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Metade da população brasileira foi beneficiada pelo auxílio emergencial do Governo em junho

Pessoas mais pobres foram mais alcançadas com a ajuda criada para a pandemia, recebendo 75,2% das transferências, segundo o IBGE. Desemprego sobe, mas dinheiro circulando cresce

Fila na frente de uma agência da Caixa em São Paulo, onde muitas pessoas buscavam retirar o auxílio emergencial.
Fila na frente de uma agência da Caixa em São Paulo, onde muitas pessoas buscavam retirar o auxílio emergencial.DPA vía Europa Press (Europa Press)

O número de domicílios beneficiados pelo auxílio emergencial cresceu no mês de junho. A ajuda, que garante proteção social no período de enfrentamento da crise da pandemia da covid-19, chegou, no mês passado, a 29,4 milhões de lares brasileiros (43%), onde vive praticamente a metade (49,5%) da população brasileira, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados nesta quinta-feira. Na comparação com o mês de maio, houve um aumento de 3,1 milhões de lares beneficiados, em que pelo menos uma pessoa da família teve acesso ao principal programa assistencial durante a crise sanitária. A população mais pobre foi mais beneficiada com o auxílio, recebendo 75,2% das transferências.

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Nos Estados das regiões Norte e Nordeste, o percentual de domicílios beneficiados com auxílio emergencial ultrapassou os 45%. No Amapá e no Maranhão, por exemplo, a proporção de beneficiados foi superior a 65%. Já em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, a cobertura do programa não alcançou 30% dos domicílios, segundo dados da pesquisa.

Auxílio tem maior impacto entre os mais pobres

A pesquisa mostra que, em junho, o auxílio emergencial teve impacto maior sobre a parcela dos 10% da população com os menores rendimentos, o que equivale a cerca de 21 milhões de brasileiros que residem em domicílios com renda domiciliar de até 50,34 reais. Dessa faixa, 17,7 milhões (83,5%) moram nos lares que receberam o benefício. Para esse contingente, a renda domiciliar per capita passou de 7,15 reais para 271,92 reais, um aumento de 3.705%.

Na segunda faixa de renda, o benefício contemplou 86,1%, o que corresponde a 18,2 milhões dos 21 milhões de pessoas que residiam nas casas onde pelo menos uma pessoa recebeu o auxílio. O impacto do auxílio para esse grupo foi de uma alta de 150% —a renda domiciliar per capita passou de 150,88 reais para 377,22 reais—.

Para Cimar Azeredo, diretor-adjunto do IBGE, os dados divulgados revelam que o programa teve grande impacto sobre os rendimentos das pessoas mais vulneráveis, que na ausência do benefício viveriam com 354,18 reais ou menos. “O auxílio emergencial atingiu cerca de 80% dos domicílios duas primeiras faixas de renda e cerca de três quartos dos domicílios da terceira faixa. Isso demonstra a importância do programa na renda domiciliar per capita dos domicílios dos estratos de renda mais baixos”, disse. Nesta quinta-feira, um relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) propõe que 132 países de renda baixa e média garantam um pagamento básico por um tempo limitado para frear a pandemia. Com um valor mínimo garantido, três bilhões de pessoas na pobreza no mundo não seriam obrigadas a sair de casa todo dia para ganhar o pão, e assim o vírus deixaria de se espalhar.

O atual auxílio emergencial do Governo de Jair Bolsonaro é destinado aos trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI), autônomos e desempregados, com renda domiciliar per capita que não deve ultrapassar 522,50 reais ou a renda total do domicílio que não ultrapasse a três salários mínimos (3.135 reais). O benefício, inicialmente programado para abril, maio e junho, foi prorrogado por mais dois meses e irá até agosto.

O levantamento publicado pelo IBGE nesta quinta-feira foi feito por meio da Pnad Covid, versão da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua realizada com apoio do Ministério da Saúde para identificar os impactos da pandemia no mercado de trabalho e para quantificar as pessoas com sintomas associados à síndrome gripal no Brasil.

Sobe a fila do desemprego no país

A pesquisa revelou ainda que que o país encerrou junho com 11,8 milhões de desempregados, 1,7 milhão a mais que o registrado em maio. Com esse aumentou, a taxa de desocupação passou de 10,7% para 12,4%. A proporção de desempregados aumentou em todas as grandes regiões do Brasil. De acordo com Cimar Azeredo, essa alta na fila do desemprego está diretamente ligada à flexibilização das regras de distanciamento social no mês passado. “Isso implicou no aumento da população na força trabalho, já que o número de pessoas que não buscavam trabalho por causa da pandemia reduziu frente a maio. Elas voltaram a pressionar o mercado”, explica.

O diretor-adjunto do IBGE ressalta, no entanto, que apesar da queda na população ocupada em junho, houve um aumento da massa de rendimento efetiva (a soma do que todos os trabalhadores recebem), de 157 bilhões reais para 159 bilhões. “Esse é um dado positivo, porque indica que tivemos mais dinheiro proveniente de trabalho circulando em junho do que em maio. Esse dado indica reação do mercado”, afirma.

Continuou caindo, em junho, o número de pessoas (7,1 milhões) que ficou sem a remuneração do trabalho devido ao distanciamento social. Esse contingente é menor que o registrado no mês passado (9,7 milhões), mas ainda corresponde a quase metade (48,4%) do total de pessoas afastadas do trabalho.

“É importante acompanhar esse grupo, junto com os desocupados, desalentados e a força de trabalho potencial porque é um conjunto de pessoas sem rendimentos de trabalho. Essas variáveis podem orientar as decisões de manutenção de programas de transferência de renda”, afirmou o diretor adjunto do IBGE.

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