Dylan Penn, a filha rebelde de Sean Penn e Robin Wright, surpreende em Cannes

Nascida do casamento dos dois atores, ela deixa para trás uma história pessoal conturbada e aos 30 anos brilha na competição de cinema sob a direção do pai. Nasce uma estrela?

Sean Penn dirige a filha Dylan no drama 'Flag day'.
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Cannes (France), 06/07/2021.- US director Todd Haynes poses during the photocall for 'The Velvet Underground' at the 74th annual Cannes Film Festival, in Cannes, France, 08 July 2021. The movie is presented in the Official Competition of the festival which runs from 06 to 17 July. (Cine, Francia) EFE/EPA/CAROLINE BLUMBERG
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Existe um trabalho mais complicado em Hollywood do que ser uma estrela de sucesso, milionária e adorada em todo o mundo e não morrer tentando: ser filho da estrela em questão. São numerosos os casos de superfilhos nascidos entre vivas e ostentação, privados de uma infância normal e que depois mergulharam numa espiral autodestrutiva que tingiu de escândalo e vulgaridade seu sobrenome ilustre. Como Chet Hanks, filho de Tom Hanks, acusado de maus-tratos e vinculado a movimentos de extrema direita; Cameron Douglas, filho de Michael Douglas, viciado em drogas e condenado a vários anos de prisão; ou Weston Cage, filho de Nicolas Cage, preso por causar um acidente de trânsito e depois fugir. A anos-luz da gravidade dos fatos recém-mencionados, os episódios vividos por Dylan Penn, filha de Sean Penn e Robin Wright, também não foram de fácil digestão. Mas esta primogênita duplamente ilustre, que por muito tempo parecia destinada a ser a próxima ovelha desgarrada da meca do cinema, de repente surpreendeu e se tornou a próxima grande estrela das colinas de Los Angeles. E com o tapete vermelho de Cannes como catapulta.

Porque o boulevard da Croissette, prolífico berço de estrelas como Jodie Foster ou Robert de Niro, pôs os olhos nesta californiana de 30 anos que, pelas mãos de seu pai, apresenta no festival o papel mais importante de sua recente carreira. Flag day, dirigido e coestrelado por Sean Penn, adapta as memórias da jornalista Jennifer Vogel, filha de um vigarista e assaltante de bancos que conta no livro a complexa reconciliação com seu pai ausente. Sua estreia em Cannes teve uma recepção ambígua entre a crítica que, no entanto, é unânime quando se trata de elogiar o debut da jovem num papel de calibre festivaleiro. “Sua interpretação é fantástica. Revela que pode ser uma grande atriz”, diz a Variety. “Dylan é natural, equilibrada e cativante. Parece uma veterana”, acrescenta The Washington Post. Pete Hammond, do Deadline, acredita que Dylan herdou as habilidades artísticas dos pais. “Ela cumpre as expectativas com um papel multidimensional que a posiciona de forma decisiva como uma estrela em formação”, acrescenta.

A californiana deslumbrou no tapete vermelho do festival francês.
A californiana deslumbrou no tapete vermelho do festival francês.Vittorio Zunino Celotto (Getty Images for Kering)

Com apenas um punhado de trabalhos no currículo, ela mesma tornou pública sua preocupação de que assumir o papel principal em Flag day fosse visto como um ato descarado de nepotismo. “Aterrorizada” porque as pessoas poderiam pensar que ela conseguiu o papel só porque seu pai era o diretor, a até agora modelo lhe pediu que adiasse o projeto para que antes ela fizesse mais alguns filmes e, assim, sentisse que o estava “conquistando”. No entanto, a imprensa especializada valoriza a química que a dupla exibe na tela e Dylan revela que enriqueceu essa dinâmica com sua própria experiência paternal: “Temos uma relação complexa. Nós dois somos alfa e às vezes colidimos”.

Dylan Penn
Fotograma de ‘Flag day’, que disputa a Palma de Ouro em Cannes.

Imagem de empresas como Ralph Lauren, Gap, Rag & Bone e Stuart Weitzman e espectadora recorrente nas semanas da moda de Paris ou Nova York, há anos argumenta que seu trabalho como modelo era mais uma forma de ganhar a vida do que uma paixão profissional. Depois de trabalhar como editora de roteiro e desenhista de storyboard (criação de roteiros gráficos), seu futuro parecia destinado ser atrás das câmeras e não o de seguir os passos de seus célebres pais. Mas foram eles que a convenceram a dar uma chance à profissão, quando confessou que seu sonho era se sentar na cadeira de diretora. “Os dois me disseram, em separado: você não vai ser uma boa diretora se não souber o que é estar no lugar do ator”, disse ela na entrevista coletiva de apresentação do filme.

