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Agnaldo Timóteo, a voz sedutora do brega, morre de covid-19 aos 84 anos

Cantor, que chegou a ser deputado federal, estava internado para tratar a doença desde o dia 17 de março

O cantor Agnaldo Timóteo.
O cantor Agnaldo Timóteo.Sesc Piracicaba/Divulgação

O cantor Agnaldo Timóteo tornou-se, neste sábado, mais uma vítima mortal da covid-19. Timóteo, que estava internado no Rio de Janeiro desde 17 de março, faleceu aos 84 anos, conforme informou nas redes sociais seu sobrinho Timotinho. O cantor consagrou-se um grande cantor da música popular brasileira nos anos setenta, quando lançou uma série de discos cujo êxito jamais se repetiu em sua carreira.

O primeiro álbum de sucesso do mineiro da cidade de Caratinga, nascido no dia 16 de outubro de 1936, foi Surge um Astro, lançado em 1965. Desde os primórdios, o brega esteve presente na carreira musical de Timóteo, que gravou muitas versões em português de hits internacionais nos trabalhos de estreia. A fama começou a chegar com Obrigado, querida, de 1967, que contava com a composição Meu grito, de Roberto Carlos, que emplacou entre as mais ouvidas no país.

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Roberto Carlos também assinaria, junto com Erasmo, a música Os brutos também amam, em 1972, que, na voz de Timóteo, repetiu o êxito da parceria anterior e serviu para firmar o cantor como um grande sedutor da música brega. Não à toa, o apresentador Abelardo Barbosa, o famoso Chacrinha, caracterizaria Timóteo como “o homem que tem o sexo na voz”.

E foi apostando nesse filão —que ele também conquistou mantendo toda uma imagem e um marketing de garanhão amante das mulheres (apesar de ter confirmado em entrevistas que se relacionou com homens)— que ele teve o grande salto em sua carreira. Era 1975, e Agnaldo Timóteo encabeçava as paradas na rádio ao lado de nomes como Odair José, Reginaldo Rossi e Waldick Soriano, colegas de quem ele se destacava pela potência vocal. Foi o ano de lançamento de A galeria do amor, cuja música homônima se tornaria uma das mais famosas do cantor.

Para o jornalista e crítico musical Pedro Alexandre Sanches, com A galeria do amor, Timóteo inicia o que ficaria conhecida como trilogia gay, que continuou nos álbuns (e faixas-título) Perdido na Noite (1976) e Eu Pecador (1977). “A referência era à Galeria Alaska, tradicional ponto de encontro de homossexuais no bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro. ‘Na galeria do amor é assim/ muita gente à procura de gente/ a galeria do amor é assim/ um lugar de emoções diferentes/ onde gente que é gente se entende/ onde pode se amar livremente’, cantava na faixa-título de sua autoria, mais uma vez apelando ao termo-chave remetente a ‘entendido”, escreveu o crítico em 2012.

Nos anos noventa, Timóteo perdeu espaço para o rock brasileiro e outros artistas regionais, e tentou não se limitar ao brega —gravou até dedicatórias a Nelson Gonçalves, sertanejo e música religiosa—, mas nunca recuperou o êxito das décadas anteriores. Quiçá por isso tenha decidido entrar para a política em 1982, quando foi eleito com meio milhão de votos deputado federal pelo PDT do Rio de Janeiro. Também tentou ser governador do Estado em 1986, mas não foi eleito. Agora adotando perfil conservador, o cantor se candidatou em 12 eleições, e chegou a ser votado como deputado federal (PPR) em 1994, vereador do Rio em 1996 (PPB), e duas vezes como vereador, após mudar para São Paulo, em 2004 (PP) e 2008 (PR). Em 2012, chegou a defender a ditadura militar em uma sessão da Câmara de Vereadores paulistana.

Em seus últimos 10 anos de vida, Agnaldo Timóteo lançou coletâneas de seus grandes sucessos, mas nem sua forte voz grave e sedutora foi poderosa o suficiente para reavivar a fama.


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