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Direção do ‘Oscar francês’ se demite após críticas por indicação de Polanski e falta de paridade de gênero

Decisão da cúpula do César ocorre a duas semanas da maior premiação do cinema da França, em que novo filme do diretor acusado de estupro recebeu 12 indicações

Manifestação em Paris contra Roman Polanski, depois do anúncio das 12 indicações do seu filme aos prêmios César, em novembro de 2019.
Manifestação em Paris contra Roman Polanski, depois do anúncio das 12 indicações do seu filme aos prêmios César, em novembro de 2019.CHRISTOPHE ARCHAMBAULT AFP
Silvia Ayuso

Os alicerces do cinema francês foram abalados a poucos dias da sua festa mais importante, a cerimônia de entrega do prêmio César. A direção da Academia do Cinema que concede a premiação anunciou nesta quinta-feira sua “demissão coletiva”, poucos dias depois de centenas de atores e escritores criticarem duramente a instituição por uma “opacidade” e falta de paridade de gênero que teriam levado a decisões incompreensíveis tanto para os círculos artísticos como para a sociedade francesa.

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“Para honrar aquelas a e aqueles que fizeram o cinema em 2019, para recuperar a serenidade e fazer que a festa do cinema continue sendo uma festa, o Conselho de Administração para a Promoção do Cinema (a Academia das Artes e Técnicas do Cinema) tomou a decisão unânime de se demitir”, informou a Academia em um breve comunicado. A decisão deverá “permitir proceder à renovação completa da direção”, acrescenta a nota oficial.

O anúncio ocorre a apenas 15 dias da cerimônia de entrega dos prêmios, o Oscar do cinema francês —evento que já estava ameaçado pelos protestos de grupos feministas que criticaram duramente a decisão da Academia de dar 12 indicações a J’Accuse, novo filme de Roman Polanski, apesar das novas acusações de estupro contra o diretor franco-polonês. A essas ameaças se somaram nesta semana às duras críticas em um artigo publicado na segunda-feira no Le Monde por 200 atores e realizadores —uma lista de adesões que já duplicou desde então— exigindo uma “reforma aprofundada” no comando da Academia, acusada de agir sem clareza em suas contas e procedimentos e de absoluta falta de paridade em todos os seus níveis. A gota-d’água foi a decisão da Academia de vetar duas mulheres consagradas, a escritora e cineasta Virginie Despentes e a diretora Claire Denis, como madrinhas do tradicional Jantar das Revelações, realizado antes da cerimônia aos jovens atores e atrizes revelações que aspiram a um dos cobiçados troféus.

No artigo, os signatários afirmam que a Academia funciona de forma “opaca” e mediante um sistema “elitista e fechado”, que resulta numa estrutura em que “a maioria de seus membros não se reconhece nas decisões tomadas em seu nome e que não reflete a vitalidade do cinema francês atual”. Atores como Bérénice Bejo, Chiara Mastroianni e Omar Sy e realizadores como Michel Hazanavicius, Bertrand Tavernier e Céline Sciamma assinam a carta.

Como não deram resultado nem o pedido de “calma” feito pela Academia depois do artigo nem as promessas de aumentar presença feminina na instituição de forma gradual, mas substancial, a cúpula da Academia tomou agora a decisão mais drástica de renunciar por inteiro.

A dúvida é se isso bastará para acalmar os protestos previstos durante a 45ª edição do César, em 28 de fevereiro. De fato, em seu comunicado, a Academia deixa claro que a Assembleia Geral para “escolher uma nova direção” só ocorrerá depois de cerimônia, e que só então, também, poderão começar a ser implementadas as mudanças prometidas.

O presidente da Academia, Alain Terzian, disse que já começou a trabalhar por “uma revolução cultural para conseguir a paridade” entre os gêneros na instituição. Atualmente, só 8 dos 47 membros da sua Assembleia Geral são mulheres, também minimamente representadas —6 de 21— em seu Conselho de Administração. A falta de mulheres é generalizada na Academia, cujos membros, encarregados de indicar e votar nos melhores filmes do ano, são compostos por uma maioria esmagadora (65%) de homens.

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