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Uma viagem cinematográfica pela América Latina a partir do Festival de Cinema de Gijón

EL PAÍS exibe neste final de semana três filmes que apresentam um novo olhar sobre o cinema latino-americano, parte da seleção oficial do grande evento do cinema independente da Espanha

Fotograma de 'Lluvia de Jaulas' del director César González. En vídeo, tráiler del documental.
Carlos S. Maldonado
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Fotograma de 'Lluvia de Jaulas' del director César González.
Assista aos filmes selecinados
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O agito noturno das ruas do Rio de Janeiro é o cenário em que Paulo, desempregado e recém-divorciado, trava uma batalha interna com sua desesperança e solidão. Essa saudade se estende ao longo de suas jornadas noturnas ao volante de um táxi, um trabalho temporário que lhe permite ouvir as histórias pessoais dos passageiros, suas queixas e medos. Fragmentos da vida alheia que o fazem refletir sobre o próprio destino em um país que vai do extremo festivo dos carnavais ao abismo das fraturas sociais, das convulsões políticas e da crise econômica.

É esse o retrato que o diretor Eryk Rocha apresenta em Breve Miragem de Sol, que integra a seleção oficial do Festival de Cinema de Gijón e que é um dos três filmes que EL PAÍS vai oferecer durante 24 horas ―a partir das 12h de Brasília― por meio de suas edições América e Brasil. A história de Paulo reflete o drama vivido por 50 milhões de brasileiros que sobrevivem todos os dias com trabalhos precários, diz Rocha, em conversa com os organizadores do festival. “O Brasil é um país de uma desigualdade social muito radical, onde há luta de classes e racismo, e a ideia do filme é apresentar essas tensões”, explica o diretor.

O filme de Rocha integra Tierres en Trance, seção do Festival que apresenta novos olhares do cinema latino-americano. Nesta edição serão exibidos 11 filmes de diretores da Argentina, Brasil, Colômbia, Chile, México, Bolívia e Cuba. “A nossa percepção é que muitas vezes nos festivais europeus, quando se programa cinema ibero-americano, e de modo especial quando se programam filmes feitos e produzidos em países da América Latina, há uma certa tendência de um olhar ‘primeiro mundista’ no pior sentido possível, muito focado nos clichês da crônica social de crimes e violência e com um tom às vezes condescendente”, diz Fran Gayo, chefe da programação do festival.

“A América Latina continua a ser um viveiro de novas ideias, de um cinema jovem e que avança sem olhar para trás, um espaço onde o cinema mais intimista, frágil e silencioso continua tendo uma força inusitada, e às vezes sentimos que este tipo de cinema não interessa tanto nos festivais europeus. Daí surge Tierres en Trance, com a ideia de propor um espaço para a exibição desse outro cinema que existe e é importante, um cinema sem estridências e com um olhar genuíno”, acrescenta.

Além de Breve Miragem de Sol, EL PAÍS apresentará neste fim de semana Lluvia de Jaulas (chuva de jaulas), do diretor César González, uma crônica de Buenos Aries marcada pelos contrastes, entre barracos carcomidos pela miséria e a violência, mas onde renasce a esperança de crianças que, como definem os organizadores da mostra, são “um jardim de flores amputadas e que, de muletas, ainda crescem e dançam”.

O México também marca presença no Festival com Se Escuchan Aullidos (escutam-se lamentos) do diretor Julio Hernández Cordón, que alcançou reconhecimento internacional com seu aclamado Te Prometo Anarquia. Nesta ocasião, o realizador apresenta um percurso autobiográfico, com as imagens dos lugares que habitam a memória da sua infância, inspirada pela explosão de redes sociais como o Instagram, em que as pessoas vão documentando fragmentos cotidianos da sua vida. O filme, diz Hernández Cordón, “tem a ver com as histórias orais que herdamos da família, que são fascinantes porque têm boa dose de fantasia e eu queria fazer um exercício disso com a minha filha, fazer um pouco de graça e criar um mito sobre quem sou eu. A intenção do filme é brincar com o presente, com as recordações e com a memória”.

A 58ª edição do Festival de Cinema de Gijón será realizada de 20 a 28 de novembro pela Internet por causa da crise do coronavírus. O diretor Alejandro Díaz Castaño explicou que só assim é possível garantir a saúde dos trabalhadores, cineastas, jurados, jornalistas e demais participantes. A mostra, considerada o grande evento dedicado ao cinema indie na Espanha, apresenta, segundo o seu realizador, “uma seleção do melhor cinema independente contemporâneo”, vinculado a “um plano de divulgação e aprendizagem audiovisual que transcorre ao longo do ano”.

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