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A homenagem de Natalie Portman às diretoras ignoradas pelo Oscar e outros destaques da cerimônia

O discurso de Joaquin Phoenix, a homenagem de Bong Joon-ho a Scorsese, super-heroínas e apresentações musicais estão também entre os grandes momentos da noite de gala

Joaquin Phoenix com seu Oscar de melhor ator principal.
Joaquin Phoenix com seu Oscar de melhor ator principal.ETIENNE LAURENT (EFE)
Tommaso Koch

O vencedor e seu mestre

Depois de ganhar o prêmio de melhor filme em língua estrangeira, o diretor de Parasita, Bong Joon-ho, achou que poderia relaxar e beber até o amanhecer. E com ele sua tradutora, Sharon Choi, que já o havia acompanhado duas vezes ao palco da cerimônia do Oscar 2020. Mas os acadêmicos tinham outros planos: o prêmio de melhor direção também foi para Bong. Assim, o sul-coreano voltou ao microfone, junto com Choi. E lembrou-se, acima de tudo, dos outros indicados em sua categoria. “Quando eu era jovem, estudei o cinema e os filmes de Martin Scorsese”, disse ele. Motivou assim uma ovação maciça ao veterano cineasta, com o público de pé. “Quando as pessoas nos EUA não conheciam meus filmes, Quentin Tarantino os colocou nas suas listas”, acrescentou Bong. Afirmou que queria compartilhar seu Oscar com eles, e também com Sam Mendes e Todd Phillips. E concluiu: “Agora sim vou beber até amanhã”. Na verdade, teve que esperar um pouco mais: o Oscar de melhor filme também foi de Parasita.

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Joaquin Phoenix se acostumou a colecionar prêmios. E a proferir discursos vingativos. O Oscar voltou a recompensá-lo como melhor ator principal, por Coringa, e a colocá-lo diante de um microfone. “Não me sinto acima de nenhum colega de profissão, nem de nenhum dos presentes. Compartilhamos o amor pelo cinema. E acho que um dos principais presentes que ele nos dá é a possibilidade de usar nossa voz. Tenho pensado muito nas questões tão incômodas que enfrentamos constantemente. Às vezes, podemos pensar que somos defensores de certas causas, mas vejo aspectos comuns: seja ao falar de desigualdade de gênero, direitos LGBTI, povos indígenas ou animais, estamos falando sobre a luta contra a injustiça”, refletiu. “Nós nos desconectamos muito do mundo natural e estamos imersos em um mundo egocêntrico”, prosseguiu Phoenix. Para o ator, os humanos temem a mudança porque acreditam que ela envolve sacrifícios e renúncias. “Quando usamos o amor e a compaixão como princípios norteadores, podemos criar sistemas de mudança para o ambiente”, acrescentou. Finalmente, o ator agradeceu a todos os que suportaram a “dificuldade” que é lidar com ele e lhe deram uma segunda chance. E lembrou: “Quando eu tinha 17 anos, meu irmão escreveu esta carta: ‘Corra ao resgate com amor, e a paz virá depois’”.

A lembrança de ontem e de Kirk Douglas

Billie Eilish começou a cantar Yesterday. E na tela apareceu Kobe Bryant. Em seguida, o tradicional in memoriam homenageou Agnès Varda, Anna Karina, Peter Mayhew, Doris Day, Terry Jones, Franco Zeffirelli e Peter Fonda, entre outros. E, no final, a cerimônia se rendeu à lenda: Kirk Douglas, que morreu poucos dias atrás. A canção terminou devagar. Ficou para sempre a lembrança.

“Somos todos super-heroínas”

De um lado, a Capitã Marvel; do outro, Mulher-Maravilha. E, no centro, Ellen Ripley. Foi ela, o mito, que finalmente se encarregou de dizer alto e bom som. "Todas as mulheres são super-heroínas", declarou Sigourney Weaver sobre o palco do Oscar, antes de apresentar o prêmio de melhor trilha musical. Ao lado dela, Brie Larson e Gal Gadot sorriam. E, na plateia, todos aplaudiram.

