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Pandemia faz as maiores fortunas do planeta dispararem

Os 20 indivíduos mais ricos do mundo acumularam 1,77 trilhão de dólares no final de 2020, 24% a mais que um ano antes. O primeiro brasileiro na lista de bilionários é Jorge Paulo Lemann

Jeff Bezos viu sua fortuna aumentar graças ao impulso dado pelo coronavírus à Amazon.
Jeff Bezos viu sua fortuna aumentar graças ao impulso dado pelo coronavírus à Amazon.Getty
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AME6695. SAO PAULO (BRASIL), 26/12/2020.- Personas pasan frente a tiendas cerradas por un nuevo confinamiento debido al coronavirus hoy, en la calle 25 de marzo el mayor centro del comercio popular de la ciudad de Sao Paulo (Brasil). Brasil cumple este sábado diez meses desde su primer caso de coronavirus y celebrará el fin de año bajo una estricta cuarentena en buena parte de su territorio, en momentos en que la pandemia vuelve a acelerarse en un país que ya registra 190.500 decesos por el patógeno. EFE/Sebastiao Moreira
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O coronavírus enxugou as economias de milhões de famílias, mas não as dos mais ricos. O ano terminou com lucros para a imensa maioria deles, já que apenas 3 das 20 pessoas mais ricas de planeta viram sua fortuna diminuir neste ano. No seu conjunto, esse grupo de bilionários chegou ao final de 2020 com um patrimônio conjunto que soma 1,77 trilhão de dólares (8,83 trilhões de reais, aproximadamente o valor do PIB brasileiro). A cifra é 24% superior à de um ano atrás, segundo o índice Bloomberg. O espanhol Amancio Ortega (Inditex) perdeu 7,3 bilhões de dólares no ano e deixou o top 10, onde o francês Bernard Arnault (LVMH) é agora a única exceção em uma lista dominada por norte-americanos.

Como já acontecesse em 2019, Jeff Bezos continua um ano mais à frente da lista dos maiores bilionários do mundo, empurrado pelos espetaculares resultados da Amazon no ano da pandemia. Sua empresa foi uma das mais beneficiadas pelo confinamento, pois o uso do comércio digital disparou em meio às restrições de mobilidade, levando suas ações na Bolsa a acumularem um rendimento de 75% no ano, e seu valor de mercado subir a 1,6 trilhão de dólares. Segundo os resultados da medição da Bloomberg, Bezos, de 56 anos, possui um patrimônio de 193,7 bilhões de dólares ― um trilhão de reais. Sua fortuna teve um crescimento de 78,9 bilhões (68,7%) ao longo dos últimos doze meses.

Atrás do magnata das compras virtuais situa-se Elon Musk, fundador e diretor geral da SpaceX e Tesla, cujo valor em Bolsa atingiu 100 bilhões de dólares em dezembro, permitindo que o empresário de origem sul-africana pudesse se gabar de um patrimônio de 160,7 bilhões de dólares. Mas Musk praticamente não tem rivais quando se trata de avaliar a lucratividade de 2020 para suas finanças pessoais: 133 bilhões de dólares (a soma mais alta de toda a lista), o que representa um aumento de 482% na sua fortuna. Entra assim na lista dos 20 mais ricos, onde não figurava no ano passado, já diretamente na segunda posição.

O terceiro degrau nesse pódio dourado é de Bill Gates, com um patrimônio de 131,5 bilhões de dólares. Para chegar a essa cifra, o filantropo norte-americano, dedicado com sua mulher à direção da fundação que leva seus nomes, acrescentou mais 18,4 bilhões (16,3%) ao seu patrimônio ao longo do ano.

Mas não é Musk que protagoniza a ascensão mais fulgurante em termos percentuais entre os 20 mais ricos. Esse posto cabe ao chinês Zhon Shanshan, um nome praticamente desconhecido um ano atrás, que multiplicou sua fortuna quase por 11 em 2020. A abertura de capital da Nongfu, que engarrafa a água mineral mais vendida da China, catapultou a fortuna desse ex-jornalista, que agora é o homem mais rico do seu país. Desde 1º de janeiro do ano passado, Shanshan ganhou quase 68 bilhões, 997% a mais do que tinha. Sua riqueza é estimada agora em 74,6 bilhões de dólares, o que o situa no 13º lugar, logo acima do espanhol Amancio Ortega, dono da rede de lojas Zara.

