes serão Andrea Agnelli, presidente da Juventus, e Joel Glazer, proprietário do Manchester United. Segundo fontes do Paris Saint Germain, o clube de capital catariano ainda não está envolvido no plano. Os grandes clubes alemães também estão fora por enquanto. O Bayern de Munique e o Borussia Dortmund não comentaram, mas fontes com conhecimento direto do projeto os incluem para o futuro.

A Superliga teria os 12 clubes fundadores, que nunca seriam rebaixados, mais outros três convidados a esse grupo, e outros cinco que se classificariam a cada ano. Se PSG, Bayern e Dortmund acabarem se juntando à iniciativa, também poderiam gozar do privilégio de não cair. As 20 equipes seriam divididas em dois grupos de 10, com partidas de ida e volta. Os três primeiros de cada grupo se classificariam para as eliminatórias em jogos de ida e volta a partir das quartas de final. Os quartos e quintos jogariam uma eliminatória para completar as oito equipes das quartas de final. No total, seriam 197 jogos em vez dos 125 da atual Champions, embora no projeto que a UEFA apresentará na segunda-feira para combater a Superliga sejam 225.

O desenho organizacional da Superliga contempla a criação de uma corporação fundada na Espanha (SLCo), com participação em partes iguais dos clubes fundadores e da qual dependeriam duas empresas subsidiárias. Uma, também criada em solo espanhol (SL SportsCo), dedicada à gestão da competição, e outra na Holanda (SL MediaCo) para a venda dos direitos de televisão.

Segundo fontes consultadas por este jornal, seriam distribuídos inicialmente 3,525 bilhões de euros (cerca de 23,58 bilhões de reais). A distribuição, caso sejam finalmente 15 fundadores (12 mais os três convidados) ficaria assim: 350 milhões de euros para seis clubes, 225 para quatro, 112,5 para dois e 100 para três clubes. Essas mesmas fontes afirmam que a intenção é iniciar a competição em 2022.

A receita de televisão que a competição que rompe com a UEFA geraria é estimada em cerca de quatro bilhões de euros. Esse montante seria distribuído da seguinte forma: 65% para os clubes fundadores, 20% por méritos esportivos na competição e 15% para a distribuição comercial. Os clubes da Superliga receberiam ao menos cerca de 60 milhões pela participação e o vencedor levaria pouco mais de 250 milhões de euros, mais que o dobro do que ganha o vencedor da atual Champions League. Por trás do financiamento estaria a investidora Key Capital. Segundo vários meios de comunicação italianos, a plataforma DAZN compraria os direitos de televisão.

De acordo com o comunicado dos clubes separatistas, estes não têm intenção de abandonar as ligas nacionais e também são esperados fundos de solidariedade superiores aos atualmente destinados pela UEFA, de até um bilhão de euros. A competição seria disputada durante a semana, exceto a final, e começaria em meados de agosto. Os clubes envolvidos pretendem negociar um calendário com a FIFA, a UEFA e as ligas nacionais, mas o acordo não será fácil. Por conta disso, espera-se uma guerra cruenta em que os adversários da Superliga tentarão se fortalecer. A FIFA anunciou que é contra, mas que busca o diálogo.

“Vamos ajudar o futebol em todos os níveis a ocupar o lugar que lhe corresponde no mundo”, afirmou Florentino Pérez. “O futebol é o único esporte global no mundo com mais de quatro bilhões de seguidores e nossa responsabilidade como grandes clubes é atender aos desejos dos torcedores. Nos reunimos neste momento crítico para que a competição europeia se transforme”.

Fora dos torneios

Diante desta aposta arriscada, a UEFA reagiu neste domingo com um comunicado contundente, apoiada pelas principais ligas e federações, e classificou o projeto separatista como “não solidário” e “cínico”. “Os clubes em questão não poderão jogar em nenhuma outra competição em nível nacional, europeu ou mundial e os seus jogadores poderiam ser privados da oportunidade de representar suas seleções nacionais”, diz o comunicado. A UEFA também lançou um alerta geral. “Fazemos um chamado a todos os amantes do futebol, torcedores e políticos, a se juntarem a nós na luta contra este projeto”, conclui o comunicado.

Tais ameaças, no entanto, não amedrontaram os promotores da Superliga, que duvidam que a UEFA ou a FIFA organizem as Eurocopas ou as Copas do Mundo sem as estrelas dos clubes. O conflito será resolvido nos escritórios dos grandes clubes, nos da UEFA e da FIFA, e na justiça comum.

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