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Mercados alertam para risco político nas economias do Chile, da Colômbia e do Peru

Incerteza política no Peru e tensão social na Colômbia e no Chile ameaçam “obstruir o crescimento” econômico, segundo bancos de investimento e agências de classificação de risco

Isabella Cota
Uma rua da comunidade do morro San Cristóbal, em Lima.
Uma rua da comunidade do morro San Cristóbal, em Lima.Paolo Aguilar (EFE)
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FILE PHOTO: The Citgo Petroleum Corporation headquarters are pictured in Houston, Texas, U.S., February 19, 2019.  REUTERS/Loren Elliott/File Photo
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As economias do Chile, da Colômbia e do Peru estão mostrando força mesmo com a continuidade da pandemia de covid-19, mas seus ambientes políticos estão contribuindo para a volatilidade dos mercados, de acordo com diferentes bancos de investimento e com a agência de classificação de risco Fitch Ratings. Em relatórios publicados nesta semana, analistas expressaram preocupação com políticas populistas, pressões nas finanças públicas e mal-estar social.

“O intenso ciclo eleitoral da região andina aumenta a incerteza fiscal em meio às crescentes pressões dos gastos sociais”, escreveram analistas da Fitch Ratings em um relatório publicado na quinta-feira. O Chile elegerá um novo presidente no final deste ano, a Colômbia terá eleições no início de 2022, e no Peru foi empossado recentemente um novo Governo. “A tensão política e o descontentamento social, que podem obstruir o crescimento ou a consolidação fiscal, estavam se acumulando antes que a pandemia expusesse a fraqueza dos sistemas de saúde e das redes de segurança social, assim como a desigualdade de renda”, aponta o relatório da empresa.

Chile

Segundo dados oficiais publicados na quarta-feira, a economia chilena cresceu 1% no segundo trimestre deste ano, em comparação com o trimestre anterior. Essa pequena desaceleração em relação ao crescimento de 3,4% no primeiro trimestre se deve ao aumento de infecções registrado em março, o que forçou as autoridades a voltar a impor medidas de confinamento. Mas forças econômicas como o consumo privado, os gastos públicos e o investimento continuaram avançando.

“Em relação ao futuro, outra rodada de saque de fundos de pensão, taxas de juros ainda baixas, uma forte demanda mundial por cobre e uma destacada campanha de vacinação deveriam ajudar a economia a ganhar impulso nos próximos trimestres, o que significa que o Chile está em uma boa posição para liderar a recuperação econômica da região neste ano”, disse em uma nota para clientes o estrategista de mercado do banco de investimento Mizuho, Luciano Rostagno. “Projetamos que o Produto Interno Bruto vá crescer 10% neste ano, contra 9,0% no anterior.”

A Fitch, por sua vez, destacou em seu relatório as políticas públicas promovidas pelo Congresso: “O processo de reforma constitucional mais claramente definido do Chile deu à frustração popular uma saída institucional, mas o Congresso iniciou medidas populistas, como saques de fundos de pensão, e a corrida presidencial continua aberta”. A Fitch rebaixou a qualificação da dívida soberana do Chile durante a pandemia, mas mantém o grau de investimento.

Colômbia

O PIB da Colômbia cresceu 17,6% no segundo trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, mas, na comparação intertrimestral, teve uma queda de 2,4% —uma contração maior do que a prevista pelos analistas. “O setor manufatureiro, a construção e o comércio atacadista e varejista tiveram fortes quedas na produção no segundo trimestre, em meio a um aumento nas infecções por coronavírus e às interrupções causadas por protestos violentos”, assinalou Rostagno.

“Esperamos que a economia colombiana ganhe impulso nos próximos trimestres, já que uma queda notável nos casos de coronavírus permite a reabertura da economia e a recuperação da atividade de serviços, e os termos de troca favoráveis ajudam a impulsionar o setor industrial”, disse o especialista em mercados. “Devemos levar em conta, no entanto, que a incerteza política continua sendo um grande obstáculo e poderia frear os investimentos.”

As pesquisas indicam que o candidato de esquerda Gustavo Petro chegaria ao segundo turno das eleições presidenciais da Colômbia em junho, apontou a Fitch em seu relatório. “Petro não defende mudanças constitucionais, e os freios e contrapesos impediriam mudanças drásticas nas políticas. As propostas de reforma fiscal foram revistas depois de uma reação popular”, acrescentou a agência. A Fitch rebaixou a classificação da Colômbia neste ano, causando a perda do grau de investimento de sua dívida.

Peru

A economia peruana também foi afetada por restrições de mobilidade no início do segundo trimestre, por isso analistas esperam que o PIB trimestral, que será divulgado na segunda-feira, fique perto do nível do trimestre anterior.

“A atividade continuou mostrando em junho uma taxa de crescimento interanual elevada, ficando até mesmo acima do nível que alcançou em junho de 2019 (antes da crise sanitária)”, assinalaram analistas do banco de investimento BBVA em um relatório publicado nesta semana. “E o emprego também segue uma trajetória de normalização, mas a fragilidade da confiança dos agentes do setor privado provavelmente afetará seus gastos futuros, moderando tanto a recuperação da atividade como a do emprego”.

A fragilidade da confiança se refere à incerteza que os investidores expressaram em relação ao Peru com a chegada ao poder do presidente Pedro Castillo, cujo Governo já sofreu sua primeira renúncia e tem sido criticado por erros e falta de clareza. “A incerteza política continua alta no Peru após a eleição do Pedro Castillo com uma plataforma populista de esquerda”, opinaram os analistas da Fitch. “Castillo moderou algumas propostas de campanha, e mudanças radicais no modelo econômico de livre mercado enfrentariam oposição.”

“Mas seus planos para uma Assembleia Constituinte poderiam pesar nas perspectivas de investimento e crescimento”, acrescentou a agência. “Os desafios de governabilidade ofuscam as perspectivas de reformas para reduzir a informalidade no marcado de trabalho.”

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