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Quando trabalhar um dia a menos funciona

Produtividade de divisão da Microsoft no Japão disparou 40% depois de redução da semana de trabalho para quatro dias

Uma mãe trabalha em 'home office' com sua filha no colo.
Uma mãe trabalha em 'home office' com sua filha no colo.Franziska & Tom Werner (Getty Images)
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Quando o mundo parou no ano passado, os 1.000 funcionários da empresa de tecnologia Awin, com sede em Berlim, foram para casa, abriram seus laptops e começaram a trabalhar na cozinha ou na sala. Para reduzir o estresse do trabalho em casa, a administração deu folga aos funcionários nas tardes de sexta-feira. O experimento foi tão bem-sucedido — vendas, envolvimento da equipe e satisfação do cliente aumentaram—que em janeiro passado a empresa decidiu dar um passo adiante e lançar a semana de quatro dias para todos, sem cortes de salários ou benefícios. “Acreditamos fortemente que funcionários felizes, engajados e equilibrados produzem um trabalho muito melhor”, disse o diretor-geral da empresa, Adam Ross, em entrevista à Bloomberg. “Encontram maneiras de trabalhar de forma mais inteligente e são igualmente produtivos.”

Depois de mais de um mês de testes, a empresa de tecnologia, subsidiária da Axel Springer, passou por alguns problemas técnicos ao reduzir a jornada de trabalho, como a coordenação das folgas — o funcionário tem liberdade para escolher seu dia livre ou dividi-lo em dois meio-períodos—, mas Ross não consegue mais se imaginar recuando. Depois de passar seis anos com um pé em Londres e outro em Berlim, ele agora desfruta um dia por semana com a agenda livre, o que lhe permite ficar com a família. As empresas “costumavam “adotar medidas para a saúde física das pessoas, mas nunca para a saúde mental”, diz o executivo. “Vejo que isso está mudando e queremos ser um motor para isso.”

A fórmula adotada por esta empresa alemã ainda é extremamente rara, mas nos últimos anos vem ganhando adeptos, sobretudo com a pandemia, que acelerou a digitalização e o home office. O site de ofertas de empregos ZipRecruiter constatou que a fatia de anúncios que mencionam semana de quatro dias triplicou nos últimos três anos.

Um dos casos de maior destaque em nível internacional foi o teste que a Microsoft realizou em agosto em sua divisão japonesa, que passou a operar apenas de segunda a quinta-feira. Os resultados revolucionaram o setor e chegaram às manchetes: a produtividade disparou 40%. O trabalho diário foi compactado para aproveitar melhor o tempo, segundo explicou a empresa de tecnologia, e eles passaram da comunicação por e-mail para o chat. Além disso, foi imposto um limite de meia hora às reuniões e estas foram limitadas a cinco pessoas.

Outra gigante que aderiu ao experimento foi a Unilever, fabricante de produtos para o corpo. Desde dezembro, 81 funcionários da subsidiária do grupo na Nova Zelândia trabalham 32 horas por semana, num total de três meses até agora, e se o teste funcionar — vai durar um ano — a empresa poderá extrapolar o sistema para seus 155.000 funcionários em todo o mundo. “Nosso objetivo é medir o desempenho com base na produção, não no tempo. Acreditamos que a maneira antiga de trabalhar está desatualizada e não é mais adequada”, diz o diretor da Unilever da Nova Zelândia, Nick Bangs.

Espanha adotará ainda em 2021

Na Espanha, a empresa Software Delsol, com sede em Jaén, foi pioneira na redução de um dia de trabalho por semana, há pouco mais de um ano, e outras a seguiram, como os restaurantes La Francachela em Madrid. A Delsol garante que a mudança tem sido “muito positiva”, tanto na produtividade como na disposição dos funcionários, com redução de 28% no absenteísmo e um crescimento do faturamento de 20%. A empresa esclarece que, em contrapartida, o turno diário é de nove horas, 36 por semana.

A implementação em larga escala desta fórmula na Espanha poderá ocorrer este ano, uma vez que o partido Más País e o Governo concordaram em financiar com 50 milhões de euros (332 milhões de reais) as empresas que adotarem essa medida, embora os pormenores ainda não tenham sido elaborados com o Ministério da Indústria, que se reunirá com a legenda de Íñigo Errejón no final de março.

Alguns empresários não hesitaram em contatar os promotores do programa, como é o caso de Pilar Saiz, que gerencia o Hotel Torrecedo, de uma estrela e situado em Las Arenas (Astúrias), junto aos Picos de Europa. “Nossa filosofia é criar um ambiente agradável, no qual as pessoas se sintam confortáveis, felizes, e também possamos ganhar dinheiro”, conta por telefone. “Vemos que é difícil de implementar, especialmente no setor hoteleiro, mas queremos tentar e a equipe está encantada, obviamente.” Enquanto aguardam a seleção, já calculam que terão que incorporar “pelo menos uma ou duas pessoas” ao quadro de sete funcionários para cobrir a redução das horas trabalhadas, aos quais poderão pagar com a ajuda preparada pelo Governo.

Pilar Saiz e seu marido, Jim Thomson, proprietários do Hotel Torrecedo, em Astúrias. Foto enviada pelo casal.
Pilar Saiz e seu marido, Jim Thomson, proprietários do Hotel Torrecedo, em Astúrias. Foto enviada pelo casal.

De acordo com a minuta do projeto, o auxílio chegará a cerca de 200 empresas, “nem muito grandes nem muito pequenas”, nas palavras de Héctor Tejero, coordenador político do Más País, que descarta a inclusão de negócios com menos de 6 empregados (embora ainda não seja um número definitivo) por causa da complexidade de adaptação a turnos reduzidos com tão poucos funcionários.

A ajuda cobriria 100% da diferença no custo salarial por hora trabalhada que a empresa participante tiver no primeiro ano, 50% no segundo e 25% no terceiro, mas Tejero ressalva que também estão estudando outras fórmulas, como substituir a ajuda direta por assessoria às empresas do projeto. Em troca, elas se comprometeriam a manter ou expandir sua força de trabalho e salários.

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