As atividades de Ortega foram duramente afetadas pelas medidas de contenção da pandemia na Espanha, levando-o a cair da 6ª para a 14ª colocação, com um patrimônio de 68,2 bilhões de dólares, ou 7,3 bilhões (9,7%) a menos que um ano atrás. A obrigatoriedade de fechar as lojas por causa do confinamento levou a Inditex a acumular prejuízos de 195 milhões de euros (1,23 bilhão de reais) durante o primeiro semestre, o que se refletiu na fortuna do empresário. Sua filha Sandra Ortega, que herdou a parte da Inditex que pertencia à sua mãe, Rosalía Mera, é a única outra espanhola que aparece entre as 500 pessoas mais ricas do planeta.

De volta à classificação das 20 maiores fortunas, também perde posições o único representante latino-americano da lista, o mexicano Carlos Slim, cujo patrimônio é avaliado hoje em 56,7 bilhões de dólares. O presidente da Telmex perdeu nove posições e ocupa o 20º lugar do ranking, quando em 2019 tocava com os dedos o top 10.

Mackenzie Scott
MacKenzie Scott, ex-mulher de Jeff Bezos, entra nas 20 primeiras posições, com duas mulheres saindo.Kevork Djansezian (Getty Images)

Menos mulheres, mais asiáticos

A classificação neste ano está mais masculina, já que apenas três mulheres se posicionam entre as 20 maiores fortunas mundiais (frente a quatro em 2019). A francesa Françoise Bettencourt Meyers é a mulher mais rica do planeta, posição ocupada durante anos por sua mãe, Lilianne Bettencourt, que morreu em 2017. Dona do império de cosmética L’Oréal, ela acumula 76,3 bilhões de dólares, quase 30% a mais que um ano atrás, depois de ganhar 17,3 bilhões em 2020. Isso a situa na 12ª posição, uma acima do ano passado, mas a primeira mulher em toda a lista. Julia Flesher Koch (viúva do magnata David Koch e herdeira de sua parte nas Koch Industries) saiu do top 20 depois de aparecer na 10ª posição no ano passado. Também Jacqueline Badger Mars, herdeira da homônima fábrica de chocolates, fica de fora neste ano.

Quem aparece na 17ª colocação é Alice Walton (Walmart), com uma fortuna de 62,4 bilhões de dólares (18% a mais), justamente uma posição à frente de MacKenzie Scott, ex-mulher de Jeff Bezos. No divórcio, Scott (que deixou de usar o sobrenome Bezos) ficou com 4% da Amazon, empresa da qual foi cofundadora. A boa fase do gigante do comércio on-line lhe rendeu enormes dividendos, e sua fortuna cresceu em 22,7 bilhões. Ela respondeu multiplicando suas doações a causa beneficentes.

Uma presença que cresce entre os 20 indivíduos mais ricos é a dos asiáticos, que passaram de dois em 2019 para três em 2020. O chinês Zhon Shanshan (do ramo de bebidas) tem a companhia, na 19º posição, de seu compatriota Huang Zheng (conhecido nos EUA como Colin Huang). A empresa que fundou há meia década, a Pindoduo, estourou no ano passado com a ideia de aproveitar o vazio deixado pelas grandes empresas de comércio eletrônico na China rural. E com isso sua fortuna cresceu em 39 bilhões de dólares (199%) para alcançar atualmente os 58,6 bilhões. Mas é de um indiano, Mukesh Ambani, presidente e maior acionista do conglomerado de hidrocarbonetos e telecomunicações Reliance Industries, a maior fortuna do continente. Depois de ver sua riqueza crescer mais de 30%, Ambani acumula 76,4 bilhões de dólares e fica a apenas uma posição de entrar para o top 10.

O primeiro brasileiro da lista é Jorge Paulo Lemann na 66ª posição, com patrimônio de 23,8 bilhões de dólares e aumento de 252 milhões em relação a 2019. Outros oito brasileiros figuram entre os 500 mais ricos, sendo quatro da família Moreira Salles. São eles: Eduardo Saverin (14,8 bilhões), Jorge Moll (14, 3 bilhões), Marcel Telles (11,3 bilhões), Carlos Sicupira (10 bilhões), Pedro Moreira Salles (5,67 bilhões), João Moreira Salles (5,23 bilhões), Fernando Moreira Salles (5,23 bilhões) e Walter Salles (5,23 bilhões).