Aplausos para começar

Na falta de um apresentador, a cerimônia começou com uma apresentação musical de Janelle Monáe. E com sucesso. A artista começou cantando A Beautiful Day in the Neighbourhood, e então começou a mencionar, em música e letra, os atores e filmes indicados — e até outros, como Midsommar e Nós, que não haviam sido — e lamentou a falta de inclusão. Tudo com um ritmo contagiante, enquanto não parava de dançar e a chamar Tom Hanks, Brad Pitt, Leonardo DiCaprio, Brie Larson e outras estrelas para participarem do seu show. Também homenageou “todas as mulheres que dirigiram filmes fenomenais” e lembrou: "Tenho muito orgulho de estar aqui como uma artista queer e negra contando histórias. Feliz mês da história negra!” Houve 20 segundos de ovação. Um começo notável.

Cynthia Erivo continua a resistir

A canção convida a se levantar. E, no final, todos fizeram isso. Cynthia Erivo, indicada a melhor atriz principal por Harriet, apresentou uma emotiva interpretação de Stand Up, canção principal do filme, que lhe rendeu uma segunda indicação ao Oscar neste ano. "Não me importo de perder meu sangue no caminho da salvação / lutarei com a força que tenho até morrer / levarei meu povo a um novo lar / você consegue ouvir a liberdade nos chamando?”, cantou Erivo. "Vou me levantar / vou continuar a resistir / Noto nos meus ossos / Pode ser difícil de encarar porque estou sozinha / Posso até falhar, / Mas Deus sabe que tentei / Contanto que as estrelas enchem o céu”, prosseguiu a artista. Sua performance foi a mais celebrada da festa.

O casaco das diretoras

O Oscar não indicou nenhuma. Então Natalie Portman decidiu, pelo menos, citar todas elas. A atriz usou no tapete vermelho um casaco no qual costurara os sobrenomes das autoras de alguns dos filmes mais aplaudidos do ano, todos ignorados nas indicações ao prêmio de melhor direção: Greta Gerwig (Mulherzinhas), Elsa Amiel (Pearl), Mati Diop (Atlantique), Marielle Heller (Um Lindo Dia na Vizinhança), Celine Sciamma (Retrato de uma Jovem em Chamas), Melina Matsoukas (Queen & Slim), Lulu Wang (A Despedida) e Lorene Scafaria (As Golpistas).

Eminem, 17 anos depois

Em 2003, Eminem ganhou o Oscar de melhor canção por Lose Yourself, do filme de 8 Mile, com Jeff Bass e Luis Resto. Mas só o último foi à cerimônia e recebeu o prêmio. Não houve, portanto, apresentação do rapper, que mais tarde admitiu ter ficado “dormindo” em casa naquela noite. "Senti que não tinha chance de ganhar porque, quando soube que ele havia sido indicado, achei que era algo para atores", disse o músico, que também protestou contra o desprezo que, segundo ele, o rap sofria em cerimônias de premiação. De qualquer forma, 17 anos depois Eminem e a Academia de Hollywood se reconciliaram: o rapper apareceu de surpresa e finalmente cantou Lose Yourself na cerimônia, pondo a plateia de pé. Foi também uma promoção estupenda para Eminem, que acaba de lançar seu novo álbum, Music to Be Murdered By. Embora nas redes sociais alguns também tenham notado a expressão pouco convicta de Martin Scorsese e Billie Eilish.

‘Frozen 2’ fala todas as línguas

Toda as Elsas, ou quase. Frozen 2 foi traduzido para mais de 40 idiomas, mas sobre o palco do Oscar foram ouvidas apenas 10 versões de Into the Unknown, a canção principal do filme. Inglês, dinamarquês, alemão, russo, polonês, norueguês, japonês, tailandês e, em dose dupla, espanhol: porque a tela mostrou como “castelhano” quando cantava a espanhola Gisela, e "espanhol" quando foi a vez da mexicana Carmen Sarahí García Saenz.

Gatos fracassados

Cats não recebeu nenhuma indicação ao Oscar. Aliás, não esteve em praticamente nenhuma premiação neste ano. E, no entanto, quase todas as cerimônias riram desse filme. Cats corre o risco de virar um daqueles cults adorados justamente por serem tão ruins, e o Oscar também queria colocar o dedo nessa ferida. “Como membros do filme Cats, ninguém entende melhor do que nós a importância dos efeitos visuais”, disseram James Corden e Rebel Wilson, disfarçados de felinos, antes de entregar o prêmio dessa categoria.

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