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Adele volta com nova canção sobre o seu divórcio. Prepare o lenço e ouça

Após um hiato de seis anos, cantora britânica reaparece com ‘Easy on me’, uma balada lacrimogênea

Adele no videoclip de seu último trabalho, ‘Easy on me’

Em 5 de maio de 2019, coincidindo com seu 31º aniversário, Adele (que agora tem 33 anos) escreveu no Instagram: “Será um disco de drum and bass para chatear vocês”. Era piada. Nesta sexta-feira, 15 de outubro, a cantora britânica lança a primeira faixa do seu longamente esperado quarto álbum, e ela não tem nada de drum and bass, esse tipo de música eletrônica dançante e meio tosca que foi moda na década de noventa. Easy on me, como se chama a canção, não traz nenhuma surpresa: é uma balada rasgada, com piano sentimental.

A espera pela volta de Adele era enorme, em primeiro lugar pela envergadura da artista, a mulher que mais discos vendeu no Reino Unido neste século (foram seis milhões de cópias só do seu segundo trabalho, 21). Acumula 15 prêmios Grammy e um Oscar, por Skyfall, sua composição para a trilha sonora do filme homônimo do personagem James Bond. A curiosidade se explica também por seu prolongado silêncio. Easy on me é a primeira canção que ela apresenta em seis anos. Adele continua atuando à moda antiga dentro da indústria fonográfica: enquanto a maioria de artistas lança novos singles ou duetos a cada poucas semanas, a artífice de Hello é uma cantora de álbuns. Entre cada disco, que explora com sua correspondente enxurrada de singles, ela desaparece do mapa. Em 19 de novembro sairá seu quarto álbum, 30. Esse ritmo tão pausado só é possível hoje para grandes estrelas; Beyoncé e Rihanna também se volatilizam durante anos antes de reaparecerem cintilantes.

Logicamente, no caso de Adele, o afã midiático não minguou durante esta sua ausência; pelo contrário, os recentes vaivéns da sua vida pessoal foram alvo de profundos escrutínios. Os amantes das fofocas se refestelaram à custa dela, e os fãs, sabedores que ela mesma compõe suas músicas, intuem pistas suculentas sobre o conteúdo de suas próximas letras. Um divórcio, uma transformação física radical, a morte do seu pai (ausente na sua infância e espertalhão a ponto de vender histórias sobre ela ao tabloide The Sun) e rumores sobre um consumo de álcool que seria recriminado pela OMS mantiveram vivo o interesse pela artista. Em um comunicado de 13 de outubro, a cantora admitiu que essa agitada etapa influenciou seu novo repertório. Disse ter entrado em “um labirinto de absoluta desordem e confusão interior”, e que o álbum narra a “reconstrução minuciosa da minha casa e do meu coração desde então”. “[O novo disco] foi minha tábua de salvação durante o período mais turbulento da minha vida. Quando o estava compondo, era aquele amigo que chega com uma garrafa de vinho e comida para me animar”.

Álcool e malhação

Em 2019, Adele se divorciou do empresário Simon Konecki, com quem passou dois anos casada. Tiveram um filho, agora com 9. Saiu depois com o rapper Skepta e, desde o começo de 2021, mantém uma relação estável com o agente esportivo Rich Paul. Enquanto isso, sofreu os rigores da pandemia como qualquer mortal. Encontrou consolo numa contraditória mistura de álcool e ginástica. “Sempre tenho um pouco de ressaca às segundas-feiras de manhã”, contou à Vogue. “Todos os dias eu começava a beber mais cedo. Minha primeira ida de urgência ao supermercado [durante o confinamento] foi para comprar Whispering Angel [uma marca de vinho rosé] e ketchup.” As fotos de grande diva que acompanham a capa de outubro dessa revista realçam sua nova silhueta, mais esbelta. Livros de autoajuda e um pingo de astrologia parecem tê-la reativado —deu para falar de Saturno, dos 30 anos que leva para dar a volta ao sol e que, portanto, agora ela entrou em um novo ciclo vital guiado pelo planeta dos anéis.

Muitos desses ingredientes se misturam em Easy on me, uma canção lacrimogênea, com versos que parecem dissecar seu casamento frustrado e seus esforços para salvá-lo. “Seja indulgente comigo, eu ainda era uma menina”, canta. “Não há espaço para que algo mude quando estamos tão profundamente ancorados aos nossos caminhos. Você não pode negar o quanto eu tentei. Mudei quem eu era para colocar nós dois em primeiro lugar, mas agora não dá mais”. Não é absurdo considerar esta canção de adeus como uma continuação de Hello. O vídeo reforça a ideia: enquanto o clipe do seu sucesso de 2015 mostrava a cantora chegando a uma casa vazia, o do Easy on me, também dirigido por Xavier Dolan, a capta saindo da casa e se afastando de carro do seu passado. Greg Kurstin, produtor e coautor de Hello, é outra vez seu escudeiro no estúdio.

“Sempre tenho um pouco de ressaca às segundas-feiras de manhã”, contou em uma entrevista

Os arranjos austeros contribuem para aumentar o tom descarnado do tema, não apto para depressivos. Os belos ornamentos vocais do estribilho serão imitados a não mais poder em futuros programas de calouros da televisão. É uma balada atemporal, que ignora as modas, que poderia ter saído de forma idêntica há 30 anos, com o mesmo efeito, e que soará igualmente viva e doentia em 2041. Por enquanto, este 2021 já devolveu Adele ao topo.

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