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Contratação de temporários cresce e vira alternativa em tempos de incertezas com a pandemia

Número de admissões por meio da modalidade chegou a mais de 2 milhões em 2020, uma alta de 35%. Contratações foram puxadas por setores como o de alimentos e farmacêutica, com demanda em alta

Camila Costa (E) está trabalhando como temporária desde de dezembro na equipe de Recursos Humanos, coordenada por Ariana Lima (D).
Camila Costa (E) está trabalhando como temporária desde de dezembro na equipe de Recursos Humanos, coordenada por Ariana Lima (D).

O abre e fecha do comércio e as incertezas sobre os rumos da economia em meio à pandemia de covid-19 tem impulsionado a contratação de trabalhadores temporários no Brasil. O número de admissões realizadas por meio da modalidade chegou a mais de 2 milhões em 2020, um aumento de 34,8% em relação a 2019, segundo a Associação Brasileira de Trabalho Temporário (Asserttem). A prática, que era bastante utilizada aos finais de ano por conta da demanda das festas, virou a solução do mercado para tempos de pouca previsibilidade e crise sanitária. Para especialistas, a tendência deve seguir forte neste ano.

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Em 2020, a busca por esse tipo de contratação teve um perfil diferente: 65% delas ocorreram na Indústria, para atender a uma demanda maior de trabalho em segmentos como, por exemplo, alimentos, farmacêutica, embalagens e agronegócio. “Historicamente, o comércio é que sempre puxou as contratações de temporários. Mas em 2020 foi a Indústria, um dos setores que mais chamou atenção foi o da alimentação”, diz Marcos Abreu, presidente da Asserttem. De acordo com ele, esse tipo de modalidade de trabalho acaba sendo eficaz e segura para as empresas que estão avaliando se a demanda que receberam é temporária ou não.

Abreu explica ainda que esse tipo de contratação foi utilizado para substituir funcionários do grupo de risco do coronavírus e também os que foram infectados pela covid-19 e precisaram ser afastados. “Os frigoríficos de frango foram os campeões de substituição e de afastamentos. Se já houvesse suspeita, a pessoa era afastada por 15 dias”.

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Camila Costa trabalha como temporária desde de dezembro de 2020. Ela foi contratada para o cargo de auxiliar de Recursos Humanos (RH) no Grupo Polar, já que a empresa ―que oferece soluções para manter a temperatura de produtos farmacêuticos, como gelo e embalagem, durante o transporte e armazenamento― viu a demanda crescer durante a pandemia e precisou recrutar mais colaboradores. Além de medicamentos, o grupo está atendendo pedidos para o transporte das vacinas contra a covid-19 autorizadas no Brasil, que necessitam uma temperatura específica.

“Para mim, foi uma excelente oportunidade. Estava desempregada há mais de um ano e meio e tenho um filho de 8 meses, o que parecia um empecilho em várias empresas que fiz entrevista. É a primeira vez que sou contratada como temporária e espero depois ser efetivada”, afirma.

Ariana Lira, coordenadora de RH do grupo, conta que atualmente dos 110 trabalhadores da empresa, 19 foram contratados pelo regime temporário. “Precisamos de mais pessoas nesse momento que a demanda da vacina é forte, mas sabemos que é uma demanda passageira”, explica.

Como temporária, Costa possui os mesmos direitos dos demais empregados. Recebe, por exemplo, férias e 13° salário, embora proporcionais ao tempo do contrato. A diferença está nos direitos após o término do contrato. Uma vez que existe um prazo para o fim da prestação de serviço, o trabalhador não tem tem direito a aviso prévio, seguro-desemprego e nem a indenização correspondente a 40 % do Fundo de Garantia (FGTS).

O contrato de trabalho temporário possui prazo limite de até 180 dias corridos, podendo o trabalho ser prestado consecutivamente ou não. Ele pode ser prorrogado apenas uma vez, por até 90 dias corridos. Esse tipo de contratação só é permitido em casos de necessidade transitória de substituição de pessoal ou demanda complementar de serviços da empresa.

Jéssica Mendes Bertuci, diretora da agência Moderna emprego, que presta serviço de recursos humanos para mais de 200 empresas, explica que, no início da pandemia, em março, as contratações foram tão escassas que chegaram a pensar em fechar. Porém, já em abril e maio, alguns setores enfrentaram uma demanda tão alta que precisaram admitir mais funcionários. “Empresas de limpeza, agronegócio, alguns tipos de consumo como alimentação. Mas como há muita instabilidade, essa procura foi por temporário”, diz.

O número de demissões em massa durante o ano passado também foi grande devido a todo o impacto econômico gerado pela crise sanitária. “O que percebemos é que as empresas que estão conseguindo retomar parte dos profissionais agora estão optando, primeiro, pela modalidade temporário já que o custo é menor caso tenham que demitir. A incerteza ainda é grande diante dos repiques de casos de coronavírus ”, diz.

Marcos Abreu, da Asserttem, concorda que a tendência nesse ano é que a modalidade continue em alta. “A pandemia da covid-19 ainda traz insegurança às empresas, que devem se apoiar na modalidade para garantir maior flexibilidade de gestão e conseguir se manter no mercado”, diz.

O rumo incerto da economia em 2021, no entanto, torna mais difícil a efetivação dos profissionais temporários. “Geralmente é uma grande oportunidade para o profissional se efetivar. Mas agora o momento é de mais cautela dos contratantes”, explica Bertuci.

O mercado de trabalho passa por um momento bastante delicado. A taxa de desemprego, que foi de 14,1% no trimestre de setembro a novembro de 2020 e atingiu 14 milhões de pessoas, pode dar um salto com o fim da transferência do auxílio emergencial. Muitas pessoas que perderam seus postos de trabalho não voltaram a procurar outro por conta da pandemia e as regras de quarentena, mas agora voltam para fila do desemprego. O total de pessoas ocupadas no país caiu 9,4% na comparação com o trimestre encerrado em novembro de 2019, o que representa uma redução de 8,8 milhões de pessoas, segundo o IBGE.

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