_
_
_
_
_

Estilista japonês Kenzo morre por coronavírus aos 81 anos

Ele foi o primeiro criador japonês a conquistar Paris, abrindo o caminho internacional para compatriotas como Yohji Yamamoto e Issey Miyake

Kenzo Takada, em sua casa em Paris em 2019
Kenzo Takada, em sua casa em Paris em 2019JOEL SAGET (AFP)
Carmen Mañana

O estilista japonês Kenzo Takada morreu neste domingo aos 81 anos, vítima de covid-19, anunciou seu porta-voz. Ele morreu em Neuilly-sur-Seine, nos arredores de Paris, onde se estabeleceu em 1964 e fundou a empresa de moda e perfumes que leva seu nome. O falecimento coincidiu com a Paris Fashion Week, que termina terça-feira.

Kenzo Takada foi o primeiro dos grandes estilistas asiáticos a conquistar Paris, abrindo assim o mercado internacional para compatriotas como Yohji Yamamoto e Issey Miyake, que no início dos anos oitenta revolucionaram a indústria da moda com seus designs conceituais e arquitetônicos, suas peças experimentais e uma dramática carga artística, criações que continuam influenciando e inspirando criadores contemporâneos.

Mais informações
Una pareja, en el cementerio de la ciudad de Manaos (Brasil).
Um milhão de vidas perdidas para a covid-19
Una mujer joven,en el pabellón 5 del Ifema de Madrid, donde se ha instalado un hospital para atender a los enfermos por coronavirus, el 27 de marzo de 2010.
Um presente envenenado da mãe natureza
Washington (United States), 22/09/2020.- Chris Duncan of Alexandria, Virginia, walks with a picture of his mother Constance Duncan, who died with COVID-19 on her 75th birthday, among thousands of flags placed to memorialize Americans that died with COVID-19; near the base of the Washington Monument on the National Mall in Washington, DC, USA, 22 September 2020. The 'COVID Memorial Project' installed 20,000 flags near the Washington Monument to memorialize the two hundred thousand people in the United States who have died with COVID-19. (Estados Unidos, Alejandría) EFE/EPA/MICHAEL REYNOLDS
As pandoras da pandemia

Kenzo Takada se formou no Bunka Fashion College de Tóquio ―que, quando ele se matriculou, em 1958, tinha acabado de abrir suas portas para homens― e seis anos depois se instalou em Paris, seguindo os passos de seu admirado Yves Saint Laurent. Sem recursos e com uma máquina de costura alugada, confeccionou sua primeira coleção em 1970 com tecidos, quimonos velhos e retalhos comprados em brechós. Sem saber, estava transformando a necessidade em virtude e, principalmente, na marca registrada de uma grife que, meio século depois, continua sendo sinônimo de cor, estampas com grande carga gráfica e experimentação. Suas peças ―poéticas e livres― e seu estilo inédito chamaram a atenção da poderosa revista Elle, que, apenas um mês depois, dedicou-lhe uma capa e, com ela, deu o empurrão definitivo para sua carreira. Em 1974, abriu sua primeira loja na Place des Victoires parisiense, iniciando uma longa e frutífera relação com a França, que o nomeou Cavaleiro da Legião de Honra em 2016 e onde viveu até sua morte (especificamente, na rive gauche da capital).

Amigo de Andy Warhol e de Antonio López, Kenzo Takada ficou famoso no final dos anos setenta por seus desfiles excêntricos: em 1997, organizou um espetáculo de moda na discoteca nova-iorquina Studio 54, com Grace Jones como mestre de cerimônias e Jerry Hall caminhando na passarela com um cigarro na mão. Também é muito lembrado o desfile realizado sob uma tenda de circo: as modelos mostraram seus desenhos vanguardistas a cavalo, e no encerramento o estilista saudou o público montado em um elefante.

Ele dizia que sua maior influência era “o mundo em que vivia” e que a moda era como comer: “Você não deve se limitar a apenas um menu”.

Antes que a palavra diversidade estivesse na boca de todos, Kenzo Takada defendeu um casting de modelos multirraciais. Também foi um pioneiro no mundo dos negócios, lançando sua própria linha de perfumes em 1988, uma das mais fortes do setor atualmente.

Kenzo, em uma apresentação.
Kenzo, em uma apresentação.Bernard Cyrille/ABACA (GTRES)

Em 1993, o conglomerado de marcas de luxo LVMH ―proprietário da Dior, Louis Vuitton e Givenchy― adquiriu sua marca. Seis anos depois, Kenzo Takada se aposentou para se concentrar em seu lado artístico, embora tenha voltado há três anos ao design de tecidos, desta vez para casa, em uma colaboração com a empresa francesa Roche Bobois. “Vendi minha empresa porque o contexto era difícil: um dos meus três sócios morreu, o outro teve um problema de saúde, veio a crise econômica… Mas naquela ocasião não imaginei que seria privado do meu nome para sempre. Via vitrines onde aparecia Kenzo, mas não era eu. Foi um longo luto, mas agora lido bem com isso”, assinalou em uma entrevista concedida ao EL PAÍS há dois anos.

Sua empresa seguiu em frente e viveu um ressurgimento comercial quando os americanos Humberto León e Carol Lim ―fundadores da rede de lojas Open Ceremony― assumiram o controle da marca em 2011. No ano passado, o estilista português Felipe Oliveira Baptista foi nomeado diretor criativo da grife, que apresentou sua coleção mais recente na quarta-feira passada.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_