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Economia chinesa perde 6,8% no trimestre, primeiro retrocesso em quase meio século

Pandemia da covid-19 ameaça transformar esta progressiva desaceleração em uma recessão fulminante para o gigante asiático

Um homem de máscara caminha por Pequim, nesta sexta-feira.
Um homem de máscara caminha por Pequim, nesta sexta-feira.THOMAS PETER (REUTERS)
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Ciudadanos chinos, todos ellos con mascarilla, hacen cola para coger el autobús el pasado 20 de marzo en Pekín.
China encara a fatura econômica de vencer o vírus
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FILE - In this Monday, March 23, 2020 file photo, a man crosses 42nd Street in front of Grand Central Terminal during morning rush hour in New York. Gov. Andrew Cuomo has ordered most New Yorkers to stay home from work to slow the coronavirus pandemic. (AP Photo/Mark Lennihan, File)
FMI prevê contração de 3% na economia mundial em 2020, a maior desde 1930

O PIB chinês contraiu-se 6,8% no primeiro trimestre do ano, segundo dados publicados nesta sexta-feira pelo Gabinete Nacional de Estatística. Trata-se do primeiro retrocesso em quase meio século, provocado pela paralisação de sua economia em consequência da crise do coronavírus.

O resultado reflete tanto o vertiginoso desenvolvimento das últimas décadas como a dimensão do revés atual. A China não encolhia desde 1976. Naquele ano lamentável, aos estertores da Revolução Cultural se somaram a morte do Mao Tsé-tung ― líder da República Popular desde sua fundação, em 1949 ―, a de seu primeiro-ministro Zhou Enlai e pelo menos outras 250.000 pessoas em decorrência de um devastador terremoto em Tangshan. Naquela ocasião, o PIB chinês diminuiu 1,6%.

As cifras desta sexta-feira, além disso, representam as menores desde 1961, o último ano da Grande Fome causada pelas erráticas políticas de Mao. Naquele ano, PIB caiu 27,3% e até 45 milhões de pessoas pereceram, segundo cálculos do historiador Frank Dikötter em seu livro Mao’s Great Famine (A grande fome de Mao).

Desde então, os números do gigante asiático se mantiveram ilesos frente a infortúnios como o massacre de Tiananmen, em 1989 (4,2%), a crise financeira de 2008 (9,7%) e a guerra comercial com os Estados Unidos desde 2018 (6,7%). No ano passado, o conflito com a Administração Trump contribuiu para deixar o marcador em 6,1%, uma cifra que já era o pior resultado em quase três décadas. O resultado do quarto e último trimestre de 2019 apontava 6%, segundo mínimo histórico consecutivo desde que as autoridades começaram a publicar a variação trimestral, em 1992. Agora, porém, o coronavírus ameaça transformar esta progressiva desaceleração em uma recessão fulminante.

“O dado do PIB é ruim, mas esperado”, observa Alicia García-Herrero, economista-chefe da Natixis para a Ásia. “Sem dúvida o pior são as vendas no varejo em março [-16,1%]. Se comparadas à produção industrial para o mesmo mês [alta de 1,1%] você percebe o que está acontecendo: a China continua produzindo mais do que pode consumir, o que aumentará as pressões deflacionárias. Isto se agravará em abril. O mundo parou, por isso a demanda externa se paralisará.” Em um funesto relatório publicado nesta semana, o Fundo Monetário Internacional antecipava que a pandemia da covid-19 provocará a recessão global mais dura desde a Grande Depressão de 1930.

O Partido Comunista da China costuma determinar o crescimento do PIB na sessão anual da Assembleia Nacional Popular, realizada no Grande Palácio do Povo, em Pequim. Neste ano, entretanto, o acontecimento teve que ser adiado por prazo indeterminado, por isso ainda não se sabe como o vírus afetará os objetivos macroeconômicos do país. O painel de especialistas da Reuters prevê que em 2020 a economia chinesa acabará recuperando 2,5%. García-Herrero, por sua vez, reduziu suas previsões para 1,5%, “já que não há demanda suficiente”.

O PIB, porém, não é a máxima prioridade governamental neste momento. Assim ratificou o primeiro-ministro Li Keqiang em um discurso pronunciado no mês passado durante uma sessão do Conselho de Estado. “Não é de grande importância”, afirmou, “que o crescimento econômico seja um pouco mais alto ou um pouco mais baixo, desde que o mercado de trabalho permaneça estável”.

O desemprego passa por ser a chave para reativar a economia chinesa pelas pontas da produção e do consumo. Os índices de atividade elaborados pela consultoria Trivium estimam que seu tecido produtivo ainda não alcançou seu máximo rendimento e continua estagnado em uma taxa que oscila ao redor de 80%. Conter o desemprego, por outro lado, também é uma tarefa fundamental dada sua capacidade de gerar descontentamento social. Nos dois primeiros meses do ano a desocupação passou de 5,2% para 6,2%, o que significa que quase cinco milhões de pessoas perderam seu emprego em 2020.

Mercados fecham em alta

As ações da China encerraram em alta esta sexta-feira, com os investidores deixando de lado a primeira contração econômica trimestral do país em pelo menos 28 anos e depositando suas esperanças em uma recuperação apoiada pelo Estado, à medida que o impacto da pandemia de coronavírus diminui. O índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen, avançou 0,98%, enquanto o índice de Xangai teve alta de 0,66%. “Os investidores, na verdade, ficaram aliviados quando a ficha finalmente caiu”, disse Zhang Yanbing, analista da Zheshang Securities. “Eles esperam uma recuperação no segundo trimestre, à medida que a ordem social é gradualmente restaurada na China.”

Com Reuters

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