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Paul McCartney: “Fui o sujeito que destruiu os Beatles e o safado que processou seus companheiros”

Músico recorda os primórdios da famosa banda e os motivos reais que provocaram seu rompimento

Paul McCartney em um show em Londres, em dezembro de 2018.
Paul McCartney em um show em Londres, em dezembro de 2018.Jim Dyson (Getty Images)
Maite Nieto

Sir Paul McCartney, 78 anos, será sempre um dos Beatles, por mais que tenha ido além disso em seus 60 anos sobre os palcos. Seus hits depois do rompimento da mítica banda de Liverpool são tão incontestáveis que lhe permitem continuar na ativa sem que ninguém ouse questioná-lo ou sugerir uma aposentadoria. Mas os oito anos que compartilhou com John Lennon, Ringo Starr e George Harrison não são apenas parte da sua história pessoal, mas também um capítulo da história da música, aquele em que quatro amigos cabeludos (para os padrões da época) revolucionaram os cânones conhecidos e deram lugar a outro estilo e outra estética diante das plateias.

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Os Beatles continuam sendo hoje o grupo que mais emplacou músicas no topo das paradas britânicas, que mais discos vendeu nos Estados Unidos, e também o que reúne uma legião de fãs à espera que qualquer novidade que se possa saber sobre o grupo e seus componentes, 50 anos depois de terem se separado e seguido suas carreiras solo. Há muitos artistas que superaram os sete prêmios Grammy que eles obtiveram, mas poucos conservam a aura de revolução que os fez serem classificados em 2004 como os maiores artistas de todos os tempos, numa votação da revista Rolling Stone.

Apesar do confinamento, que Paul McCartney viveu em sua chácara de East Sussex junto a sua filha Mary (fotógrafa), seus netos, e Nancy Shevell – a empresária norte-americana que se tornou sua esposa em 2012 –, a vida e a música não pararam para ele. Em uma entrevista publicada pela revista GQ, conta que a quarentena teve início justo que ele voltava de férias, e que, embora saiba como tudo isto está sendo duro para famílias menos afortunadas, e especialmente para quem tem perdeu seres queridos, confessa que se sente afortunado. “Pude escrever, andei gravando usando géis desinfetantes para as mãos e com distanciamento social. E foi bom, porque eu não gosto de não trabalhar”, conta à publicação. Também afirma que ficou muito feliz de poder passar tanto tempo com sua esposa, sua filha Mary e os filhos dela, que “são ótimos”.

Confessa que não aprendeu muita coisa neste período: “Já conhecia o valor de minha família, e foi ótimo poder passar mais tempo com ela, mas isso não significa que queira fazer isso o tempo todo. Eu gosto de trabalhar também”. Tem muitos projetos: um filme de animação que a Netflix comprou, uma reedição especial do álbum Flaming Pie, o lançamento da edição limitada de seu primeiro álbum solo, McCartney, por ocasião de seu 50º aniversário, os preparativos finais do musical It’s a Wonderful Life, que ele passou os últimos três anos escrevendo..., e também tem muitas lembranças do grupo com o qual tudo começou: os Beatles.

Recentemente, voltou a ganhar atualidade nas redes sociais cenas gravadas há dois anos em Liverpool para o popular programa Carpool Karaoke, de James Corden. Nele, Paul atuava como guia turístico de Corden nessa cidade com tantos recantos inesquecíveis para o músico. O que não é tão sabido é que quando McCartney volta para lá gosta de dirigir seu próprio carro e fazer esse percurso nostálgico para outros amigos: “Aqui morava Julia, a mãe do John. Nesta rua, a minha primeira namorada. Aqui fizemos nosso primeiro show, no The Wilson Hall. Por esta rua caminhávamos com nossas guitarras. Esta é a igreja onde eu cantava no coro. Esta é a barbearia onde cortava o cabelo... Lembro de muitas coisas”, diz o cantor e compositor.

Durante anos, McCartney recusou-se a falar dos Beatles, mas faz tempo que se liberou dessas amarras, e também desde que voltou a ser amigo de seus ex-colegas. Agora se lembra de histórias que poderiam estar na cabeça de qualquer fã do quarteto de Liverpool. Morou ali durante 20 anos e ainda hoje reconhece que volta pelo menos um par de vezes ao ano à Lipa, como se chama agora sua antiga escola, para dar aulas de composição e para a formatura dos alunos, que neste ano teve que ser cancelada devido à pandemia.

“Amo esses rapazes”, afirma, referindo-se a John, Ringo e George, e também esclarece que teve muita sorte por ter resolvido suas diferenças com John antes de ele ser assassinado, em 1980. “Fomos amigos até o final”, conclui. John e Paul se conheceram esperando o ônibus para a escola – o mesmo que apanhava George no ponto seguinte. Ringo foi incorporado em Hamburgo, porque acharam que era um grande baterista. Afirma que no começo eram ruins, mas melhoraram com a prática, e que sempre tiveram em comum a música e muitas outras coisas relacionadas com a arte. Também recorda viagens de carona como George e momentos mágicos como aquele em que perguntou a John: “Qual é o seu hobbie? Eu gosto de escrever canções”, e Lennon foi o primeiro a lhe responder: “Puxa, eu também”.

Mas veio a separação, e McCartney se vê obrigado nesta entrevista a esclarecer o que acredita ser o maior erro difundido a seu respeito: “Suponho que quando os Beatles se separaram, existia a ideia errônea de que todos nos odiávamos”. Paul processou a banda porque seus assessores legais lhe disseram que não podia processar Allen Klein, que terminou por ser representante do grupo depois de Brian Epstein. McCartney não queria assinar contrato com ele, enquanto seus três colegas pareciam encantados, embora tenham afinal brigado com Klein anos depois. “Processar os Beatles foi horrível”, diz agora Paul à GQ. “Foram momentos terríveis, bebi muito e fiz muito de tudo. Foi uma loucura, mas sabia que era a única coisa que podia fazer, porque não havia outra maneira de preservar o trabalho duro de toda a minha vida, e podia vê-lo desaparecer em uma nuvem de fumaça. Era um maldito idiota”, afirma sobre Allen Klein.

“Fui o sujeito que destruiu os The Beatles e o safado que processou seus colegas. Era tão frequente ouvir isso que durante anos quase me culpei mesmo”, relata. Saiu daquela depressão e da espiral de álcool em que entrou, tocou sua vida e sua fama, continuou sendo exigente consigo mesmo. Mas reconhece que não sabe gostaria de, nesta época de redes sociais, voltar a ser tão famoso como já foi.

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