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Edina Alves, a primeira árbitra em um Mundial masculino

Brasileira participa do torneio de clubes da FIFA no Qatar. Outras duas profissionais latino-americanas atuarão como auxiliares

Edina Alves durante a partida entre o mexicano Tigres e o sul-coreano Ulsan Hyundao, na quinta-feira, pelo Mundial de Clubes no Qatar.
Edina Alves durante a partida entre o mexicano Tigres e o sul-coreano Ulsan Hyundao, na quinta-feira, pelo Mundial de Clubes no Qatar.KARIM JAAFAR (AFP)
Naiara Galarraga Gortázar
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A brasileira Edina Alves, 41, conquistou um lugar na história do futebol. Mais especificamente, entre as pioneiras. Ela é a primeira árbitra escolhida pela FIFA para apitar uma partida em um campeonato internacional masculino, o Mundial de Clubes, que está sendo disputado no Qatar até o dia 11. Estreou no domingo, na partida entre Al Duhail e Ulsan Hyundai FC, na disputa pelo quinto lugar, e na quinta-feira atuou como o quarto árbitro na partida de quartas de final entre o Tigres, do México, e o sul-coreano Ulsan Hyundai. Outras duas mulheres, também latino-americanas, atuaram como auxiliares na estreia de Edina, a também brasileira Neuza Back e a argentina Mariana de Almeida. O Bayern de Munique é o favorito.

“Se fosse para pensar na minha carreira, claro, é uma conquista única, mas comigo estão milhares de mulheres que lutam para vencer na vida, nas suas profissões”, disse ela ao jornal Folha de S.Paulo há poucos dias, no Qatar, para onde viajou com antecedência para ficar em quarentena antes do Mundial. A FIFA vem incorporando mulheres às suas equipes de arbitragem nos últimos anos. Elas já participam da Copa Feminina e de Mundiais masculinos nas categorias inferiores.

Ser árbitro nunca foi um passeio para elas, nem para eles. Nem mesmo em jogos de praia. É por isso que Alves está perfeitamente ciente de sua responsabilidade para com milhões de meninas, os fãs e os dirigentes da FIFA. “Não é fácil estar à frente porque (o que você faz) pode respingar em quem vier atrás. Se você vai mal, cai tudo por terra. Todo mundo vai dizer ‘ah, mulher não aguenta’ ou ‘mulher não tem capacidade’, explicou na entrevista citada esta mulher que arbitrou uma dezena de jogos na Primeira Divisão.

Back e Alves formam há anos uma equipe no país que deu o rei Pelé e a rainha Marta. Em meados do ano passado, a dupla brasileira participou da Copa do Mundo feminina na França. Elas arbitram e treinam juntas em São Paulo. Foram selecionadas depois dos testes físicos exigidos.

Receberam a notícia no carro. Voltavam do treinamento quando o celular de Alves tocou. Era um dirigente da Confederação Brasileira de Futebol que ligava para avisar que iam para o Mundial. “No primeiro instante, pensei que fosse algo feminino... só depois me dei conta. Fiquei emocionada, todo o filme passou pela minha cabeça. Saímos do carro, Neuza me abraçou. Trabalhar em uma competição masculina era um dos nossos objetivos”, explicou Alves ao blog Dibradoras.

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Roberta Nina, uma das fundadoras dessa mídia digital que cobre o esporte feminino brasileiro, detalha em uma mensagem o contexto, porque Alves não é a pioneira em arbitragem, mas Sílvia Regina de Oliveira nos anos 2000. “O Brasil foi um dos países pioneiros em ter uma árbitra apitando na primeira divisão nacional do futebol masculino (Série A), em 2006. Depois disso, ficamos 14 anos sem nenhuma outra mulher para repetir o feito. Quem conseguiu isso foi justamente Edina Alves, em 2019”, explica Nina.

Quando menina, a paixão de Alves era a bola. Jogava futsal, basquete... qualquer coisa com a bola. “O futebol de 11 [jogadores] era mais difícil porque naquela época não havia meninas suficientes para formar um time, mas fazíamos equipes mistas”, acrescentou a árbitra.

Mas logo assumiu que sua vocação não era marcar nem impedir gols. Sabia que queria ser árbitra, mas a história, a tradição e o ambiente a detinham. No campeonato do Paraná, onde nasceu, estava capacitada para apitar e ser auxiliar, mas só atuava como titular nas partidas femininas e masculinas de base; nas de adultos, permanecia como bandeirinha. Decidiu assumir nesse papel secundário quando se incorporou às fileiras da federação nacional. Mas em 2014 mudou de ideia e partiu com tudo para sua vocação inicial. O empurrão quem deu foi Back, que há anos atua como auxiliar.

Teve que começar do zero. Sua vasta experiência como bandeirinha na primeira divisão do Brasil não valia para comandar jogos. Já instalada na elite e com os olhos postos na FIFA, teve que começar a formação para se tornar árbitra. A cofundadora do Dibradoras ressalta que 10% de todas as pessoas oficialmente preparadas para apitar ou ser juíza de linha em partidas da confederação brasileira de futebol são mulheres, “então ainda há um longo caminho a percorrer”. Mas este é outro teto de vidro rompido. Milhões de espectadores verão uma mulher entre os árbitros de um Mundial de Clubes.

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