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A Ascensão Skywalker

J. J. Abrams: “Não podemos esquecer que ‘Star Wars’ é para crianças”

Diretor de ‘A Ascensão Skywalker’ reflete sobre o desafio de fazer um final satisfatório para uma saga de 42 anos

O diretor J.J. Abrams com dois soldados imperiais em um evento de ‘Star Wars’ em Tóquio, no dia 11 de dezembro. No vídeo, o trailer oficial do filme. Foto: GETTY IMAGES PARA DISNEY | Vídeo: CHRISTOPHER JUE
Pablo Ximénez de Sandoval

Em meados de 2017 o diretor J. J. Abrams (Nova York, 53 anos) aceitou um daqueles desafios que apareceriam no primeiro parágrafo de qualquer biografia: fazer um final para Star Wars. Depois de vários conflitos na produção, Abrams tomou as rédeas do projeto. Como aconteceu em 2015 com o episódio VII, O Despertar da Força, o resultado deve satisfazer três gerações diferentes de fãs do melhor novelão de fantasia da história do cinema. Quando Abrams se sentou para conversar com o EL PAÍS, faltavam semanas para a estreia de Star Wars – Episódio IX: A Ascensão de Skywalker. Até a próxima quinta-feira, quando o filme estreia oficialmente, muito poucos saberão como a saga terminará. Portanto, esta é uma entrevista em que o entrevistado não pode dizer nada sobre o filme. Felizmente, Star Wars é muito mais que um filme.

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“O objetivo desta trilogia e, claro, deste filme, é dar uma conclusão épica e emocionante a algo que George Lucas iniciou tão brilhantemente há quatro décadas”, começa Abrams. “Quando começamos a trabalhar no Episódio VII [em 2013], ele se propunha a ser principalmente uma continuação do acontecido do primeiro ao sexto, e como o início de uma nova trilogia”. Desta vez é diferente. “O Episódio IX tem de funcionar por si só e ao mesmo tempo como final dos três filmes. Precisa de começo, meio e fim próprios. Você não pode se apoiar em nada, não pode assumir que ninguém se importa com nenhum personagem. Mas nosso objetivo é contar uma história que, espero, seja enormemente satisfatória no aspecto emocional.”

“Sabíamos como seria o fim, o verdadeiro fim, muito no início do desenvolvimento da história”, diz Abrams. Mas até a chegada da encomenda do último filme ele não o revelou. “Quando começamos a trabalhar no Episódio VII, tínhamos um plano geral. Eu estaria mentindo se dissesse que sabia tudo, mas tinha uma ideia de para onde ia. Aprendi com George Lucas quando era jovem que você deve ter um plano. E quando tem uma ideia melhor, essa ideia se torna o plano. Tenho o pôster com o título A Vingança do Jedi, que mais tarde foi alterado para O Retorno de Jedi (1983). George nos disse desde o início que não acontece nada se você muda de ideia e decide fazer outra coisa”.

J. J. Abrams tinha 10 anos quando o primeiro filme da série, depois chamado de Uma Nova Esperança, estreou (1977). Uma geração inteira pode se identificar com o impacto que teve em sua imaginação e em seu amor pelos filmes. “Isso me transformou.” Era um mundo em que os filmes só podiam ser vistos durante certo tempo no cinema e depois você tinha de viver com essa memória e nada mais. O marketing ajudou a reviver a história nos quartos das crianças, mas nada comparado à experiência que um garoto de 10 anos pode ter hoje, pois pode assistir a esses filmes quantas vezes quiser ou mergulhar durante horas no espetacular cenário de Star Wars nos parques da Disney. “É diferente, sem dúvida. Mas o que torna Star Wars tão poderoso, independentemente da forma que possua, um brinquedo, um parque de diversões, um filme ou uma série é algo que está na ideia do bem contra o mal, na ideia de uma pessoa comum que é fundamental para derrubar algo que parece intransponível, na luta contra a opressão e pela liberdade, pela amizade... Entende? Está no coração da história.”

O Episódio IX terá de agradar a dois tipos de público. Aqueles que o veem como o fim de uma saga que começaram a ver há quatro décadas e as crianças que se lembrarão desse filme por toda a vida. “Você tem de combinar. Assim que você decide que um filme é para este ou aquele grupo, é perigoso. Não podemos esquecer que Star Wars é para crianças. Mas isso não significa que você tenha de contar de maneira condescendente e simplista. Hoje as crianças estão expostas a estímulos que, em muitos casos, não deveriam. Como resultado, há muita ansiedade. As crianças sofrem com a vida normal. Penso que nas histórias buscamos uma ordem das coisas. Em Star Wars, é o bem contra o mal, a moralidade, a humanidade, o humor. É preciso aceitar esse otimismo que existe nas histórias que você não pode esquecer, seja você criança ou a criança que existe no homem de 50 anos.”

O que torna Star Wars tão poderoso é algo que está na ideia do bem contra o mal, na ideia de uma pessoa comum que é fundamental para derrubar algo que parece intransponível, na luta contra a opressão e pela liberdade, pela amizade... Entende? Está no coração da história

Com o nível de escrutínio público que terá um acontecimento cinematográfico como o final, o verdadeiro final da saga Star Wars, Abrams decide colocar tapar os olhos diante das críticas. “Vivemos um tempo de opiniões divisórias, corrosivas e geralmente anônimas. Uma das coisas de que mais gostava em Star Wars quando era criança é o fato de que unia as pessoas. Parece que sempre que sai um filme da Star Wars ou da Marvel, tem gente que fica hiperbolicamente chateada com algo. Estamos nisso para entreter e inspirar com a história. Se o preço de me envolver nisso é que existam essas vozes, então está ótimo.”

Não é segredo que a Disney, ao mesmo tempo em que coloca um fim na saga principal, está buscando maneiras de transformar o mundo criado por Lucas em uma espécie de gênero em si mesmo, onde outras histórias se encaixem. O exemplo é a série The Mandalorian. Abrams não se compromete sobre se haverá mais material de Star Wars. “Essa é uma pergunta para Kathy Kennedy [CEO da Lucasfilm]”, se desculpa. “Pessoalmente, quero encerrar o filme da melhor maneira possível e estou ansioso para ver o que virá depois.”

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