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‘Indústria Americana’ bate ‘Democracia em Vertigem’ e leva Oscar de Melhor Documentário

Longa de Petra Costa perde para o longa produzido pela Netflix e pelo casal Obama

Cena do documentário 'Indústria Americana'. No vídeo, resumo da cerimônia. Vídeo: Reuters

Não foi desta vez. Indústria Americana (American Factory) levou o Oscar de Melhor Documentário, batendo Democracia em Vertigem, de Petra Costa, neste domingo. A crise democrática do Brasil ―ou a versão da diretora, como criticado por muitos no Brasil― e o turbilhão político dos últimos anos retratados no filme brasileiro também concorreu com outra obras muito bem avaliadas, como Honeyland, The cave e For Sama. Antes da premiação, Costa postou no Instagram: “Essa nomeação já é uma vitória e é de todos nós, brasileiros”.

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O longa, que estreou na Netflix em 19 de junho, mostra o agitado mar dos últimos anos da pós-redemocratização brasileira, cujo ato central é o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016 —e a despedida do Partido dos Trabalhadores (PT) do poder, lugar que a sigla de Luiz Inácio Lula da Silva ocupava havia 13 anos— e que culminou na eleição do ultradireitista Jair Bolsonaro em 2018.

Em Democracia em vertigem, Costa constrói uma narrativa com uma sequência de fatos organizados para além dos fragmentos dos jornais, como contou Talita Bedinelli, e cujos elementos se aproximam até dos gêneros da ficção: há vilões, mocinhos, traidores e muitas reviravoltas. Além de capturar o retrato do Brasil do impeachment, a cineasta mergulha em fatos políticos do passado para entender como o país chegou até seu momento atual. Essa análise começa nos anos 1970, com a transformação de um país que ainda lutava para desvencilhar-se de uma ditadura militar sangrenta, enquanto alçava à liderança política um metalúrgico sindicalista, Lula, que 30 anos mais tarde se tornaria presidente.

Com sua já característica maneira de dirigir, Costa torna-se também protagonista do documentário —como já havia feito em Elenaao contar as mudanças advindas das políticas sociais do PT, os erros do partido em sua relação com o Congresso e com as bases nas ruas e a eleição de Rousseff, uma “candidata por acaso”, passando pelos protestos que tomaram as principais cidades brasileiras entre 2013 e 2016 e pela Operação Lava Jato. Em meio à vertigem de acontecimentos, aparecem também personagens coadjuvantes, como Eduardo Cunha, o presidente da Câmara que autorizou o processo de impeachment e, meses depois, acabou preso por corrupção, e Michel Temer.

Antes de chegar ao Oscar, Democracia em vertigem já havia sido aclamado em Sundance, em janeiro de 2019, quando abriu o festival e foi ovacionado pelo público. Para a audiência estrangeira, o documentário tornou-se uma espécie de espelho do contexto político contemporâneo global, com a extrema direita ganhando terreno mesmo em democracias consolidadas, na era das fake news e do Brexit. Em dezembro, o documentário foi incluído na lista de melhores filmes do ano do The New York Times. “Análise cuidadosa dos eventos que levaram à eleição de Jair Bolsonaro, o presidente populista do Brasil, este documentário angustiante é o filme mais assustador do ano”, definiu o jornal norte-americano.


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