_
_
_
_
_

FMI prevê contração de 3% na economia mundial em 2020, a maior desde 1930

Crescimento, atrapalhado pela pandemia de coronavírus, será retomado no ano que vem, depois de uma crise “muito maior” que a de 2009

A rua 42, em Manhattan, vazia no horário de pico.
A rua 42, em Manhattan, vazia no horário de pico.Mark Lennihan (AP)
Pablo Guimón

A crise do coronavírus está causando um impacto de gravidade incomum na atividade econômica. O Fundo Monetário Internacional projeta que, como resultado da pandemia, a economia mundial se contrairá 3% em 2020. Uma reviravolta dramática após encerrar 2019 com crescimento de 2,9%. É um impacto “muito maior” do que o da crise financeira de 2008 e 2009. Supondo que a pandemia se dissipe no segundo semestre de 2020, que é a premissa do FMI, a economia crescerá 5,8% em 2021, à medida que a atividade se normalizar e se auxiliada pelos estímulos de políticas públicas.

Mais informações
-FOTODELDIA- AME544. SAO PAULO (BRASIL), 06/04/2020.- Fotografía de una avenida este lunes en el centro de la ciudad de Sao Paulo (Brasil). El gobernador del estado de Sao Paulo, Joao Doria, prorrogó hasta el próximo 22 de abril la cuarentena decretada hace dos semanas, y recalcó que ningún tipo de aglomeración será permitida en sus 645 municipios. EFE/Fernando Bizerra Jr
Como o coronavírus vai mudar nossas vidas: dez tendências para o mundo pós-pandemia
Cadena de producción de guantes de vinilo desechables en una fábrica en China.
Como será a economia após o coronavírus
A staff members of the Tokyo metropolitan government wearing a protective face mask march as he calls for people to stay home after the government announced the state of emergency for the capital and some prefectures following the coronavirus disease (COVID-19) outbreak, at an entertainment and amusement district in Tokyo, Japan April 14, 2020.  REUTERS/Issei Kato
AO VIVO | Últimas notícias sobre o coronavírus

O FMI alerta que a previsão é cercada por “extrema incerteza”, pois tem por pressuposto a interação de vários fatores. A evolução da pandemia, a eficácia das medidas de contenção, o alcance da interrupção na oferta, as mudanças no comportamento das pessoas, os efeitos na confiança... Todos são elementos dos quais dependerá a saída da crise e que fazem com que, segundo o fundo, “prevaleça o risco de um resultado pior”.

As previsões do FMI, tão “lúgubres”, como antecipadas há uma semana por sua diretora-gerente, Kristalina Georgieva, marcam o início da semana das reuniões deste período do ano na instituição, que se concentrarão nos efeitos do coronavírus e que são realizadas, justamente como efeito colateral da pandemia, de modo virtual. Para superar a Grande Paralisação, como o fundo se refere à crise causada pelo vírus, é “essencial uma forte cooperação multilateral”. “Nenhum país está a salvo da pandemia, enquanto ainda houver contágios em outros lugares”, alerta.

O panorama econômico é radicalmente diferente daquele projetado apenas alguns meses atrás. A contração de 3% na economia mundial representa uma queda de seis pontos em comparação com as previsões divulgadas pelo fundo em outubro e janeiro. Uma correção extraordinária em um período tão curto de tempo.

O impacto será maior nas economias avançadas (-6,1% em 2020) do que nas economias em desenvolvimento (-1%). A Ásia emergente é a única região para a qual o fundo espera um crescimento positivo (1%) em 2020, embora ainda seja cinco pontos abaixo da sua média na última década. Os mais afetados serão Itália (-9,1%) e Espanha (-8%), bem como Grécia (-10%) e Portugal (-8%), mas França (-7,2%), Alemanha (-7%), Reino Unido (-6,5%) e Estados Unidos (-5,9%) também sofrerão. No Brasil, a contração estimada é de -5,3%.

Nos Estados Unidos, agora o epicentro mundial da pandemia, o golpe econômico esperado é o maior desde a Grande Depressão de 1929. As indicações da deterioração produzida pelas medidas de distanciamento já são claras. Mais de 16 milhões de pessoas, 1 em cada 10 trabalhadores no país, solicitaram subsídios de desemprego entre as últimas duas semanas de março e a primeira semana de abril, e os especialistas esperam que outros milhões entrem com o pedido do benefício. Isso acontece depois de alcançada em fevereiro a menor taxa de desemprego (3,5%) em 50 anos. A crise coincide nos Estados Unidos com o ano eleitoral, o que torna qualquer previsão ainda mais frágil.

"Esta crise não se parece com nenhuma outra", insiste a economista-chefa do Fundo, Gita Gopinath. "A queda da produção associada à emergência de saúde e às medidas de contenção relacionadas fazem parecer pequenas as perdas da crise financeira global. É muito provável que este ano a economia mundial experimente sua pior recessão desde a Grande Depressão."

A previsão do FMI é que a pandemia se atenuará no segundo semestre do ano, permitindo “retirar gradualmente” os esforços de contenção e restaurar a confiança de consumidor e investidores. Assim, de acordo com seus cálculos, a economia mundial crescerá por volta de 5,8% em 2021. Na grande crise anterior, o indicador passou de -0,1% em 2009 a 5,4% em 2010. A previsão de crescimento no próximo ano é de 4,5% no grupo de economias avançadas e de 6,6% nas economias em desenvolvimento como um todo. Em nenhum dos dois blocos se espera que seja alcançado até o final de 2021 o nível do PIB anterior a esta crise.

Já foram tomadas em todo o mundo medidas "significativas" de política econômica, observa o Fundo, "focadas em atender aos requisitos de saúde pública e limitar sua amplificação à atividade econômica e ao sistema financeiro". A recuperação projetada pressupõe que essas políticas sejam eficazes para “evitar falências generalizadas de empresas, grande perda de empregos e estresse em todo o sistema financeiro". "Como na queda, há extrema incerteza em torno o vigor da recuperação", assinala.

“Apesar das circunstâncias extremas, há muitas razões para otimismo”, conclui Gopinath. “O número de casos diminuiu com medidas e o distanciamento social. O ritmo sem precedentes nos trabalhos visando tratamentos e vacinas promete esperança, e as ações rápidas e substanciais na política econômica ajudarão a proteger empresas e pessoas.”

Informações sobre o coronavírus:

- Clique para seguir a cobertura em tempo real, minuto a minuto, da crise da Covid-19;

- O mapa do coronavírus no Brasil e no mundo: assim crescem os casos dia a dia, país por país;

- O que fazer para se proteger? Perguntas e respostas sobre o coronavírus;

- Guia para viver com uma pessoa infectada pelo coronavírus;

- Clique para assinar a newsletter e seguir a cobertura diária.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_