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Estante EL PAÍS | Textos inéditos de Zelda Fitzgerald, reedições de Carolina Maria de Jesus e mais mulheres nas leituras de agosto

A lista de leituras que chegam no mês também inclui a publicação no Brasil dos quadrinhos sobre vivências lésbicas da estadunidense Alison Bechdel

A escritora Carolina Maria de Jesus
A escritora Carolina Maria de JesusDivulgação

“Era para comprar uma casa limpa para mim porque eu não tenho tempo de limpar”, escrevia Carolina Maria de Jesus no dia 12 de janeiro de 1961, pouco depois de se mudar com seus três filhos para a nova morada em Santana, zona norte de São Paulo, após deixar o barraco na favela do Canindé. É sua rotina longe do Quarto de despejo, sua primeira obra publicada, que a escritora narra em Casa de alvenaria, republicada em dois volumes pela Companhia das Letras neste mês, com trechos inéditos. Agosto também brinda os leitores com textos raros de Zelda Fitzgerald na antologia Artigos e textos jornalísticos, da editora Ponto Edita, que revela as facetas de ensaísta, contista, bailarina e artista plástica da autora americana. No mês em que se celebra o Dia da Visibilidade Lésbica, a Todavia traz ao Brasil O essencial de perigosas sapatas, coletânea de tirinhas da quadrinista Alison Bechdel, que publicou, durante mais de duas décadas em cinquenta jornais, as vivências de um grupo de amigas em uma cidade média dos Estados Unidos.

Casa de alvenaria - diário de uma ex-favelada

Maria Carolina de Jesus

Companhia das Letras

Casa de Alvenaria Carolina Maria de Jesus

Alguns dos cadernos onde a escritora Carolina Maria de Jesus escrevia seu cotidiano, reflexões e angústias jamais foram achados. Seus originais estão espalhados na Biblioteca Nacional, no Instituto Moreira Salles (IMS) e no Arquivo Público de Sacramento, em Minas Gerais, onde ela nasceu, entre outras instituições. No entanto, a Companhia das Letras conseguiu, graças ao trabalho editorial de Vera Eunice de Jesus, filha da escritora, encontrar trechos inéditos que foram incluídos na reedição em dois volumes de Casa de alvenaria - diário de uma ex-favelada, obra na qual Carolina registra sua (tentativa de) adaptação não apenas à casa de tijolos, mas à nova vida que se abre com ela. A fome agora já não é o pão de cada dia, mas há a incompreensão de um mundo em que ela passa a valer pelo dinheiro que tem (ou que acreditam que ela tem). Uma das novas contradições após sair do Quarto de despejo é que ela viaja e é aclamada por onde vai, inclusive por pares como Jorge Amado —a quem chamava Jorge Amor—, mas não deixa de sofrer racismo em outras esferas sociais. No mergulho mais profundo à alma e intelecto de Carolina Maria de Jesus, descortina-se também a relação quase de amor e ódio com o jornalista Audálio Dantas, responsável pela publicação da sua primeira obra e quem a ajudou a se organizar com o dinheiro e com a compra da casa. “Ate as minhas cartas ele abre. Isto é ousadia. Isto é falta de educação. Começo a desgostar. Quando o branco auxilia o preto transforma o desgraçado em escravo”, escreveu ela.

Artigos e textos jornalísticos - Zelda Fitzgerald

Artigos e textos jornalísticos

Zelda Fitzgerald

Ponto Edita

Em vida, Zelda Fitzgerald, a it girl absoluta, publicou apenas o livro Esta valsa é minha (1932), mas teve uma escrita prolífica de contos, artigos e textos jornalísticos entre 1917 e 1948, quando morreu num incêndio no sanatório em que estava internada. Alguns deles chegaram a ser publicados —embora quase sempre com a assinatura de seu marido, o também escritor F. Scott Fitzgerald—, mas só agora chegam ao público brasileiro, graças à Ponto Edita, que publica uma coletânea de 13 raridades (objetos de estudo de pesquisadores pelo mundo), incluindo o conto O iceberg, publicado no jornal literário da escola onde ela estudava, escrito aos 17 anos, redescoberto em 2013 e até agora inédito em livro. Nele, Zelda já desafiava os papéis de gênero que a conservadora sociedade americana do início do século XX impunha sobre as mulheres. Com tons de ironia fina, comédia descarada, sátira e melancolia, ela reivindica seu merecido lugar no panteão das grandes escritoras modernistas. A edição de primoroso cuidado estético conta com intervenções artísticas da autora Clara Averbuck —que manda uma carta ao passado e engata uma conversa ficcional com Zelda— e da cartunista Bruna Maia, cujo trabalho dialoga com as reflexões feministas e os transtornos mentais da norte-americana.

O essencial das perigosas sapatas

Alison Bechdel

Todavia

Alison Bechdel

Mo, Lois, Ginger, Sparrow, Clarice, Toni e Jezanna são amigas que vivem em uma cidade de porte médio nos Estados Unidos, onde vivem, trabalham, se apaixonam, formam famílias, amam, envelhecem, tudo ao mesmo tempo agora, quase em tempo real, mas ao longo de vinte anos em que suas vivências refletem contextos políticos desde a guerra no Afeganistão até os efeitos da mudança climática. Tudo isso enquanto suas existências ficcionais, concebidas pela quadrinista Alison Bechdel, mostram o que é ser lésbica nas miudezas do cotidiano. Com tradução da escritora Carol Bensimon, a Todavia publica pela primeira vez no Brasil O essencial das perigosas sapatas (no original, Dykes to watch out for), a coletânea das tirinhas que Bechdel publicou em jornais entre 1987 e 2008 e que inseriu as sapatonas na cultura pop muito antes que séries televisivas e filmes dramáticos ambientados no passado o fizessem. “Minha intenção era nomear o inominável, retratar o irrepresentável, para assim tornar as lésbicas visíveis. E eu fiz isso”, diz a própria autora no prefácio da obra.

Estante EL PAÍS agosto

Antes que eu me esqueça

50 autoras lésbicas e bissexuais / organizadora: Gabriela Soutello

Quintal Edições

Ainda em homenagem às mulheres que amam mulheres, a Quintal Edições publicou Antes que eu me esqueça, uma antologia de contos e poemas escritos por 50 autoras lésbicas e bissexuais, tendo como tema a memória e como mote a diversidade, em todos os seus aspectos: estão ali múltiplas sexualidades, raças, religiões e as multipossibilidades da palavra, em si, mergulhada no hibridismo de formatos. Um banquete literário servido por escritoras como Monique Malcher, Natália Borges Polesso, Paloma Franca Amorim, Tatiana Nascimento, Nina Rizzi e Taís Bravo, entre outras.

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