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Preço da energia sobe na OCDE no ritmo mais alto desde setembro de 2008

Consumidores dos 38 países do clube pagaram em média 18,6% a mais em maio. No Brasil, agência aprova alta na bandeira vermelha da luz e Petrobras anuncia que gasolina e gás ficarão mais caros

Manifestantes cobram análise do marco legal da energia solar em protesto em frente ao Congresso, em 9 de junho.
Manifestantes cobram análise do marco legal da energia solar em protesto em frente ao Congresso, em 9 de junho.ADRIANO MACHADO (Reuters)
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A escalada do custo da energia continua sendo o grande catalisador da inflação no mundo inteiro. Nesta segunda-feira, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) informou que os preços aumentaram em média 3,8% entre seus membros durante o mês de maio. E destacou um fator-chave: os preços da energia aumentaram 18,6%, a taxa mais alta desde setembro de 2008, pouco antes de a Grande Recessão provocar seu colapso.

O impacto da alta da energia continuará sendo percebido nos próximos meses, já que o petróleo continua subindo desde então, com o Brent europeu cotado acima dos 76 dólares (385 reais), 10% a mais que os cerca de 70 dólares do final de maio. O embate entre a Arábia Saudita e os Emirados Árabes no seio da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), sobre os aumentos de produção para este ano e o próximo, está elevando as incertezas. E ameaça provocar novos aumentos de preço caso as posições continuem acirradas.

No Brasil, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou um reajuste de 52% na bandeira tarifária vermelha 2, o mais alto do sistema, de 6,24 reais para 9,49 reais para cada 100 kWh consumidos. Esta taxa é cobrada quando existe um aumento nos custos da geração de energia, como explica o repórter Gil Alessi. A Petrobras também anunciou que vai aumentar os preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha a partir desta terça-feira. Segundo a estatal, os reajustes acompanham a elevação nos patamares internacionais de preços de petróleo e derivados, informa a Agência Brasil.

Entre as maiores economias, os Estados Unidos são, de longe, o país em que a pressão inflacionária é mais sentida. Os preços subiram 5% em maio, o que tornou mais audíveis as vozes dos falcões —como são chamados aqueles que sustentam as posições mais duras e ortodoxa— pedindo a retirada dos grandes estímulos concedidos pela Casa Branca. A inflação levou o Federal Reserve a agir para evitar o superaquecimento excessivo: antecipou em alguns meses —até o final de 2023— sua previsão do primeiro aumento das taxas de juros.

A alta na Alemanha, país europeu onde a inflação é tradicionalmente percebida de forma mais negativa entre seus dirigentes, foi a metade da dos Estados Unidos, 2,5%, após cinco meses ininterruptos de avanço resultante em parte da decisão do Governo alemão de retirar a redução do IVA, para encorajar o consumo durante a pandemia. Com exceção do Japão, onde ainda permaneciam ligeiramente negativos, apesar da abundante liquidez injetada no sistema, os aumentos de preços foram generalizados em maio. Na Espanha, subiram 2,7%, o seu nível mais elevado em quatro anos, e na zona do euro, 2%. Em outras grandes economias europeias, como a França (1,4%) e a Itália (1,2), a alta dos preços é mais contida.

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Embora a energia seja o item sempre citado primeiro, existem outras variáveis na equação. Matérias-primas como cobre e ferro beiram recordes históricos, o boom da demanda mundial causou gargalos nas cadeias de abastecimento e escassez de chips, essenciais para a produção de automóveis, consoles de videogame, telefones, computadores e equipamentos médicos. E a redução da oferta geralmente conduz a aumento de preços. Além disso, a poupança feita durante a pandemia, quando as restrições sufocaram o consumo, começam a circular, sobretudo em países que se encontram em fase mais avançada de recuperação, como os Estados Unidos.

Na Argentina, 48,8% de inflação

Se considerarmos apenas o núcleo da inflação, que exclui os elementos mais voláteis (energia e alimentos), nos 38 países da OCDE os preços aumentaram, em média, 2,9% em maio, ante 2,4% em abril. É preciso voltar a agosto de 2002 para encontrar porcentuais como esses, que excedem a meta de 2% estabelecida pelos grandes bancos centrais.

Em seu comunicado, a OCDE lembra que esse fenômeno também ocorreu em alguns Estados que não integram. Em casos como Argentina (48,8% de alta de preços), de forma estratosférica, mas também com força no Brasil (8,06%), Rússia (6%), Arábia Saudita (5,7%), Índia (5,3%) e África do Sul (5,2%). A China, embora tenha saído da crise pandêmica com muito mais rapidez, também contorna a inflação, de 1,3% em maio.

Em situações de elevação de preços, há duas visões opostas sobre a magnitude do problema. A primeira, compartilhada por instituições como o Federal Reserve e o Banco Central Europeu, minimiza os perigos da inflação, aponta para o seu caráter temporário e a atribui em parte ao efeito comparativo com 2020, quando os confinamentos derrubaram os preços. A segunda tese, defendida pelos falcões, traça um cenário muito mais sinistro, de inflação sustentada ao longo do tempo, e eles pedem aos bancos centrais mudanças na política monetária para contê-la.

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