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OCDE prevê recuperação lenta e desigual da economia mundial depois da crise do coronavírus

Se a epidemia não se repetir, economia global cairá 6% em 2020, e até 7,6% se houver uma nova onda de contágios. No melhor dos cenários, Brasil vai encolher 7,4%

Silvia Ayuso
Ángel Gurría, secretário-geral da OCDE.
Ángel Gurría, secretário-geral da OCDE.DPA
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O coronavírus pôs a economia mundial na corda-bamba, e as redes de proteção estendidas por muitos Governos não impedirão o golpe da queda. Segundo as últimas perspectivas da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE, que reúne economias desenvolvidas de todo o mundo), no melhor dos casos, se o vírus continuar sob controle nos próximos meses, a economia mundial sofrerá uma queda de 6% em 2020, que poderia chegar a queda de 7,6% se houver uma segunda onda de contágios antes do final do ano, exigindo novas medidas de confinamento. Em 2021, a economia global voltará a cifras positivas, mas “a recuperação será lenta, e a crise terá efeitos de longa duração que afetarão de maneira desproporcional as pessoas mais vulneráveis”, adverte o organismo com sede em Paris.

Quando 2021 acabar, “a perda de rendimentos irá superar a de qualquer outra recessão dos últimos 100 anos fora dos períodos de guerra, com consequências nefastas para as pessoas, as empresas e os governos”, alerta também a economista-chefe da OCDE, Laurence Boone, no prefácio das novas perspectivas econômicas mundiais, onde descreve um “caminho sobre a corda-bamba para a recuperação” global que não será totalmente obtido enquanto não se encontrar uma vacina contra o coronavírus.

Todas as cifras em poder da OCDE são muito preliminares. Afinal de contas, a epidemia arrasou com todas as previsões até agora. Em seu último relatório, publicado no começo de março, quando apenas a China havia decretado confinamento total da população, a OCDE acreditava que no pior cenário possível a economia mundial cresceria 1,5% este ano. Na melhor das hipóteses, agora, a queda no PIB mundial deve ficar em -6%, com uma recuperação de até 5,2% em 2021. Mas se o coronavírus voltar a açoitar, a queda será de até 7,6% em todo mundo, e a recuperação em 2021 só chegará a 2,8%, alerta a organização.

O comércio mundial, que já estava enfraquecido pelas tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China, registrará um resultado negativo de -9,5% (até -11,4%, em caso de segunda onda da covid-19) neste ano, quando o índice global de desemprego irá disparar até 9,2%, podendo superar 10% se houver um novo confinamento. Segundo a última revisão da situação econômica global, a zona do euro sofrerá em 2020 uma queda generalizada de 9,1% se a epidemia não voltar, e de até 11,5% se houver uma nova onda de contágios. No primeiro caso, a recuperação no ano que vem chegaria a alentadores 6,5%, na melhor das hipóteses, ou apenas 3,5% no cenário de nova onda.

Economias emergentes como Brasil, Rússia e África do Sul serão bastante afetados devido à forte pressão em seus sistemas de saúde e a redução dos preços das matérias-primas. A OCDE prevê que o Brasil terá uma queda de 7,4% no PIB, no melhor dos cenários, caso o país, que tem apresentado uma resposta errática à crise, seja atingido apenas por uma onda da covid-19. No pior dos casos, com um duplo golpe do surto, a economia brasileira pode despencar até 9,1% em 2020. Rússia e Índia, no bom cenário, terão queda de 8% e 7,5%, respectivamente. No pior dos cenários, com duplo golpe da pandemia, suas economias podem perder 10% e 8,2%, respetivamente.

Na América Latina, a Argentina deve sofrer com mais força os impactos da crise, apesar da resposta rápida à pandemia, já que enfrenta uma interminável negociação de dívida com credores internacionais. A previsão otimista é que a economia do país encolha 8,3% (-10,1% no cenário pessimista). O México por sua vez terá queda de 7,5% caso o surto da novo coronavírus seja contido; um rebote da pandemia pode levar a econômia mexicana a perder 8,6%.

O golpe é similar em todo o planeta: a economia dos Estados Unidos cairá neste ano entre 7,3%, se o vírus não voltar, e 8,5%, se houver uma recaída, e crescerá a um máximo de 4,1% em 2021. Até a China entrará em recessão em 2020 (-2,6% sem recaída da pandemia; -3,7% se o vírus voltar). Segundo a OCDE, se o gigante asiático conseguir conter a epidemia, no ano que vem poderia voltar às suas taxas habituais de crescimento, de até 6,8%, mas no pior dos cenários mal chegará a 4,5%.

Dentro do clube da moeda única europeia, Espanha, França e Itália se situam no grupo mais afetado pelo coronavírus, com uma queda de até cerca de 14% da economia no pior dos cenários neste lamentável 2020. “A covid-19 é a pior crise sanitária e econômica desde a Segunda Guerra Mundial (…), e os impactos econômicos são funestos em todas as partes”, constata a OCDE. De fato, acrescenta, “em muitas economias avançadas, se poderia perder até o final de 2021 o equivalente a cinco anos ou mais do crescimento da renda real per capita”.

Perante esta situação inédita, são necessárias “políticas extraordinárias” por parte dos governos de todo o mundo, com uma especial atenção aos mais vulneráveis. Porque, salienta a economista Boone, “as políticas de recuperação de hoje apontarão as perspectivas econômicas e sociais na próxima década”.

“Os Governos devem aproveitar esta oportunidade para desenhar uma economia mais justa e sustentável, melhorando a competitividade e as regulações, modernizando os impostos, o gasto e a proteção social”, recomenda a economista-chefe da OCDE. O organismo insiste especialmente na necessidade de ajudar empresas e trabalhadores de setores muito afetados em seu “trânsito” para novas ocupações, o que exigirá a passagem de ajudas generalizadas ― como o seguro-desemprego parcial instituído em países como a França e a Espanha ― para apoios mais “focados”, que permitam a reestruturação de empresas e a formação de trabalhadores, assim como “uma proteção social para os mais vulneráveis”. O organismo econômico aproveita a conjuntura também para reiterar seu mantra pré-coronavírus sobre a importância da “cooperação” internacional e o desafio de acabar com as tensões comerciais, para que a incerteza entre os investidores se reduza de uma vez. “Retomar um diálogo construtivo sobre o comércio aumentaria a confiança das empresas e o apetite por investimentos”, insiste.

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