As 10 maiores fortunas de 2020:

Jeff Bezos, fundador de Amazon.

1. Jeff Bezos (193,7 bilhões de dólares)

Este norte-americano de 56 anos foi pelo quarto ano consecutivo o homem mais rico do mundo na classificação da Bloomberg. É fundador e diretor-executivo da Amazon, empresa de comércio eletrônico cujos lucros dispararam em tempos de pandemia, impulsionando a fortuna pessoal dele. Poderia ser ainda mais rico, mas em 2019 se divorciou de sua mulher, MacKenzie Scott, e no acordo cedeu 4% das ações da companhia. Não compartilhou, porém, a empresa de viagens espaciais Blue Origin, fundada igualmente durante o casamento. Assinando cheques, também se tornou dono da rede de supermercados Whole Foods e do jornal The Washington Post.
FILE - In this March 9, 2020 file photo, Tesla and SpaceX Chief Executive Officer Elon Musk speaks at the SATELLITE Conference and Exhibition in Washington. Wall Street is gearing up for an avalanche of trading and volatility ahead of Tesla’s entry into the S&P 500 index. Shares in the electric car maker, led by Musk, have skyrocketed by more than 650% this year, bringing the company’s market value to around $600 billion. That makes Tesla the biggest company ever to be added to the S&P 500, and it’s expected to trigger a torrent of trading by institutional investors in the process. (AP Photo/Susan Walsh, File)

2. Elon Musk (160,7 bilhões)

O empresário norte-americano, de origem sul-africana, é o executivo-chefe da Tesla, fabricante de veículos no qual tem 18% de participação, e cujo bom desempenho nas Bolsas neste ano lhe permitiu engrossar chamativamente seu patrimônio. Musk costuma ser notícia por suas declarações e, no melhor estilo de Donald Trump, por seus tuítes excêntricos. Em 1º de maio, por exemplo, compartilhou com seus seguidores na rede social a reflexão de que as ações da Tesla, na sua opinião, estavam caras demais. É considerado também a mente por trás da empresa de viagens espaciais SpaceX e do Hyperloop, um futurista trem de alta velocidade.
Bill Gates recorte fototexto

3. Bill Gates (131,5 bilhões)

O rosto mais conhecido da Microsoft há bastante tempo tem um percentual apenas residual na companhia que fundou. Este norte-americano de 65 anos administra seu enorme patrimônio através da Cascade Investments, um holding com participações em empresas de todo o mundo. A fundação Bill e Melinda Gates (nome da sua mulher) é a segunda maior doadora para a Organização Mundial da Saúde (OMS). Quando o maior doador, o Governo dos EUA, anunciou que retiraria recursos por divergências com o organismo, no início da pandemia, o casal respondeu aumentando sua contribuição.
FILE PHOTO: Bernard Arnault, chairman and chief executive officer of LVMH Moet Hennessy Louis Vuitton SE, delivers a speech at the Viva Technology conference in Paris, France, June 16, 2017. REUTERS/Benoit Tessier/File Photo

4. Bernard Arnault (113,8 bilhões)

O único não norte-americano na classificação dos 10 homens mais ricos do mundo, depois da saída de Amancio Ortega, é este francês de 71 anos. Tem quase a metade das ações do LVMH (Louis Vuitton Moët Henessy), insígnia do luxo francês e, consequentemente, mundial. Para consolidar essa posição, está prestes a acrescentar ao seu império a grife de joalheria norte-americana Tiffany’s, depois de um longo processo de compra atrapalhado pela pandemia. Com as dificuldades derivadas do coronavírus, sua fortuna não cresceu tanto como as outras, mas ainda assim conseguiu abocanhar 8,5 bilhões de dólares (8% a mais) e chegar a um total de 113,8 bilhões de dólares.
NEW YORK, NY - OCTOBER 25: Facebook CEO Mark Zuckerberg speaks about the new Facebook News feature at the Paley Center For Media on October 25, 2019 in New York City. Facebook News, which will appear in a new dedicated section on the Facebook app, will offer stories from a mix of publications, including The New York Times, The Wall Street Journal and The Washington Post, as well as other digital-only outlets.(Photo by Drew Angerer/Getty Images)

