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Para ter o bi Mundial, Flamengo terá de dobrar o favorito e “socialista” Liverpool

Time britânico entra em campo com um orçamento dez vezes maior, detentor de um histórico recente de títulos no futebol europeu e com um coeso grupo dos melhores jogadores do planeta

Flamengo x Liverpool.  Mundial de Clubes
Roberto Firmino comemora com Alexander-Arnold o gol da vitória contra o Monterrey.KAI PFAFFENBACH (Reuters)
Diogo Magri

Em dezembro de 1981, o Liverpool foi colocado na roda pelo Flamengo. O jogo único disputado em Tóquio, válido pela então chamada Copa Intercontinental, colocou frente a frente os campeões sul-americanos contra os campeões europeus pelo título de melhor time do mundo e, daquela vez, os brasileiros levaram a melhor. Apesar do bom time inglês, dominante no seu país e no seu continente na época, o time de Zico venceu por 3 a 0 com gols de Nunes e Adílio. Depois de 38 anos, Flamengo e Liverpool voltam a se encontrar na final do Mundial, sob outras circunstâncias. Os rubro-negros estão badalados mas, diferentemente de 1981, a diferença de nível entre o futebol europeu e o futebol brasileiro credencia o Liverpool como favorito à conquista inédita.

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O Liverpool que perdeu para o Flamengo de Zico vivia um momento melhor do que o atual. Os reds ganharam a Champions em 77, 78, 81 e 84, além de 11 títulos ingleses entre as décadas de 70 e 80. O time que foi derrotado em 81 tinha o meia Kenny Dalglish e o treinador Bob Paisley, duas das figuras mais vitoriosas da história do futebol inglês. O tetracampeão europeu desistiu de disputar o Mundial em 1977 e 1978 por conta do calendário. Perdeu para o Flamengo na sua estreia no torneio e, três anos mais tarde, também foi derrotado para o Independiente em Tóquio.

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Depois de 1984, o Liverpool voltou ao Mundial somente em 2005, com o formato de torneio diferente, com representantes de todos os continentes, que persiste até hoje. Comandados pela estrela Gerrard, os ingleses venceram o Milan na final da Champions e foram à final no Japão contra o São Paulo como favoritos, uma vez que a diferença de nível entre europeus e brasileiros já era muito maior que na década de 80. “Nós nos sentimos imbatíveis”, declarou Gerrard antes da decisão. Com muito esforço, os são-paulinos seguraram a pressão europeia e venceram por 1 a 0, aumentando o jejum intercontinental da equipe inglesa.

O socialista Klopp

Depois de um vice na Champions de 2007, o Liverpool sofreu com alguns anos de crise antes de ser resgatado pelo treinador alemão Jürgen Klopp, um socialista cristão que não se encabula na hora de falar suas opiniões políticas (“Nunca votarei em um partido porque promete baixar os impostos. Se há algo que jamais farei em toda minha vida é votar na direita”) e que se encaixou como luva no histórico do time e da cidade.

Contratado em 2015, Klopp foi o responsável por trazer Mané, Salah, Robertson, Van Dijk, Alisson e Fabinho, todos pilares do time atual. Foi vice-campeão da Liga dos Campeões em 2017 perdendo a final para o Real Madrid, mas fez uma temporada seguinte impecável: terminou o campeonato inglês na segunda posição, com somente uma derrota e um ponto atrás do campeão Manchester City, e ficou com o título europeu em uma campanha que teve uma virada épica contra o Barcelona e uma vitória contra o Tottenham na final. Na atual temporada, são 28 jogos, 21 vitórias e duas derrotas, sendo uma com um time sub-20, pela Copa da Liga Inglesa, no jogo que foi disputado um dia antes da semifinal contra o Monterrey. O clube lidera a Premier League com dez pontos de vantagem e está nas oitavas da Champions.

“Não estamos aqui para mostrar que a Europa é mais forte. Só estamos aqui para vencer o jogo”, declarou Klopp após derrotar o Monterrey. “O Flamengo tem um bom treinador e bons jogadores. Vai ser uma partida muito difícil e temos que nos preparar”, afirmou o treinador. A qualidade rubro-negra é reconhecível, mas não é comparável à adversária. Segundo o site especializado Transfermarkt, o provável time titular do Liverpool para a final vale quase dez vez mais que o do Flamengo (912 milhões de euros contra 92 milhões de euros).

Na defesa, os ingleses tem o brasileiro Alisson, o melhor goleiro do mundo, Van Dijk, o segundo melhor jogador do mundo, e os dois laterais que estão entre os líderes em assistências na Europa: Alexander-Arnold e Robertson. O meio-campo traz um trio de jogadores intensos e versáteis, onde revezam Fabinho, Henderson, Wijnaldum, Milner, Keita e Oxlade-Chamberlain. No ataque, o trio que joga junto há mais de dois anos e se tornou o mais conhecido no mundo: Salah, Mané e Roberto Firmino. Para o Mundial, Klopp tem o desfalque de dois zagueiros, Lovren e Matip, além de Fabinho. Wijnaldum se recupera de lesão e Van Dijk ficou fora da semifinal por conta de uma gripe.

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A forma como Klopp trabalha com os desfalques é uma prova da importância que o Mundial tem para o Liverpool. Enquanto o Flamengo só tem compromissos importantes a partir de fevereiro do ano que vem, o time inglês enfrenta o vice-líder do campeonato, Leicester, na próxima quinta. E Klopp não deve sacrificar a posição no torneio nacional para ganhar o intercontinental. “As situações são diferentes”, disse na entrevista coletiva antes da final. “O Flamengo veio com a ordem de vencer e voltarem como herois. Nós ouvimos: ‘fiquem e joguem a Copa da Liga’. Mas estamos aqui”, completou. Contra o Monterrey, o treinador poupou Arnold, Mané e Firmino, colocando-os apenas quando precisava evitar a prorrogação. Van Dijk e Wijnaldum também ficaram de fora, o que obrigou Klopp a improvisar Henderson na zaga. O gol marcado pelos mexicanos aconteceu por deslize do volante deslocado na defesa.

Se colocar Van Dijk como titular for arriscar a presença do segundo melhor jogador do mundo nas partidas seguintes do campeonato inglês, Klopp deixou subentendido que não deve fazê-lo. E o caminho do Flamengo para a vitória passa não só por possíveis remendos na defesa inglesa, mas pelo maior interesse no título mundial que os brasileiros têm quando comparados aos europeus. No entanto, apesar das prioridades, é o time do Liverpool que está em outro patamar, com um orçamento dez vezes maior, detentor de um histórico recente de títulos no futebol europeu e formado pelos melhores jogadores do planeta.

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