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Séries
Crítica
Género de opinião que descreve, elogia ou censura, totalmente ou em parte, uma obra cultural ou de entretenimento. Deve sempre ser escrita por um expert na matéria

‘And Just Like That’: cinco horas com Mr. Big

Depois que dois filmes renunciaram ao espírito original de ‘Sex and the City’, sua sequência não consegue recuperá-lo no retorno à televisão, da qual nunca deveria ter saído

Paloma Rando
As protagonistas da série 'And Just Like That'
As protagonistas da série 'And Just Like That'HBO Max

[Aviso: este artigo contém desde o início informações sobre aspectos importantes do enredo da série. Se você pretende vê-la e prefere não saber de detalhes surpreendentes, é melhor ler depois do último episódio]

Que a vida era séria Carrie Bradshaw só começou a entender mais tarde. Ou parece que é isso que And Just Like That (HBO Max) quer nos dizer. O retorno de Sex and the City à televisão deixou sua protagonista na mão e sem marido graças ao que já é a morte televisiva do ano. Mas, antes que a personagem interpretada por Chris Noth morra, testemunhamos outra morte, a da série que conhecíamos e da qual gostávamos no início dos anos 2000.

Depois que os dois filmes renunciaram ao espírito original de Sex and the City, havia pouca esperança de que And Just Like That pudesse recuperá-lo, mas valia apostar que seu retorno à TV, da qual nunca deveria ter saído, ajudaria. Não foi assim. Para começar, seus episódios mudaram de duração —ultrapassam os 40 minutos—, o que contribuiu para a perda de ritmo e tom. Além da estrutura, é fácil reconhecer esses capítulos como falseadores porque não foram escritos para serem coerentes, mas para agradar a todos, os fãs antigos e os possíveis seguidores jovens, para os quais se pressupõe uma sensibilidade incompatível com a série original. E esse é o caminho mais curto para não contentar ninguém.

Partindo de um preconceito que diz que o mundo é só como os jovens o definem e de um outro, em débito com este, que sentencia que a idade torna impossível entrar em sintonia com aquele mundo, a maioria dos conflitos que são tema de And Just Like That define os personagens por sua determinação em colocá-los como peixes fora d’água de um reino que não é mais seu. Antes inteligente e perspicaz, Miranda agora perdeu suas habilidades sociais e constantemente mete os pés pelas mãos em questões raciais. Carrie não consegue falar sobre masturbação —algo muito Charlotte— em um podcast dirigido por uma personagem tão consciente que ela tenta fazer piadas sobre o quanto também é ligada, e não se dá bem.

Talvez Charlotte seja a que permanece mais fiel a si mesma, só ela seria capaz de tornar um problema o fato de sua filha não querer usar um vestido Oscar de la Renta. E quando parecia que Samantha ia ser salva pela ausência de Kim Catrall, descobrimos que você pode ser infiel à relações públicas mais hedonista daquela margem do rio Hudson mesmo sem vê-la: que ela, que acabou indo ao funeral da mãe de Miranda em um extraordinário episódio de Sex and the City, agora só mande flores a Carrie por sua perda é tão doloroso como incoerente, não importa quanta raiva entre elas tenhamos que engolir.

A frivolidade da série de Darren Star nunca foi vazia. Carrie já sabia que a vida era para valer, por isso Sex and the City buscava tirar sarro disso. Transformar isso em Cinco Horas com Mr. Big ou O Ano do Pensamento Mágico não a torna melhor, apenas mais triste.

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