5. Mark Zuckerberg (104,8 bilhões)

O executivo-chefe do Facebook, a rede social que ajudou a fundar e na qual tem 13% das ações, fecha o clube dos com mais de 100 bilhões, no qual ingressou em meados deste ano. Frequentador das listas de ultrarricos desde antes de completar 25 anos (agora tem 36), encerra o ano com uma fortuna de 104,8 bilhões de dólares, 34% a mais que um ano atrás. Em sua história de sucesso, o Facebook comprou outros aplicativos, como WhatsApp e Instagram. E neste ano de pandemia os investidores premiaram as tecnologias que permitiam manter o contato à distância.
Warren Buffet, antes de la junta de accionistas.

6. Warren Buffett (86,9 bilhões)

Warren Edward Buffett é, aos 90 anos, o bilionário mais idoso da lista, graças ao seu reconhecido instinto investidor. O magnata, que se orgulha de levar uma vida sem excessos, consolidou grande parte da sua fortuna atuando nos meios de comunicação – um interesse que germinou durante seu período como entregador de jornais, trabalho que se viu obrigado a fazer ainda na infância para ajudar na economia da sua modesta família, radicada na Omaha (Nebraska). Esse financista estimula os donos das outras grandes fortunas a doarem parte do seu patrimônio através da campanha filantrópica Giving Pledge.
Larry Page.

7. Larry Page (82,6 bilhões)

Lawrence Edward Page é um empresário norte-americano que fundou, junto com seu sócio Sergey Brin, o gigante Google em 1998, quando cursava um doutorado em Stanford. Atualmente ocupa o cargo de diretor-executivo da Alphabet, uma empresa que inclui o Google e outras companhias do conglomerado. Page é membro da Academia Norte-Americana de Artes e Ciências, e um de seus ídolos é o físico Nikola Tesla.
Steve Ballmer.

8. Steve Ballmer (81 bilhões)

Nascido em Detroit há 64 anos, este empresário, graduado magna cum laudae pela Universidade Harvard, foi o encarregado de levar a Microsoft ao sucesso depois que Bill Gates e Paul Allen o procuraram em 1980. Ballmer ocupou o cargo de diretor-executivo da companhia entre 2008 e 2014, e, ao deixar o cargo, virou dono do time de basquete Los Angeles Clippers.
Sergey Brin, cofundador de Google, usando un prototipo de las gafas.

9. Sergey Brin (80 bilhões)

Oriundo de uma família que se mudou da Rússia para os Estados Unidos quando ele tinha acabado de completar 6 anos, esse teórico da informática compartilha atualmente com seu sócio Page uma fatia de 16% do Google. Ambos, além disso, estão envolvidos em projetos que a empresa realiza para buscar novas fontes de energia renováveis. Aos 47 anos, pode se vangloriar perante seus quatro filhos de ser membro da Academia Nacional de Engenharia desde 2004.
(FILES) In this file photo taken on April 08, 2014, Larry Ellison, CEO of Oracle Corporation, speaks during the New Economy Summit 2014 in Tokyo on April 9, 2014. - Silicon Valley is seeing departures of some of its high-profile stars as a pandemic-linked shift to remote work and political polarization have dulled the allure of the key tech industry hub. Nightmarish traffic and high living costs were already causing disenchantment even before the pandemic spoiled the serendipity of the northern California destination for top talent. Droughts and rampant wildfires have also taken a toll. Those leading the exodus include Tesla chief Elon Musk and Oracle founder Larry Ellison along with Palantir co-founder Peter Thiel and the data analytics firm's chief executive Alex Karp. (Photo by TORU YAMANAKA / AFP)

10. Larry Ellison (78,8 bilhões)

É outro dos representantes do lobby das empresas de telecomunicação neste seleto grupo de bilionários. Fundador da Oracle, companhia especializada no desenvolvimento de soluções de nuvem e locais, foi seu diretor executivo de 1977 a 2015. Nascido em Nova York há 76 anos, ocupa há meia década o cargo de diretor de tecnologia da empresa. Diferentemente de outros membros informáticos do ranking, não vê problemas em ostentar sua fortuna. Em 2012, adquiriu 98% dos 364 km² de superfície de uma ilha do Havaí, onde já investiu pelo menos meio trilhão de dólares.

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