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Jovens de 20 países promovem festival de música para pressionar ações contra a emergência climática

Criado por membros do movimento Fridays For Future, como Greta Thunberg, o Climate Live visa chamar a atenção dos líderes globais que participarão da COP26 dentro de duas semanas

Greta Thunberg, ativista pelo clima e fundadora do movimento Fridays for Future.
Greta Thunberg, ativista pelo clima e fundadora do movimento Fridays for Future.Guglielmo Mangiapane (Reuters)

“Agora nos escutam?” É com essa pergunta que jovens ativistas, cientistas e artistas de 20 países, como Japão, Filipinas, Colômbia e México, sobem ao palco neste sábado no festival Climate Live para pressionar os líderes mundiais que se reunirão dentro de duas semanas na COP26 (Cúpula Mundial do Clima de Glasgow) a adotar políticas urgentes contra a emergência climática e para garantir o futuro do planeta. Organizado pelo movimento Fridays for Future, grupo de jovens liderado pela sueca Greta Thunberg, o evento acontecerá simultaneamente em nações dos seis continentes, em diferentes idiomas. No Brasil, o Climate Live será transmitido a partir das 18h (horário de Brasília), com shows de artistas como Elza Soares, Maria Gadú, Aíla, Francisco El Hombre e Marcelo Jeneci, entre outras atrações. Além de assistir as apresentações, o público está convidado a assinar uma petição que será entregue às autoridades que participarão do encontro na Escócia, durante mais uma greve da juventude pelo clima.

“Diante da crise climática que o globo atravessa, agir é urgente. No Brasil, vivemos tempos de devastação ambiental e desrespeito às comunidades originárias que podem nos levar a um ponto de não retorno para o aquecimento global. Enquanto isso, o Governo brasileiro minimiza o problema e age no sentido da destruição”, acusa Hyally Carvalho, coordenadora da iniciativa no Brasil.

Dados do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU) indicam que, por volta de 2030, o planeta poderá alcançar o limite de +1,5ºC de temperatura, uma estimativa que antecipa em dez anos a previsão anterior. Para reverter ou ao menos mitigar o cenário catastrófico, é necessário estabilizar o clima, o que implica, entre outras medidas, na redução das emissões de gases de efeito estufa para alcançar a neutralidade de carbono. Esse é a apenas um dos pontos sobre os quais os organizadores do Climate Live querem conscientizar as lideranças globais que se reunirão de 31 de novembro a 12 de dezembro na Escócia. O principal objetivo da COP26 é acelerar as ações contra os efeitos das mudanças climáticas que foram definidas no Acordo de Paris, assinado em 2016.

Nos últimos anos, a questão tornou-se imperativa no tabuleiro geopolítico mundial, e para além da ética de sobrevivência do planeta: a maioria das empresas globais tem se posicionado par reduzir a compra de produtos que não tenham demonstração de origem e certificações de boas práticas —como muito do que é extraído e exportado da Amazônia brasileira— e o ano de 2020 consolidou o movimento de fundos de investimento —que chegam a comandar 45 trilhões de dólares— que se recusam a comprar ativos de empresas sem boas práticas ambientais e sociais.

Na contramão dessa tendência internacional, o Governo de Jair Bolsonaro se esforça por minar as iniciativas de proteção ambiental no país. Em setembro, por exemplo, o Ministério da Economia, comandado por Paulo Guedes, solicitou que o Ministério do Meio Ambiente avalie sugestões para afrouxar as regras de licenciamento ambiental e alterar a identificação do bioma amazônico em áreas onde também houver cerrado. Esta última medida tem como objetivo final anistiar o desmatamento ilegal e permitir que, ao invés de se manter uma reserva legal de 80% de cada propriedade da Amazônia, reduza-se para uma área de proteção de 35% de cada imóvel rural, como ocorre no cerrado.

A britânica Frances Fox, uma das criadoras do Climate Live, diz que um dos objetivos da iniciativa é justamente oferecer uma plataforma mais ampla para que jovens dos países mais afetados pela emergência climática possam denunciar essa realidade. “Os líderes políticos e demais autoridades ainda não estão agindo com a urgência necessária. Em setembro de 2019, 7,6 milhões de pessoas foram às ruas em 7.500 cidades diferentes para exigir ações, mas claramente não foi suficiente. Acreditamos que a música tem o poder de atingir uma grande maioria que ainda não está envolvida na crise“, afirma Tafadzwa Chando, do Zimbábue, uma das coordenadoras do festival. No Brasil, participam Maria Gadú, Elza Soares, Quebrada Queer, entre outros. Quem sabe, com música soando nos quatro cantos do globo, o clamor contra a tragédia ambiental iminente torne-se finalmente impossível de ser ignorado.

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