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Estante EL PAÍS: lições sobre respiração, reedição de clássicos e obras estreantes nas indicações de leitura para maio

Aline Bei, Emily Brontë, Alice de Campos e Sara Gallardo estão entre as autoras indicadas

Detalhe da capa de 'Eisejuaz', de Sara Gallardo, lançado pela editora Relicário.
Detalhe da capa de 'Eisejuaz', de Sara Gallardo, lançado pela editora Relicário.

Neste mês de maio, o EL PAÍS retoma a indicação de leituras mensais, com a esperança de que literatura e arte possam aliviar o peso dos dias e ampliar os horizontes do cotidiano. Para começar, o jornalista James Nestor propõe uma aventura científica pelos mistérios e milagres da respiração, com a obra Respire - A nova ciência de uma arte perdida. Depois, Aline Bei (autora do consagrado O peso do pássaro morto) apresenta sua segunda obra, Pequena coreografia do adeus, um romance sobre o reconhecer e desvencilhar-se de traumas familiares. Há também uma biografia de Tom Zé - O último tropicalista, a reedição do clássico de Emily Brontë, O morro dos ventos uivantes; reflexões sobre racismo em relações inter-raciais na obra da jornalista Alice de Campos (Todos os olhos em mim) e a estreia —tardia— no Brasil de um clássico argentino: Eisejuaz, da autora Sara Gallardo.

Respire - A nova ciência de uma arte perdida

James Nestor

Intrínseca

Estante EL PAÍS

A cada 3,3 segundos, num total de 25 mil vezes ao longo do dia, uma transformação ocorre no corpo humano. Os bilhões e bilhões de moléculas que o organismo absorve no ato de inspirar e expirar são responsáveis pela construção dos ossos, das camadas musculares, do sangue, cérebro e órgãos. Apesar disso, a espécie humana parece ter desaprendido a respirar corretamente. Para entender o por quê disso e desvendar como é possível recuperar essa arte perdida, o jornalista James Nestor conduz o leitor por uma viagem às escavações de antigas catacumbas, passando por instalações soviéticas secretas, ruas poluídas de São Paulo e mergulhos entre corais de Nova Jersey, nos Estados Unidos. Em uma aventura científica leve e instrutiva, o autor ensina como pequenos ajustes na maneira de respirar podem deixar um dia mais feliz e até melhorar problemas de saúde como asma, depressão e colunas com escoliose.

Pequena coreografia do adeus

Aline Bei

Companhia das Letras

Estante EL PAÍS

Em seu segundo livro, Aline Bei, que venceu o Prêmio São Paulo de Literatura com O peso do pássaro morto, mergulha em suas lembranças da infância e da adolescência para construir um romance sobre relações familiares à beira do abismo. Brigas, traumas, afetos, abandono e solidão ganham sutilezas na prosa delicada que fez de Bei uma das revelações da literatura brasileira contemporânea. Em Pequena coreografia do adeus, a personagem Júlia (que também é escritora), mergulha em sua individualidade para tentar processar e desvencilhar-se dos traumas da relação dos pais separados, uma mãe que não suporta a ideia de ter sido abandonada pelo marido e um pai que não tolera a ideia de ter sido casado.

Todos os olhos em mim

Aline de Campos

Quintal Edições

Estante EL PAÍS

“A não intenção não caracteriza isenção. Então, se você ainda acha que discutir racismo é mimimi, esse livro é para você”. É assim que a jornalista Aline de Campos apresenta sua obra, Todos os olhos em mim, na qual discute o racismo presente nas relações inter-raciais. Resultado de um trabalho de conclusão de curso em Jornalismo, o livro —que traz ilustrações da própria autora— reúne entrevistas, diferentes passagens e histórias da vida das pessoas entrevistadas, em um texto que dialoga com diferentes intelectuais racializados, como Lélia Gonzalez, bell hooks, Angela Davis, Carla Akotirene, Abdias Nascimento, Neusa Sousa Santos, entre outros. Campos conta que a escrita da obra surgiu depois de muitas conversas com uma colega de faculdade sobre a solidão do corpo negro e também a partir de reflexões sobre sua própria família, onde a maioria das mulheres não é branca, mas também não é lida socialmente como negra.

