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Messi comunica que deseja deixar o Barcelona

Atacante argentino enviou carta ao clube catalão informando que está decidido a deixar o clube

Messi deixa o Barcelona
Rafael Marchante (Reuters)
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Lisbon (Portugal), 14/08/2020.- Bayern Munich's Joshua Kimmich (C-R) celebrates with his teammates after scoring a goal against FC Barcelona during the UEFA Champions League quarter final soccer match held at Luz Stadium in Lisbon, Portugal, 14 August 2020. (Liga de Campeones, Lisboa) EFE/EPA/TIAGO PETINGA
A grande desonra do Barça

Lionel Messi comunicou hoje sua intenção de deixar o Barça. Em uma carta registrada enviada ao departamento jurídico do clube azul-grená, o jogador argentino explica sua decisão de ativar a cláusula que lhe permite deixar o Barcelona no final de cada temporada, um termo difícil de definir neste momento e que implicará em um litígio com o clube.

Inicialmente, o capitão do Barcelona teve tempo para ativar a cláusula até 31 de maio, data que se entendia como o fim da temporada 2019-2020. No entanto, a temporada foi estendida até 23 de agosto, com a disputa da Champions League. Messi, portanto, entende que está livre, enquanto a diretoria considera que o prazo expirou em 10 de junho.

O acordo do jogador com o clube termina em junho de 2021 e, portanto, poderia ter negociado sua saída a partir do próximo mês de janeiro, depois de ter interrompido as negociações para renovar um contrato assinado em 2017 e que inclui uma cláusula de rescisão de 700 milhões de euros (cerca de 4,56 bilhões de reais). Foi em 2017 que decidiu incluir a possibilidade de sair ao final de cada temporada, como adiantou o EL PAÍS.

Vários clubes estavam à espera da decisão de Messi. O Manchester City elaborou há muito tempo um relatório fácil de atualizar sobre a viabilidade econômica da contração do argentino se o jogador um dia decidisse deixar o Barcelona. As duas partes chegaram até a conversar em 2013 e 2016, quando o jogador hesitava sobre sua continuidade no Camp Nou. O camisa 10 deu um passo atrás nas duas ocasiões e, desde então, o clube inglês não quis mais saber de hipóteses, condicionado também pela vontade do treinador Pep Guardiola e do secretário técnico Txiki Begiristáin, ambos com passado azul-grená, de não entrar em conflito com o Barça.

O City não é o único interessado em saber o que Messi quer. Também há especulação sobre o interesse de Manchester United, Paris Saint Germain e Inter de Milão. Todos concordam que quem tem de tomar a iniciativa agora é o argentino, depois de ter avisado que se sentia mais dentro do que fora do Barça em uma conversa com Ronald Koeman e comunicar seu desejo de deixar o Camp Nou. O capitão não gostou muito do que o esperava depois da conversa com o técnico holandês: seria o líder e encontraria seu lugar no Camp Nou. O espaço, porém, seria diferente porque a ordem, as circunstâncias e até os amigos mudaram desde o anúncio da rescisão contratual de Luis Suárez.

O elenco deve se reapresentar no domingo e Koeman queria colocar em prática seu plano com Messi. O jogador não abriu a boca desde Lisboa [onde o Barça foi eliminado da Champions] e, no entanto, o seu silêncio sempre foi interpretado mais como o anúncio de uma declaração de ruptura do que de vontade de chegar a um acordo, com o barcelonismo prisioneiro do temor reverencial provocado pela figura do camisa 10 e seu desgosto pela derrota por 8 a 2 diante do Bayern. Aos 33 anos, Messi está cansado de perder, sem saber ainda em que time poderia ganhar, e farto de ser enganado pelo presidente Josep Maria Bartomeu.

No último ano de mandato da atual diretoria, só lhe resta o escudo de Messi, e havia grandes suspeitas sobre seu uso depois do tratamento recebido por Johan Cruyff e Pep Guardiola. Isso geralmente acontece quando aqueles que dirigem a entidade esquecem sua função de facilitadores e querem ser mais protagonistas do que os jogadores, como se seu mandato fosse único num momento único com uma equipe única, a melhor da história do Barça. Até o slogan eleitoral de Bartomeu era conjuntural: “Temos tríplice coroa, temos tridente”, proclamou feliz em 2015.

O tridente já é história; apenas Messi permaneceu. Ninguém tampouco falará mais da melhor equipe do mundo, do estilo de la Masia, depois do 8 a 2. Também não procede se vangloriar quando se liquidou Luis Suárez, o terceiro maior artilheiro azul-grená, com um telefonema de Koeman. A regressão foi manifesta, progressiva e até denunciada por Messi desde a Champions de Berlim [temporada 2014-2015]. Bartomeu teve tempo para se corrigir e, no entanto, o Barça foi piorando até o colapso contra o Bayern de Munique de Thiago.

O Barcelona se aguentou enquanto isso por causa de Messi. O problema é que o desgoverno da diretoria favoreceu a autogestão do elenco em torno do camisa 10. Um exercício de sobrevivência, suficiente para dominar as competições nacionais até a última temporada e também decisivo para a formação de um ecossistema que marcou o modo de vida e também o jogo do Barça. A integração no vestiário não foi fácil para os jogadores e os treinadores que chegaram desde a saída de figuras fundamentais como Puyol, Xavi ou Iniesta.

Messi assumiu o papel dos que saíram e chegaram até que se perguntou por seu destino a partir de Lisboa. O desgaste foi enorme e sua obra é tão majestosa que ganhou o direito de decidir e, portanto, de pôr ponto final a sua vida no Barça quando quiser. Há quem suspire porque a partida acontecerá cedo para evitar que seja maltratado pela máquina autodestrutiva azul-grená que condiciona as mudanças naturais no Camp Nou. Há também aqueles que enxergam uma oportunidade única de honrar seu passado com uma decisão solene e seguir o caminho de Iniesta, Daniel Alves, Mascherano, Neymar e Xavi. Todos os que figuravam na escalação campeã continental de 2015 saíram do clube por vontade própria, aborrecidos com as atitudes da diretoria de Bartomeu.

O próprio Messi preparou seu plano para sair porque não confiava na diretoria quando renovou em 2017. Tem uma cláusula que lhe permite deixar o clube no final de cada temporada e é sabido que interrompeu as negociações para renovar o acordo que expira em 2021. Certamente há uma contrapartida: sua liberdade custa 700 milhões de euros e sua transferência cerca de 50 milhões de euros líquidos quando ficasse livre para negociar em janeiro de 2021.

Agora usou uma via não prevista: o prazo de validade da cláusula de saída, que coloca o contencioso no limbo. Messi, por enquanto, demarcou o terreno: não pensa em comparecer à concentração do elenco no domingo nem tampouco em voltar ao Barça.

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