Seu rosto apareceu nas capas pela primeira vez em 2013, quando a mídia a apontou como culpada pelo traumático e midiático rompimento traumático entre Kristen Stewart e Robert Pattinson, um relacionamento que ela desmentiu. Pouco depois, Dylan Penn optou por estrelar uma reportagem fotográfica picante na revista Treats, para grande desgosto dos pais, que ela não avisou sobre o lançamento. “Meu pai me disse: ‘Ok, você atingiu seu limite. É melhor não ir mais longe”, embora reconhecesse na Vanity Fair: “Para ser sincera, se pudesse voltar, não teria tirado tanta roupa. Era um pouco ingênua”.

Dylan Penn foi qualificada pela mídia especializada em moda como uma ‘it girl’.
Dylan Penn foi qualificada pela mídia especializada em moda como uma ‘it girl’.

Mas seu desembarque neste verão na terra prometida de Hollywood é significativo não só por causa do peso de sua procedência, mas pela história pessoal controversa que mostrou até agora, o que a torna mais propensa a engrossar as páginas da crônica sensacionalista da TMZ do que as cinematográficas da Variety. De acordo com o site Radar, Dylan foi presa algumas vezes por dirigir sob o efeito do álcool e, em 2017, se internou em um centro de desintoxicação. Sua complicada maturidade foi retratada por algumas fotos que vieram à tona naquele ano e que mostravam Sean Penn tendo, em plena rua, uma acalorada discussão com o namorado dela na época, Jimmy Giannopoulos. Com uma Robin Wright como testemunha e incapaz de conter as lágrimas, o irado vencedor do Oscar repreende o genro por alguma coisa enquanto mostra uma foto na tela de seu celular. O segundo filho do casal, Hopper, que tem um papel coadjuvante em Flag day, também divulgou publicamente seu vício em metanfetaminas e foi preso em 2018 por porte de drogas.

A semelhança física entre mãe e filha salta à vista. Conseguirá Dylan Penn replicar também sua aclamada carreira?
A semelhança física entre mãe e filha salta à vista. Conseguirá Dylan Penn replicar também sua aclamada carreira?John Shearer (WireImage)

Robin Wright e Sean Penn terminaram seu casamento de 14 anos em 2010. A atriz de House of Cards reconstruiu sua vida com o executivo francês da Yves Saint Laurent, Clement Giraudet, e Sean Penn se casou em meados do ano passado, e por meio de uma videochamada do Zoom, com sua namorada dos últimos cinco anos, Leila George. Embora fisicamente a semelhança com sua mãe seja mais do que evidente, Dylan afirma que sua personalidade é mais parecida com a do pai. “Nós dois temos muito ego. Somos muito cabeçudos e, não sei, às vezes temos tanta confiança que isso até pode ser um problema. Mas percebemos que precisamos relaxar. Ele demorou um pouco mais do que eu.”

Os jovens Robin Wright e Sean Penn brincam com a pequena Dylan.
Os jovens Robin Wright e Sean Penn brincam com a pequena Dylan. Donaldson Collection (Getty Images)

Ser filha de duas das maiores estrelas de cinema de nosso tempo a levou a crescer entre estúdios, a pular de escola em escola, acompanhando as filmagens dos pais (ela se lembra com especial emoção dos meses em uma escola aborígine australiana enquanto Sean Penn estava filmando Além da linha vermelha) e de cumprimentar figuras como Fidel Castro. “Eu o conheci quando tinha 14 anos e ele me impressionou demais”, disse sobre o comandante cubano. No entanto, a jovem admite ter vivido uma vida com os pés fincados no chão graças à influência dos pais. Um exemplo: quando decidiu deixar um curso de fotografia na Universidade do Sul da Califórnia, depois de um semestre, eles pararam de lhe mandar dinheiro e ela começou a trabalhar como entregadora de pizza. “Quando me perguntaram umas três vezes se eu era a stripper, eu disse: ‘Tenho que parar com isso’, declarou ao NY Post. Depois de evitar ao longo de toda a adolescência a oportunidade de ficar na frente das câmeras, pela “timidez” e porque todos os papéis que lhe ofereciam eram de “de loiras bobas sem arco narrativo”, Flag day representa um antes e um depois para ela e, quem sabe, a tão esperada continuação de uma das mais ilustres linhagens da meca do cinema.

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