O morro dos ventos uivantes

Estante EL PAÍS

Emily Brontë

Antofágica

Para quem gosta de obras mais sombrias, o único romance da escritora britânica Emily Brontë, hoje considerado um clássico da literatura inglesa, ganha uma edição em capa dura, com tradução e posfácio de Stephanie Fernandes e ilustrações de Janaina Tokitaka, das mãos da editora Antofágica, especializa em reeditar clássicas literários brasileiros e estrangeiros. Em O morro dos ventos uivantes, o leitor mergulha no inferno. A viagem, no entanto, conduzida pelo amor e pela obsessão, vale cada segundo. No centro da narrativa estão a voluntariosa e irascível Catherine Earnshaw e seu irmão adotivo Heathcliff. Rude nos modos e afetos, humilhado e rejeitado, ele aprende a odiar, mas desenvolve com Catherine uma relação de simbiose, paixão e também perversidade que atravessa gerações e não é detida nem mesmo pela morte.

Tom Zé - O último tropicalista

Pietro Scaramuzzo

Sesc Edições

Estante EL PAÍS

Quando Tom Zé soube que Pietro Scaramuzzo, autor e pesquisador musical italiano, queria escrever sua biografia, só teve uma preocupação: “Mas em que língua eu vou falar com ele?” Ao saber que seria em português, respondeu: “Nossa, é um alívio!”. A paixão pela língua brasileira perpassa toda a história de sua vida, desde seu nascimento em Irará (sertão da Bahia) até a radicação definitiva em São Paulo. Ao longo de um ano de conversas semanais em vídeo e telefone, Scaramuzzo foi destrinchando as anedotas e intempéries vividas pelo músico vanguardista e viajando pelas suas memórias de infância e juventude. É assim que o leitor conhece mais do homem por trás do gênio de um dos artistas seminais da cultura brasileira: de como e quando aprendeu a tocar violão numa praça só para tentar arranjar uma namorada, do choque ao conhecer Aristóteles na escola, da admiração por Caetano Veloso e Gilberto Gil e do ceticismo quanto à própria inteligência, cada vez mais tenaz aos seus 84 anos. Nessa biografia, Scaramuzzo demonstra o que se diz sobre o Brasil e sua singularidade cultural na figura desse artista e compositor: Tom Zé não é para principiantes.

Eisejuaz

Sara Gallardo

Relicário Edições

Estante EL PAÍS

Eisejuaz, da argentina Sara Gallardo, é um caso raro na literatura. Publicado em 1971, permaneceu à margem do boom literário latino-americano até ser recuperado nos anos 200 por Ricardo Piglia, que alçou a obra a uma peça experimental de vanguarda. Agora o livro chega pela primeira vez ao Brasil, com tradução de Mariana Sánchez, pela editora mineira Relicário. Trata-se de um romance desenvolvido a partir de um monólogo de Eisejuaz, um narrador baseado na pessoa ral de um indígena da etnia wichí, quem a autora entrevistou em 1968 para a revista Confirmado. Eisejuaz foi o capataz indígena de uma missão protestante norueguesa em Embarcación, na província argentina de Salta, no início do século passado, cujo objetivo era os habitantes do lugar ao cristianismo. Um homem entre dois mundos —não mais wichí, jamais um branco— as reflexões de Eisejuaz trazem epifanias poéticas, que se refletem na narrativa e na linguagem e que abraçam a tradição de invenção que estão em obras como Macunaíma, Grande sertão: Veredas ou Pedro Páramo. É um mergulho na cosmovisão de todo um continente.














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